Perdas do varejo chegam a R$ 27,7 bilhões em um ano

Um levantamento do Ibevar revela que o mercado brasileiro registrou o maior volume de furtos e desperdício desde 2002

Fátima Fernandes
04/Fev/2015
  • btn-whatsapp
Perdas do varejo chegam a R$ 27,7 bilhões em um ano

Surge mais um desafio para os lojistas em um ano de projeções pessimistas para a economia. As perdas do varejo brasileiro decorrentes, principalmente, de furtos e problemas com operação e logística atingiram 2,31% do faturamento líquido das empresas. Este é o maior percentual já registrado desde 2002, segundo estudo divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR).

O índice se refere às perdas ocorridas em 2013 e representa um salto em relação à pesquisa do ano anterior, quando o indicador marcou 1,82%. O varejo brasileiro, com exceção de carros, autopeças e combustíveis, perdeu R$ 27,7 bilhões em 2013. Até então, o maior índice havia sido registrado em 2008, de 2,05%.

As perdas registradas no mercado brasileiro estão entre as maiores do planeta. A média mundial aponta o índice relativo a  1,36% do faturamento líquido das empresas. Nos países da América Latina, chega a 1,6%; e, na América do Norte, 1,49%. 

Se o índice de perda do comércio brasileiro fosse similar ao da América do Norte, por exemplo, os lojistas teriam deixado de perder R$ 10 bilhões em um ano, segundo cálculos de Cláudio Felisoni, presidente do Provar (Programa de Varejo), da USP, e do Ibevar.

"Este é um dado preocupante, particularmente neste momento em que as margens das lojas já estão apertadas por conta de retração da atividade econômica. Os lojistas precisam ficar mais atentos”, afirma.

O levantamento do IBEVAR foi conduzido em cerca de 2,1 mil lojas, principalmente dos segmentos de supermercados, farmácias e material de construção. Cerca de 230 micro e pequenos varejistas com pontos de venda nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do país também participaram da pesquisa.

Considerando apenas os supermercados, as perdas atingiram um índice ainda maior, de 2,52%, em 2013, segundo estudo elaborado pela Abras (Associação Brasileira dos Supermercados), em parceria com Provar, Ibevar e Nielsen. Em relação ao faturamento líquido do setor, a perda foi de R$ 5,3 bilhões.

Por que as perdas do varejo brasileiro são tão grandes e o que fazer para reduzi-las?

Para Felisoni, falta treinamento de pessoas envolvidas em todo o processo de distribuição do comércio e de tecnologias capazes de evitar que os produtos sejam furtados ou quebrem ou estraguem antes de chegar (ou mesmo quando já estão) aos pontos de venda.

Nelson Barrizzelli, consultor de varejo, lembra ainda que, nos casos dos supermercados, as perdas ocorrem também porque consumidores e funcionários comem produtos dentro das lojas sem pagar. E, no caso do varejo de roupas, porque as mercadorias que sobram nas prateleiras acabam sendo vendidas a preços abaixo de custo.

O consultor, bem familiarizado com o varejo americano, entende que nos Estados Unidos há leis mais agressivas em relação a furtos.

“Nos Estados Unidos, se um cliente faz isso, é preso. Aqui no Brasil, somos lenientes. Se alguém é flagrado furtando um alimento, o lojista tem de tratar a questão com cuidado por conta de leis de direitos humanos. Nossa legislação é muito branda nesses casos, o que acaba favorecendo a prática de delitos”, diz Barrizzelli

O fato é que as perdas do varejo ainda não entraram na pauta de discussão dos lojistas, principalmente no caso dos pequenos e médios. É por isso que o índice supera muito o de outros países, na avaliação de Gustavo Carrer, consultor especializado em varejo do Sebrae.

“É tão importante para uma loja reduzir perdas como aumentar o faturamento. Se uma peça que gera 10% de lucro líquido é furtada, o varejista precisa comercializar dez outras peças equivalentes para cobrir o prejuízo”, diz Carrer.

Aqui estão algumas recomendações do consultor:

•    Controlar os estoques com maior frequência
•    Prestar mais atenção na entrada de mercadorias, trocas de produtos e fluxo do caixa
•    Identificar áreas de vendas (pontos cegos) com possibilidades de furtos
•    Utilizar equipamentos para prevenção de furtos, como espelhos, câmeras e sistema de alarme, com peças etiquetadas, no caso de roupas, e antenas de radiofrequência na entrada das lojas
•    Treinar funcionários para que saibam utilizar os equipamentos de prevenção e também identificar comportamentos suspeitos
•    Fazer campanhas de incentivos (prêmios) entre os funcionários, estabelecendo metas para a redução de índice de perdas
•    Envolver a equipe com o negócio

Equipar as lojas com sistemas de alarmes não é uma providência restrita ao varejo brasileiro. No exterior, e também nos países desenvolvidos, na Europa e nos Estados Unidos, o varejo utiliza os mais modernos métodos para evitar a qualquer custo o sumiço de produtos.

“Estive em Colônia e Dusseldorf, na Alemanha, com especialistas ligados à prevenção de perdas e o que observamos é que, nestas duas cidades, as lojas estão muitíssimo equipadas para prevenção contra furtos e roubos. Não existe uma loja de rua que não tenha antena e dispositivos de alarmes”, diz.

Conclusão: provavelmente, o índice de perdas do varejo na Europa pode ser menor do que o do Brasil porque os lojistas coíbem de forma mais intensa o furto no mercado europeu.

CARTILHA DO SEBRAE PARA EVITAR PERDAS

Recebimento das mercadorias

O recebimento de mercadorias é um momento de grande exposição a perdas. Pode haver a possibilidade de falhas na conferência e conciliação das quantidades e tipos de produto que de fato estão dando entrada no estoque com o que consta na nota fiscal e são entregues pelo fornecedor. Além disso, a presença de terceiros (entregadores) na área de estoque da loja oferece oportunidade para furtos ou quebras na movimentação de cargas. Recomendação: a conferência das mercadorias deve ocorrer em local separado do armazenamento, e qualquer movimentação de produtos deve ocorrer somente com a presença de pessoal da loja, treinado para essa tarefa.

Armazenagem das mercadorias

Após o correto recebimento e registro dos produtos no sistema de controle de estoque, a preocupação com as perdas passa a ser a sua adequada armazenagem. Recomendação: a área de estoque deve ser muito organizada, limpa e bem iluminada, para facilitar o acesso durante a reposição dos produtos na loja. Estoque desorganizado é fonte potencial de furtos e de “falsas” rupturas, ou seja, o produto está no estoque, porém no momento da venda não foi encontrado, podendo inclusive perder o prazo de validade, dependendo do produto.

Trocas e devoluções

Apesar de corriqueiras e comuns a todos os tipos de comércio, as trocas e devoluções de mercadorias também constituem fonte de perdas. A mercadoria devolvida ou oriunda de trocas, mesmo quando em perfeito estado de conservação, pode ser uma potencial perda se não der entrada novamente nos estoques da loja. Recomendação: a loja deve possuir uma rotina eficaz e supervisionada de trocas e devoluções de maneira a garantir primeiro que seja cumprida a política comercial de relacionamento com os clientes, e em seguida que a mercadoria seja reconduzida corretamente para os estoques da loja ou devolvida aos fornecedores, conforme o caso.

Inventários

O principal e mais importante elemento na previsão de perdas no varejo é a realização sistemática do inventário de mercadorias. Recomendação: a contagem frequente dos estoques de produtos é a forma correta de identificar a origem e a natureza das perdas de uma loja. Além de orientar todo o processo de compras, evita também as perdas por ruptura (falta do produto). A comparação da contagem das mercadorias com os relatórios de compras e vendas permite apontar quais as categorias e itens que merecem maior atenção, bem como as possíveis causas das perdas.

Rotinas e controles diários

Além dos inventários frequentes, uma forma de detectar e corrigir rapidamente potenciais perdas é a introdução de rotinas diárias de verificação dos produtos expostos na loja isso identifica potenciais rupturas, desorganização dos estoques e áreas de retaguarda. Recomendação: os melhores momentos para isso são antes da abertura, no meio do expediente e logo após o fechamento da loja.

 

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

 

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Alessandra Andrade é o novo rosto da SP Negócios

Alessandra Andrade é o novo rosto da SP Negócios

Rodrigo Garcia, da Petina, explica a digitalização do comércio popular de São Paulo

Alexandra Casoni, da Flormel, detalha o mercado de doces saudáveis