Os varejistas brasileiros estão atentos ao que acontece no mundo?

Os hard discounters, sucessores dos atacarejos, estão chegando. O Aldi, por exemplo, está presente em mais de 20 países, com mais de 12.000 lojas

Marcos Escudeiro
05/Fev/2025
Especialista em varejo e consumo alimentar
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Os varejistas brasileiros estão atentos ao que acontece no mundo?

Ultimamente, muitos me perguntam quem vai suceder o atacarejo. Eu acompanho diariamente, via imprensa internacional, a evolução do varejo alimentar no mundo e sempre me surpreendo com o crescimento dos hard discounters. Seja em países de alta renda ou em nações com menor renda, o avanço é notável. As empresas mais antigas e tradicionais, Aldi e Lidl, são as mais conhecidas e estão presentes em mais de 20 países, cada uma com mais de 12.000 lojas e em contínua expansão.

Qual é o grande diferencial dos hard discounters que permite esse constante crescimento? O segredo desse formato é uma combinação de fatores:

Preço baixo: Como oferecer preços baixos? Começa pelo volume de compras. Menos itens no sortimento favorece isso;

Baixo custo de operação: Lojas sem serviço, realmente autosserviço;

Disciplina: A manutenção rigorosa dessas regras é essencial.

Alguns ‘especialistas’ falam que o diferencial são as marcas próprias. Mas, na verdade, marcas próprias no hard discount são decorrência do volume que atingem com o tempo. Mas os hard discount nascem sem.

O mais surpreendente é observar o crescimento de várias bandeiras em diversos países. Além de Aldi e Lidl, com mais de 12.000 lojas cada e que já estão entre os 10 maiores varejistas do mundo, temos, por exemplo:

- Biedronka, na Polônia (pertence ao grupo português Jerónimo Martins);

- ARA, na Colômbia, também do grupo Jerónimo Martins;

- BIM, na Turquia, que em pouco mais de 20 anos já possui mais de 12.000 lojas;

- 3B, com mais de 2.000 lojas no México e chegando este ano à Bolívia;

- Femsa, dona de mais de 20.000 lojas de conveniência OXXO, agora entrando no formato hard discount no México com mais de 300 lojas Bara para concorrer com 3B;

- Na Colômbia, além de ARA, a D1 com mais de 2.000 lojas;

- MERE, da Rússia, que já estava entrando na Europa antes do conflito com a Ucrânia e que pode estar vindo ao Brasil.

E no Brasil?

Ainda acreditamos que nossa população valoriza experiência, maior sortimento e mais serviço. Os atacarejos, nascidos da busca por menores preços, agora aumentam seus custos, aumentando sortimento e serviços. Por consequência, a diferença de preços entre atacarejos e supermercados regionais já não é tão significativa. Será que estamos tornando o mercado mais atraente para a entrada de redes de hard discount?

Não basta abrir lojas no “formato” hard discount. Trata-se de um negócio diferente, uma estratégia diferente de distribuição. Empresas que tentaram criar suas redes de hard discount sem sucesso são um exemplo disso. Hard discount deve ser executado por empresas exclusivas nesse modelo.

O grupo Jerónimo Martins, dono da rede Pingo Doce em Portugal, opera duas empresas distintas: Biedronka, na Polônia, e ARA, na Colômbia, tratadas como negócios totalmente separados dentro do grupo. No Brasil, nos anos 1980, o grupo Pão de Açúcar tentou com as lojas Minibox, mas estas eram vistas como as lojas mais pobres, com produtos encalhados e gôndolas velhas.

Criada em março de 2009, no bairro de San Pío, em Itagüí, Medellín, nasceu a primeira loja de hard discount da Colômbia. Com um perfil discreto em uma área de média e baixa renda, surgiu a D1. No início, o formato de desconto não era conhecido na Colômbia e enfrentou ceticismo tanto dos consumidores quanto dos fornecedores.

Mais algumas notícias de hoje no mundo:

-  Aldi, na Espanha, encerra 2024 com 468 lojas;

- Na Colômbia, em 2024 já são mais de 4.200 lojas de hard discount;

- No Canadá, as vendas dos hard discount já superam as dos supermercados tradicionais. A Metro, maior varejista, possui duas redes de HD: Super C, em Quebec, e Food Basics, em Ontário, tentando evitar a entrada de outros grandes players;

- Já representando 20% do mercado, 65% dos consumidores do Reino Unido trocam de loja, para Aldi ou Lidl, para boa parte de suas compras.

O que se observa no varejo alimentar mundial é a população cada vez mais buscando lojas que vendem mais barato.

E os varejistas e investidores do Brasil, o que acham?

Nossos consumidores têm uma renda maior que o restante do mundo?

Aguardem, e cuidado, o sucessor dos atacarejos pode estar chegando.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio

 

IMAGEM: Aldi/divulgação

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