O varejo do futuro será cada vez mais impulsionado pelo ecossistema de negócios
Não espere que “tudo voltará ao normal”, pois não vai. As empresas devem estar prontas para mudanças na mesma escala, ou ainda maiores do que as causadas pela pandemia
Quando o Brasil sofre os reveses dramáticos gerados pela pandemia, combinados com o aumento exponencial e global da concorrência, com a transformação digital de tudo e todos e a cizânia instaurada no plano político, ampliando o quadro de instabilidade, desigualdade, empobrecimento e desalento, é necessário pensarmos e construirmos o futuro, pois é nele que viveremos.
A pandemia de covid-19 acelerou alguns dos movimentos em evolução, especialmente aqueles ligados à proteção do que é local, às novas alternativas de trabalho remoto, ao sentimento de vulnerabilidade que desperta o senso de urgência no trato de soluções, e ao foco no aqui e agora, que valoriza a conveniência.
Mas também despertou a crescente consciência das atividades empresariais em incorporarem causa e propósito em suas propostas estratégicas, tais como aquelas envolvendo os conceitos contidos na sigla ESG, que se tornaram elemento importante para avaliação da maturidade das organizações e fator de aumento do valuation das empresas.
O varejo global, e principalmente, o do Brasil, que emergem da pandemia, tornaram-se ainda mais protagonistas, assim entendida sua importância econômica, política e social, além de mais diversificado e plural em sua atuação, e muito mais digital.
Renomados líderes do Brasil e do mundo se reúnem para pensar o futuro do consumo e do varejo no Latam Retail Show, evento 100% on-line, com parte do conteúdo gratuito, que discutirá amplamente as transformações no pós-pandemia e seus impactos nos negócios, no mercado, no consumo e no varejo. Tudo isso potencializado pelas mudanças que ocorrem no cenário mais amplo que envolve a emergente Sociedade 5.0 – aquela que evoluiu em seu comportamento, valores e atitudes, impactada pela crescente presença da tecnologia e do digital.
Por isso será tão importante estudar, entender e pensar a reconfiguração da sociedade, do mercado, consumo e varejo daqui para frente, impactados pelo crescimento e protagonismo das organizações alinhadas ao modelo de ecossistemas de negócios.
Enquanto os modelos tradicionais são baseados em relações de negócio de um para um ou de um para muitos, os ecossistemas de negócio são estruturas que geram valor exponencial por meio das relações de muitos para muitos.
São conglomerados sem fronteiras, formados por empresas independentes, porém fortemente conectadas, que possuem alta sinergia entre si, e que atuam de forma colaborativa. São digitalizados, orientados por dados e focados no consumidor. E proporcionam ganho de escala, com redução de custos e aumento de eficiência, além de serem mais ágeis e inovadores do que as estruturas convencionais.
Os ecossistemas estão sendo adotados, e estão transformando todas as indústrias e segmentos, como o setor de consumo e varejo, por meio de empresas como Alibaba, JD.com, Pinduoduo, Amazon, Sonae e Magalu; o setor de comunicação e entretenimento, com Tencent, ByteDance, Google e Facebook; o setor de serviços, com empresas como Meituan, Didi e muitas outras plataformas; o setor de seguros e saúde, com empresas como Ping An, e o segmento de dispositivos, com Xiaomi, Apple, entre muitos outros.
A China foi a economia que passou pela maior aceleração nos últimos 20 anos. Desde sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2002, a mudança no país foi dramática, saindo de 6º colocado no ranking dos maiores PIBs do mundo, para 2º em 2018, devendo ultrapassar os Estados Unidos em 2028, consagrando-se a maior economia global.
Não foi por acaso que os ecossistemas surgiram na China. A feroz competitividade desse mercado e o ritmo de transformação forçaram os chineses a buscar novas formas de pensar e estruturar seus negócios, focados em agilidade, adaptabilidade, flexibilidade e inovação.
No Brasil, o varejo viveu transformações similares ao que aconteceu em outros mercados: a expansão do digital, o aumento da concentração e a pluralidade. Entretanto, o varejo tradicional brasileiro tem uma peculiaridade frente a outros ecossistemas que se formaram ao redor do mundo. Ao passo que ecossistemas internacionais se formaram a partir de empresas com um viés de tecnologia, e aproveitaram a sua capacidade de monitorar e prever o comportamento futuro dos consumidores para expandirem seus negócios em uma velocidade muito grande, no Brasil esse caminho foi desbravado pelo varejo tradicional, que deu um passo importante ao transformar seus marketplaces em plataformas de ecossistemas – e isso foi mais marcante no período da pandemia.
Esse é o caminho trilhado por Magalu, Via Varejo e Americanas-B2W, como exemplos básicos, complementado por iniciativas como Mercado Livre, Amazon Brasil, Carrefour, Pão de Açúcar e outros mais que exemplificam o movimento em franco crescimento e expansão, vai mudar de forma radical o cenário, a estrutura, as participações e as lideranças do mercado nos próximos anos.
Na China, a incrível evolução do uso da internet, que tinha apenas 22 milhões de usuários em 2000 e hoje atinge 800 milhões, sendo 90% mobile, fez com que mais de 1/5 da população digital do mundo seja chinesa hoje em dia.
sso foi causa e consequência das transformações precoces desses ecossistemas de negócios pois, ao mesmo tempo em que viabilizou essa transformação, nela se alavancou para crescer exponencialmente. Essa é uma das razões que faz com que a China seja líder mundial em transações financeiras por smartphones, muito à frente dos Estados Unidos ou de qualquer outro país.
Os pagamentos via mobile na China são a grande maioria, atingindo mais de 81% dos usuários de internet no país, segundo dados de uma pesquisa da eMarketer. Ainda de acordo com o levantamento, em 2021 a China será o primeiro país do mundo a ter o comércio eletrônico maior do que o varejo físico, com 52% das vendas totais sendo realizadas por lojas on-line, contra 48% das lojas físicas.
De acordo com um estudo realizado pelo E-commerce Brasil, entre o final de 2019 e começo de 2020, as vendas on-line representavam 5% do total vendido no varejo do País, sendo que este número passou para quase 18% no final de 2020, com a chegada da covid-19 e a queda das vendas no varejo físico. Deve ficar entre 7% e 10%, após a estabilização da pandemia.
São tempos desafiadores, mas de muitas oportunidades. É importante ter em vista que o processo de desenvolvimento dos ecossistemas de negócios é construído ao longo da jornada e determinados pelas oportunidades e circunstâncias. O mundo e o ambiente de negócios se transformaram radicalmente nos últimos dez anos, e o ritmo das mudanças continuará a acelerar.
Talvez a maior e mais recente prova desse atual cenário sejam as transformações impostas pela covid-19, que antecipou tendências de mercado e trouxe inúmeras novas variáveis para o jogo. Não espere que “tudo voltará ao normal”, pois não vai. As empresas devem estar prontas para mudanças na mesma escala ou maiores do que as causadas pela pandemia e com frequência cada vez maior.
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