Por dentro de uma cidade inteligente
Copenhague está na vanguarda de uma corrida global para usar a iluminação pública como a espinha dorsal de uma vasta rede sensorial capaz de coordenar uma série de funções e serviços
Copenhague, Dinamarca – Em uma rua movimentada no centro da cidade, uma série de luzes verdes embutidas na ciclovia – a "Onda Verde" – pisca, ajudando os ciclistas a evitar os faróis vermelhos.
Na principal via de acesso à cidade, os caminhoneiros conseguem ver nos smartphones quando o farol irá fechar. E, em um subúrbio vizinho, a nova iluminação pública de LED (diodo emissor de luz) acende somente quando os veículos se aproximam, escurecendo logo depois que passam.
Visando economizar, reduzir a utilização dos combustíveis fósseis e facilitar a locomoção, as instalações fazem parte de uma crescente rede sem fio e de sensores da iluminação pública que as autoridades esperam que ajudem a cidade, de aproximadamente um milhão e duzentos mil habitantes, a cumprir a sua meta ambiciosa de se tornar a primeira capital do mundo neutra em carbono por volta de 2025.
Em um segundo momento, a rede servirá para outras funções, como avisar ao departamento sanitário que é preciso esvaziar as latas de lixo e informar os ciclistas sobre as rotas mais livres e mais rápidas para os seus destinos. Tudo isso é possível graças a uma rede de sensores embutidos nas luminárias que coletam e levam os dados a um software.
O sistema, ainda nos seus estágios iniciais, colocou Copenhague na vanguarda de uma corrida global para usar a iluminação pública como a espinha dorsal de uma vasta rede sensorial capaz de coordenar uma série de funções e serviços: quer seja facilitar o descongestionamento, melhor prever onde colocar sal antes de uma tempestade de neve ou, para a preocupação dos defensores da privacidade, captar o comportamento suspeito em uma esquina movimentada.
A previsão é de que, nos próximos três anos, cidades de todo o mundo substituam 50 milhões de luminárias antigas, cerca da metade das existentes na Europa, por lâmpadas de LED. Algumas pessoas estão interessadas principalmente na substituição das tecnologias antiquadas pelas que utilizam menos energia e que podem durar décadas. Porém, muitas outras querem aproveitar integralmente a tecnologia dos LEDs, que são mais propícias à comunicação sem fio do que os outros tipos de iluminação.
Los Angeles, por exemplo, quase já completou a migração da iluminação pública para as lâmpadas de LED e está usando os sensores embutidos nas calçadas para a detecção de congestionamentos e sincronização dos sinais.
E outras cidades estão avançando, agora que centenas de programas pilotos e dezenas de instalações em larga escala envolvendo LEDs controlados pela rede estão em andamento.
"A tecnologia aumentou. Muitos agentes estão se envolvendo no controle da rede, e os números realmente cresceram a partir daí", disse Jesse Foote, analista do setor de iluminação da Navigant, empresa de pesquisa e de consultoria. Observando a demanda, as empresas de tecnologia e de software estão lutando para atender o mercado.
"É agora ou nunca. Se você perder a oportunidade, serão necessários outros 20 anos", disse Munish Khetrapal, que ajuda a liderar as chamadas campanhas da cidade inteligente na Cisco Systems.
As cidades estão em uma corrida para aplicar tecnologia inteligente
A Cisco, que vem desenvolvendo aplicações para cidades inteligentes, está trabalhando com mais de 100 municípios, segundo Khetrapal. Em novembro, a empresa fechou uma parceria com a Sensity Systems, que cria redes avançadas para ajudar a conectar e a coordenar o trabalho de agências muito diferentes em cidades tão diversas quanto Chicago, nos EUA, Bangalore, na Índia, e Barcelona, na Espanha.
A IBM e a Philips também estão desenvolvendo projetos de cidades inteligentes ao lado de empresas menos conhecidas como a Silver Spring Networks, que oferece plataformas de rede, software e serviços de infraestrutura crítica para concessionárias e cidades, e está ajudando a projetar e a operar o trânsito e o projeto de iluminação pública daqui de Copenhague.
Apesar de toda a atividade, ninguém criou uma rede completamente integrada ainda, segundo Hugh Martin, o diretor executivo da Sensity. Mas ela está chegando, afirmam os executivos e as autoridades, porque os gestores urbanos estão ansiosos pela melhoria dos serviços e, ao mesmo tempo, pela economia de dinheiro e de energia.
"As cidades estão numa corrida de implantação da tecnologia inteligente, e, no ramo de construção de uma plataforma, a quantidade de nós existentes é muito importante", disse Martin, referindo-se às luzes e aos sensores individuais capazes de se conectar com uma rede maior. "É uma tomada de território".
Essa dinâmica fica evidente nessa cidade agitada, mas ordenada, onde o governo está buscando melhorias na eficiência e na redução das emissões de carbono, e as empresas responderam ao chamado. Por exemplo, em Albertslund, na Dinamarca – região suburbana – 25 empresas estão participando do Laboratório Dinamarquês de Iluminação Pública, um projeto de demonstração para testar e exibir cerca de 50 sistemas diferentes de iluminação pública em rede.
O projeto, organizado por uma ONG chamada Gate 21, e em colaboração com a Universidade Técnica da Dinamarca e com o Município de Albertslund, instalou uma matriz de lâmpadas ao longo de ruas e ciclovias que os técnicos conseguem controlar e monitorar.
No centro da cidade, os agentes de trânsito testam uma série de procedimentos, inclusive um que visa impedir que os caminhões parem enquanto trafegam pelas principais vias, o que economizaria combustível. Em uma manhã recente, Lennart Jorgensen, motorista urbano de longa data, reduzia e acelerava seu caminhão enquanto ficava de olho nos faróis seguintes e nos gráficos do seu smartphone que indicavam em quanto tempo o farol fecharia ou abriria.
"É bem inteligente", ele comentou sobre o sistema, acrescentando que ele não precisava usar frequentemente a função que permite que os motoristas enviem um sinal de prioridade nos cruzamentos. "É muito caro arrancar o caminhão – ele usa diesel."
A cidade também está testando sistemas que dão prioridade aos ônibus ou as bicicletas nos cruzamentos durante certas horas e já instalou outro que alerta sobre a presença de ciclistas aos caminhoneiros em uma faixa com curva à direita.
PREOCUPAÇÕES
Contudo, a adoção das redes também levantou preocupações, particularmente por parte dos defensores da privacidade, que afirmam que o potencial para o mau uso é alto. A disponibilidade e alcance das redes aumentam o risco de que o monitoramento – por exemplo, a movimentação dos pedestres em uma rua – possa ultrapassar o limite no rastreamento das ações de um indivíduo, afirmam os opositores.
Até agora, no entanto, nessa cidade onde o crime é relativamente baixo, os moradores expressaram pouca preocupação de que o governo monitore o comportamento. E, como a bicicleta já é o meio de transporte predileto de quase metade da população, a ênfase na melhoria do ciclismo é bem recebida.
Por exemplo, Bjorn Klüver, de 33 anos, abriu mão do carro – pelo menos até o tempo virar – preferindo uma bicicleta elétrica para fazer a viagem de 26 quilômetros de ida e volta do trabalho. Ele também pegou um dos rastreadores de GPS que um dia os trabalhadores do transporte estavam distribuindo na esperança de ajudar o sistema de modernização da cidade.
Ele disse não ter nenhuma preocupação com o crescente uso de sensores em geral ou com a etiqueta em sua bicicleta, que comprou após participar do programa piloto da Gate 21, pois não precisou oferecer nenhuma informação pessoal.
"Basicamente, minha ajuda é fornecer informações sobre meus horários de viagem. Tudo o que eles sabem é a localização da bicicleta", ele disse.
Outros também elogiaram os esforços, especialmente a onda verde, que outras cidades, incluindo San Francisco e Amsterdã, também adotaram.
Copenhagen está atualizando a onda verde para atender às necessidades do ciclismo, bem como desenvolvendo aplicativos para smartphones e um sistema que pode dar a grupos de cinco ou mais ciclistas a preferência nos cruzamentos.
"Se você alcançar o farol verde, consegue manter a sua velocidade", declarou o enfermeiro Claus Deichgraeber, de 30 anos, em uma tarde perto do mercado Torvehallerne. Embora ele tenha a tendência de ir trabalhar de ônibus – "Consigo encontrar certa paz interior, colocar os fones de ouvido e simplesmente relaxar" – ele também frequentemente utiliza a sua bicicleta.
Contudo, diferente de muitos outros moradores daqui, ele informa que utiliza um capacete. "No meu trabalho, já vi o que os acidentes de trânsito fazem com as pessoas."