País não tem onde armazenar 97 milhões de toneladas de grãos
O volume, levantado pela Kepler Weber, representa mais de um terço da safra prevista para 2022
O país enfrenta gargalos logísticos que comprometem o desempenho de um dos principais setores da economia: o agronegócio. Além do transporte, os agricultores estão tendo problemas para o armazenamento das safras.
Levantamento de entidades ligadas ao setor apontam que o déficit atual de armazenagem de grãos no país aumentou e chega a quase cem milhões de toneladas. Ou seja, mesmo com a previsão de safra recorde - 278 milhões, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - não há espaços adequados para guardar toda a produção.
"O aumento do déficit de armazenagem prejudica a segurança alimentar e a eficiência logística de nossa produção, que, segundo a Conab, tem crescimento estimado em 12,5% este ano", comenta Piero Abbondi, CEO da Kepler Weber.
A empresa, que atua em toda a América Latina em soluções pós-colheita, é responsável pelo estudo que mostra que o país não tem onde guardar cerca de 97 milhões de toneladas de grãos produzidos no país.
Além do déficit, há outro desafio: levar para dentro das fazendas as unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos. Segundo a Conab, no Brasil, apenas 14% das fazendas possuem silos de armazenagem. No Canadá são 85%, Estados Unidos, 65% e Argentina, 40%. A maior parte dos armazéns fica em centros urbanos, próximos aos portos, o que encarece os custos de produção.
Segundo informações do Centro de Excelência de Agro da EY, o déficit de armazenagem no Brasil aumenta o risco de fatores como segurança do abastecimento alimentar e perda de produtividade.
“As pressões no escoamento rápido e sincronizado demandam um ecossistema de infraestrutura de transportes, ativos portuários e marítimos robustos. Nos dias atuais, quem está atuando como viabilizador dessa estrutura são as grandes tradings globais”, explica Adiemir Hortega Medeiros, gerente sênior de consultoria para Operações em Supply Chain da EY.
Estudo recente do Serviço de Aprendizado Rural (Senar) estima que o produtor rural poderia melhorar sua lucratividade em até 55%, caso houvesse onde guardar todos os estoques.
A armazenagem adequada dos grãos, segundo análise da EY, também resultaria em redução de fretes, perdas menores no transporte, maior controle de umidade dos grãos e melhores preços das comodities ao longo do ano-safra.
Para reverter a situação, segundo Hortega, é necessário ao poder público acelerar investimentos para aumentar a infraestrutura de armazenagem no país. O Plano Safra destinou, em julho do ano passado, R$ 4,2 bilhões em recursos, por meio do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), para investimento em armazenagem. O valor, porém, não é considerado suficiente para melhorar a defasagem de silos.
De acordo com o consultor da EY, a fomentação de alternativas complementares de armazenagem de curto prazo e com menor dispêndio de investimentos, como os “silos bags”, podem ser uma alternativa para reduzir as pressões de escoamento, diminuição de perdas e aumento da lucratividade. Em 2020, houve aumento médio de 36% na demanda por este tipo de equipamento, que são cerca de 40% mais baratos em relação são silo metálico convencional.
Os “silos bags”, também chamados de “silos bolsas”, são equipamentos que suportam de 180 a 250 toneladas por unidade, armazenam o grão em perfeitas condições de comercialização por até 18 meses e possuem vida útil de 10 anos.
“Outros pontos importantes são investimentos em processos e tecnologias capazes de entregar maior sincronização da cadeia, otimizando etapas de transportes, armazenagem, portos e tradings”, conclui Hortega.
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