Para Tombini, a inflação já começa a cair em abril
O presidente do Banco Central diz que a correção de preços administrados – que ocorre neste primeiro trimestre - é que conduzirá à queda. Mas a expectativa dos consumidores é que os reajustes de preços prosseguirão
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, prevê que a partir de abril o índice de inflação mensal estará em um patamar "bem inferior" ao observado no primeiro trimestre deste ano. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, ele também disse que a política fiscal consistente reduz a expectativa de inflação de longo prazo.
A perspectiva de que a inflação comece a cair a partir do próximo mês está em linha com a projeção da consultoria Besi Brasil que, na última sexta (20), divulgou a projeção de que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique em 1,40% em março e em 0,60% em abril.
No entanto, as projeções para o fechamento deste ano ainda estão na faixa de 8% para a inflação oficial. O estudo Indicador de Expectativas Inflacionárias dos Consumidores, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), mostra que os consumidores esperam uma inflação de 8,4% no fechamento dos próximos 12 meses.
Foi a maior projeção observada em toda série histórica iniciada em novembro de 2005, segundo a instituição. No mês passado, a expectativa das famílias havia ficado em 7,9% nos 12 meses à frente. O estudo coleta informações de 2,1 mil pessoas em sete capitais brasileiras.
"O resultado de março confirma que a aceleração recente da inflação vem tornando as expectativas dos consumidores mais pessimistas para o futuro", diz Pedro Costa Ferreira, economista da FGV.
Outro sinal de que as expectativas não são positivas está no relatório realizado com analistas de instituições financeiras, o Focus, que também trouxe a projeção de 8,12% para o IPCA de 2015 nesta semana.
Para Tombini, o processo de ajuste de preços pelo qual passa a economia faz com a inflação se eleve no curto prazo. Durante a apresentação no Senado, ele garantiu que o BC estará vigilante para garantir a convergência da inflação para o centro da meta de inflação (de 4,5% ao ano) em 2016.
O presidente do BC explicou aos senadores que a economia passa por dois importantes processos de realinhamento de preços: domésticos com cenário internacional, e dos administrados com livres.
Segundo ele, um conjunto de fatores mostra que essa trajetória é factível. Entre esses fatores, ele citou que o BC está e continuará vigilante com o realinhamento das políticas macroeconômicas e o realinhamento dos preços administrados.
Tombini disse que a concentração dos reajustes dos preços administrados no primeiro trimestre reduz as pressões daqui para frente.
Ele também citou como favorável à convergência o cenário do mercado de trabalho menos tensionado, o que contribui para diminuir as pressões salariais.
O presidente do BC também citou que, a despeito da alta do dólar, outros fatores podem mitigar o repasse da elevação da cotação para os preços domésticos, como o comportamento recente das commodities, que estão com preços baixos.
O presidente do BC avaliou ainda que o fortalecimento da política fiscal facilita o processo de convergência da inflação para o centro da meta.
REFORÇO DO AJUSTE FISCAL
Na tentativa de fortalecer o discurso do governo de necessidade do ajuste fiscal, o presidente do BC disse que o conjunto de medidas fiscais adotado contribuirá para que o processo de transição pelo qual passa a economia brasileira seja "rápido" e que os seus benefícios possam "logo" aparecer.
Ele avaliou ainda que a política fiscal consistente aumenta a potência monetária. "A despeito da elevação das expectativas de curto prazo, estamos vendo que a inflação esperada de janeiro a março de 2016, 2017 e 2018 vem caindo, mesmo com inflação mais alta de 2015", diz.
Tombini disse que o BC está trabalhando para baixar as expectativas de mais longo prazo."Essa política já tem impacto. Não vamos esperar até 2018", afirma.
Ele disse ainda ao senadores que a atual meta de superávit primário é adequada para a estabilização da dívida líquida do setor público.
"Acredito que será cumprida a determinação de se buscar ajuste, inclusive com reformas mais estruturais no seguro-desemprego e na pensão por morte. A meta de superávit primário é compatível com a economia. Caso haja desvio, o ministro da Fazenda vai procurar ajustes para cumprir a meta fiscal", afirma.
Em mais um bloco de respostas aos parlamentares, Tombini disse que neste momento o país sente pico da inflação e isso está refletido nas expectativas do mercado. "Quanto mais ajuste tivermos agora, menos teremos lá na frente", diz.
Segundo ele, é preciso quebrar a inércia da inflação, por isso é importante a continuidade da vigilância. "Não estamos enxugando gelo, já temos algum resultado para mostrar", afirma.
Tombini disse também que, apesar de o movimento na taxa de câmbio ser grande, o repasse não ocorre na mesma magnitude. De acordo com ele, esse repasse estaria entre 5% e 10% em 12 meses.
"Precisamos cuidar para que isso não se alastre para outros segmentos da economia. Esse repasse é limitado por alguns fatores, como PIB menor, preços das commodities em queda e efeitos do dólar também em outras moedas, como o euro", afirma.
*Com informações de Estadão Conteúdo