Os negócios da quebrada - Entrevista com Krishna Faria
Coordenador nacional de Negócios Sociais do Sebrae
Por que cresce o empreendedorismo nas favelas?
Primeiro, por conta do aumento do poder de compra das classes menos favorecidas. Desejo de consumo é inerente ao ser humano e, como essas pessoas tiveram ascensão financeira, criou-se um movimento dentro das comunidades para atender este consumidor com maior poder aquisitivo.
O emprego formal não conseguiu absorver essas pessoas, e o que resta para esta comunidade é o empreendedorismo por necessidade. Existe o empreendedorismo por vocação, mas é mais por necessidade.
28% dos moradores das comunidades querem abrir negócios, segundo pesquisa da Data Popular. O que significa isso?
Isso mostra a força dentro do universo empreendedor e de emprego e renda dentro das comunidades. Além do fato de que essas pessoas estão empregadas, pode haver também movimento de gente do asfalto para ir às favelas.
Minha impressão é que o poder de compra da comunidade está fazendo com que as pessoas enxerguem que há potencial de oferta, e faz com que elas empreendam. Se o volume de dinheiro é maior na favela e se posso abrir um negócio ali e vou ter cliente, vou abrir um negócio.
Grandes players do mercado têm atentado para o poder de consumo dessas comunidades, e isso gera oportunidade de empreender, abre oportunidades de serviços.
Aumentou o número de instituições financeiras e lojas (Casas Bahia, por exemplo) em comunidades de baixa renda.
No Rio, surgiu um carteiro que entrega cartas em locais em que os Correios não chegam. O morador que compra pela internet pode receber os produto em casa. Isso foi encarado como uma oportunidade de negócio, e o empreendedor consegue entregar produtos em parceria com os Correios. Ele serve como um canal de consumo dos moradores da comunidade.
Qual a expectativa para os empreendedores nas favelas?
Se a economia retomar o crescimento, é provável que a tendência se confirme de expansão do empreendedorismo nas favelas. Se a economia continuar estagnada, é possível que o empreendedorismo perca um pouco do dinamismo. O empreendedorismo, por si, está atrelado a riscos altos.
Se for para injetar capital sem garantia de prosperidade, do ponto de vista de risco é melhor optar pelo emprego convencional. O empreendimento está atrelado ao risco. É preciso ver até que ponto de vista de risco é melhor ou não optar pelo emprego convencional.
O que é empreendedorismo social, de impacto social?
É quando a pessoa quer contribuir com transformações de situações desfavoráveis. Tenho uma missão que pretendo resolver, combatendo de alguma forma a pobreza e a desigualdade, transformando a vida das pessoas da base da pirâmide. Isto é, já abro o negócio com uma intenção para resolver um problema social, que visa lucro também.
O grande desafio dos negócios sociais é colocar no mesmo grau de importância a transformação social, o lucro. Está crescendo bastante o número de empresas com impacto social. Em 2011, eram 144 empresas pesquisadas no Brasil.
O próprio empreendedorismo de impacto social vem numa vanguarda, porque os governos, de forma geral, não conseguem, por limitação de orçamento, resolver os problemas sociais que os países apresentam.
O empreendedorismo de impacto surge como proposta complementar para contribuir, gerar emprego e renda, e a empresa consegue contribuir para resolver um problema social.
Para o governo é mão na roda, é um papel complementar. Não é exclusividade de o governo resolver os problemas sociais. A minha aposta é que esta situação é irreversível, independentemente do que ocorra com a economia.
E se a economia estiver mal, a tendência é de os problemas sociais se acentuarem, e isso abre mais espaço para o empreendedorismo de causa social. E se melhorar, vai ter mais dinheiro e atividade para o setor continuar crescendo.
Não vejo um cenário para que o empreendedorismo de impacto social diminua, especialmente na área de educação, saúde, turismo, artesanato, alimentos. O empreendedorismo sem impacto social já é mais sensível a flutuações do mercado.