Os negócios da quebrada - Entrevista com Marília de Castro

Coordenadora institucional da Associação Comercial de São Paulo. Já comandou o conselho de Terceiro Setor da casa.

Karina Lignelli
01/Fev/2015
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Qual sua visão sobre o empreendedorismo em comunidades e favelas? 

A sociedade evolui constantemente.  Hoje a favela/comunidade tem conquistado destaque na mídia em uma nova perspectiva. A televisão conta a história de diversos atores-sociais que vieram  da comunidade.  O empreendedorismo criativo de muitos moradores é notícia. Os holofotes apontam para este  público consumidor e empreendedor.  A formalização dos negócios passou a ser um fenômeno presente neste universo até então informal.

Quando esse movimento se ampliou, e porquê?  

A Constituição de 1988 trouxe dois artigos que contribuíram para os avanços que tangem a este segmento da população:  o tratamento diferenciado para a micro e pequenas empresas, com simplificação das obrigações administrativas, previdenciárias e creditícias (art. 179), e a assistência social como direito do cidadão, ressaltando a inclusão social e a promoção da integração ao mercado trabalho (art. 203). São mais de 26 anos de esforços na consolidação destes direitos.

A Facesp e a Associação Comercial de São Paulo, que estiveram sempre à frente com a bandeira da livre iniciativa, comemoraram essa vitória na Constituinte, bem representados na época pelo então deputado Guilherme Afif Domingos, hoje ministro da Micro e Pequena Empresa. Já as associações comerciais de São Paulo e do interior continuaram na luta e apoiaram a criação da figura do microempreendedor individual e o aperfeiçoamento das normas do Supersimples.

Em sua opinião, as mudanças no mercado de trabalho e o aumento da renda puxaram esse movimento? 

Os empreendedores das comunidades utilizam-se destes formatos jurídicos para que exerçam seus direitos como empresários. Com isso, salienta-se a possibilidade de acesso ao crédito, mas que ainda precisa ser ampliado.

E o maior acesso ao crédito para os não-formalizados traz à lembrança o empresário Samuel Klein (fundador das Casas Bahia), seguida por muitos empreendedores que atuam em  transações com os moradores da comunidade que não tem como comprovar os rendimentos. Por isso, são “sem-conta-corrente” e “sem-cartão-de-crédito”. 

Klein, que começou como mascate revendendo roupas de cama, mesa e banho de porta em porta em uma charrete dizia:  “A riqueza do pobre é o nome. O crédito é uma ciência humana, não exata. Não importa se o cliente é um faxineiro ou um pedreiro, se ele for bom pagador, a Casas Bahia dará crédito para que ele resgate a cidadania e realize seus sonhos."

Há diferenças entre o empreendedorismo "tradicional" e o das comunidades? Qual o impacto social disso? 

Hoje, experiências fundamentadas na economia social se fortalecem. Ganha o empreendedor, ganha o colaborador, ganha a comunidade e ganha o meio ambiente.

Mas a mudança é uma constante: muitos jovens moradores  da comunidade estão  chegando nas universidades - fato para comemorar. A educação dá novos horizontes, perspectivas.  Abre-se o leque de oportunidades. A favela, cada vez mais conectada, vai completando o processo contínuo de ascensão social e econômica.

E na Associação Comercial, existem iniciativas para incentivar ações empreendedoras do tipo?

A ACSP, com suas 15 distritais na cidade de São Paulo, e a FACESP, continuam seu diálogo permanente com os empreendedores, para que os micro e pequenos empresários sejam ouvidos e possam ter cada vez mais êxito em seus negócios.

 

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