Obrigada, Arthur do Val!
Eu lhe considero um misógino, preconceituoso, machista e farsante. Mas eu sou grata por você ter se traído e falado o que pensa

Tem coisa que a experiência e a maturidade ensinam. Um exemplo disso, pra mim, é não falar com raiva, esperar o furor passar. Eu entendo que em momentos de fortes emoções, às vezes, somos um tanto irracionais, e verbalizar isso pode ser um fiasco. Mas assim como os bêbados, os emotivos falam, mas nunca falam mentira, nem falam algo que não esteja no seu subconsciente.
Eu esperei uma semana pra falar sobre o Arthur do Val. Ok, confesso que coloquei uns Stories no Instagram no mesmo dia com palavras de baixo calão. O que muda em uma semana, é a forma pela qual eu me expresso, sem a raiva do momento, mas não muda o que eu penso, pois isso está relacionado à minha estrutura de caráter e valores.
Arthur do Val, eu lhe considero um misógino, preconceituoso, machista e farsante. Mas eu sou grata a você. Grata por você ter se traído e falado o que pensa. Se nada disso tivesse acontecido, eu continuaria a achar você um “cara legal”, popular, importante. Se você não tivesse falado, eu não saberia que um homem público, representante da sociedade, um deputado, pensa dessa forma tão vil e isso influencia as decisões que toma, as escolhas que faz. Eu poderia, olha só, até achar que você me representa.
Eu não estou aqui pra julgar o que o Arthur fala. Nós vivemos numa sociedade do politicamente correto, onde é feio falar. Mas as pessoas continuam pensando... E essa é a minha grande questão. Quantos “Arthurs” estão condenando o que aconteceu, mas pensariam (e pensam) exatamente igual? Quantos não se escondem atrás de um discurso adequado, mas pensam e agem preconceituosamente de forma velada. Quantos não estão me sorrindo, sentados ao meu lado, sendo educados, mas preferiam que eu estivesse na cozinha, ou prestando algum favor sexual?
Quando a gente sabe onde está o preconceito, a gente consegue se mobilizar, se defender. O Arthur já foi cancelado, seu poder de influência já se esgotou, foi defenestrado em instantes. Mas e todos os outros? Esses que eu não sei quem são?
A vocês, que pensam, mas não falam, desejo o mesmo destino do Arthur. Que se traiam.
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