Operação na Cracolândia deixa rastro de prejuízo no comércio
Donos de estabelecimentos da região sofreram com saques após a dispersão dos usuários e traficantes de drogas
Havia no ar um clima de guerra civil urbana nesta segunda-feira, 22/05, na região da Cracolândia, em São Paulo. Helicópteros da Polícia Militar e de emissoras de televisão sobrevoavam o local, palco de intensos conflitos entre os policiais militares, guardas civis metropolitanos, usuários e traficantes nos dois dias anteriores, sábado e domingo.
Cavalarianos da PM passavam por grandes e movimentadas vias, como as avenidas Rio Branco, Duque de Caxias e Ipiranga. Bloqueios impediam que os carros entrassem na chamada zona de conflito. Usuários de drogas andavam de um lado para outro, sem rumo, enrolados em cobertores sujos.
Em frente aos cortiços de ruas como a Aurora e dos Gusmões, crianças olhavam assustadas para o alto e em volta, temerosas com a movimentação dos policiais.
Alguns comerciantes que tiveram seus patrimônios invadidos e saqueados no sábado e domingo contavam os prejuízos. A Padaria Nova Orquídea, na esquina da Barão de Limeira com a Eduardo Prado, foi alvo dos saqueadores na manhã de domingo.
Luís, gerente do estabelecimento, recusando-se a falar seu nome completo e ser fotografado, disse que o patrão ainda não tinha feito as contas para saber exatamente o que perdeu com a invasão.
“O que sei é que foram roubados R$ 500,00 em dinheiro e dezenas de pacotes de cigarros. Também quebraram o micro-ondas e uma das portas de entrada”, disse, impedindo também que o lado interno do estabelecimento fosse fotografado.
A porta que foi quebrada é a que tinha o letreiro com o nome da padaria.
“Foi tudo muito rápido. Ainda bem que não agrediram nenhum funcionário”, disse Luís, que achou melhor não registrar Boletim de Ocorrência.
A banca de jornais que fica bem em frente à Nova Orquídea também foi vítima dos saqueadores.
Assustada com a invasão, a dona da banca não abriu a porta do seu comércio na segunda-feira. Donos de lojas próximas disseram que o prejuízo para a proprietária da banca também foi grande.
“Eu vi quando eles entraram na banca. Levaram todo o dinheiro que encontraram”, contou um lojista.
Um pouco distante dali, na loja de calçados Zapata, esquina da Rua Santa Ifigênia com Av. Duque de Caxias, o gerente Gabriel disse que desta vez os saqueadores não fizeram estrago na loja em que trabalha.
Mas em janeiro deste ano a Zapata sofreu com a ação dos usuários de droga da Cracolândia.
“Em janeiro, o prejuízo aqui foi de mais R$ 100 mil. Levaram dezenas de pares de sapatos, quebraram portas, vidros, tudo que viam pela frente. Ainda bem que desta vez eles não chegaram até aqui”, disse.
A OPERAÇÃO
Na ação de domingo, 21/05, que começou nas primeiras horas da manhã e estendeu por todo o dia, foram presas ao todo 38 pessoas, algumas em outros pontos do estado de São Paulo.
Foram demolidos imóveis que, de acordo com a prefeitura e o governo estadual, eram usados para tráfico, armazenagem e até refino de drogas.
Alguns estabelecimentos permaneceram, mas foram lacrados. Há um plano de revitalização da área que incluí uma parceria público-privada para construção de um empreendimento com 1,2 mil apartamentos
FOTOS: Wladimir Miranda e Estadão Conteúdo