O que o “prefeito” da Galeria do Rock mudaria em São Paulo
“Não é a cidade que precisamos e nem a que merecemos”, afirma Toninho, que há 23 anos é síndico da galeria que recebe roqueiros de todos os cantos do Brasil
Se você é paulistano ou, sempre que pode, visita São Paulo, certamente já ouviu falar da Galeria do Rock. O espaço no Centro Velho da cidade é o paraíso de roqueiros, metaleiros, góticos, punks e amantes de hip-hop.
Os skatistas, que viraram febre na cidade, também encontram ali o lugar ideal para comprar o equipamento adequado para “voar” por ruas, calçadas e praças.
O que pouca gente sabe é que os seis andares, que reúnem 450 lojas, são comandados por um “prefeito”. Isso mesmo. Se alguém tiver qualquer problema na galeria mais descolada da cidade, basta chamar o síndico.
Antonio Souza Neto, o “Toninho da Galeria do Rock” tem 66 anos, está no cargo há 23, período no qual mantém com muito carinho uma imensa foto do ídolo Raul Seixas em seu escritório improvisado no 6º andar do edifício.
Também é proprietário de uma loja de roupas e ornamentos que todo o roqueiro descolado quer ter no corpo, como óculos, piercings e afins.
Antes de ser eleito síndico da galeria, o jornalista Toninho foi diretor de marketing de empresas e tentou até ser vereador. Não foi eleito. Teve só três mil votos.
“Empresários do ramo de bingos quiseram patrocinar a minha campanha. Eu não quis. Se aceitasse, iria ficar dependente deles”, afirma.
Cerca de 25 mil pessoas circulam pelo amplo espaço, obra do arquiteto Alfredo Mathias.
Toninho sente imenso prazer em falar da tradicional galeria. Só muda a fisionomia quando começa a falar dos problemas da cidade. Para ele, São Paulo não tem governo. Avalia que há problemas na educação, saúde e segurança pública.
“Não é a cidade que nós precisamos e não é a cidade que merecemos”, afirma.
O problema maior da Galeria do Rock, segundo Toninho, não está dentro dela e sim fora. De sua sala, ele aponta para a entrada do edifício. Ali, nota-se a presença de um batalhão de vendedores ambulantes.
O consumidor que sai da galeria ou que passa na calçada é bombardeado por ofertas de tênis, calças jeans, cintos, acessórios para celulares. A maioria, claro, são objetos falsificados.
Os ambulantes fazem uma fila indiana. Gritam, abordam os clientes. E irritam o síndico.
“Isto que você está vendo ali é ruim para o comércio. Incentiva diretamente a fuga de clientes. E a fiscalização? Estamos abandonados”, disse.
Toninho é presidente do Conselho de Segurança do Centro, o Conseg. Também é diretor vice-presidente da Distrital Centro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Outro assunto que deixa Toninho indignado é a reforma da calçada da Rua Sete de Abril, que fica bem perto da galeria.
“Estas obras estão demorando muito. Quando vão terminar? Estão prejudicando o comércio da região”, afirma.
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