O esporte dela é dar saltos e avançar com negócios saudáveis
Atleta, personal trainer e, finalmente, empreendedora, Luciana Rocha criou um serviço de bufê 'detox' que atende de famílias a grandes eventos esportivos e corporações do porte do Santander, Vivo e Nextel
Sabia que uma lasanha de abóbora, que tem vitamina C, lentilha, ferro e alho-poró “esquenta” o organismo e facilita a absorção dos nutrientes? E que um suco que leva morango, uva, canela e gengibre deixa desperto quem o ingere nas reuniões de trabalho? Até um prosaico sanduichinho de pão preto tem sua função: facilita a digestão, e dá leveza para quem o consome.
A alimentação funcional é um dos mais novos conceitos de qualidade de vida em um período em que ser saudável virou hype. Nela, os pratos são elaborados por meio da escolha de alimentos que combinem vitaminas e nutrientes, produzindo efeitos metabólicos ou fisiológicos no organismo
E é com base nesse conceito que a paulistana Luciana Rocha, 39, criou a pioneira Well Be (ou bem estar, em inglês). Espécie de bufê de alimentação funcional, a empresa fornece cardápios “detox” a clientes comuns, eventos esportivos e até grandes corporações do porte da Nextel, Vivo e Santander, entre outras.
Com o princípio de que “atleta não faz nada à toa: sempre tem um objetivo” a empresária toca sua vida desde os cinco anos de idade. Mas sua trajetória de atleta a empreendedora “funcional chef” é que determinou o sucesso da empresa, que em 2015 chega aos oito anos de atividades.
Órfã de mãe ainda criança, Luciana pegou gosto pelo esporte ao passar boa parte dos seus dias no clube com o irmão. Ao mesmo tempo, não perdia a chance de ajudar a avó no preparo das refeições. Cresceu em meio à doutrina esportiva de disciplina, comprometimento e foco, mais tarde aplicada aos negócios, e seguiu carreira na área.
Foi campeã paulista e brasileira de ginástica olímpica, aeróbica e fisiculturismo. Como atleta, competiu até 2002. Nesse período, conquistou até o título de Miss Fitness. Se formou em educação física, fez pós em nutrição esportiva e conciliou tudo isso com as atividades de personal trainer.
"Fui braço direito da Ala Szerman (empresária russa pioneira em promover atividades físicas e novos conceitos de estética, beleza e saúde na TV brasileira nos anos 80), em programas de relaxamento para empresas. Também trabalhei em grandes academias”, conta.
Nesse ínterim, aprendeu que o bom rendimento do esportista depende basicamente da alimentação – conceito que levou mais tarde para sua empresa. Este, inclusive, foi um diferencial em sua carreira, já que “prescrevia” treinos e cuidava da alimentação dos alunos fornecendo marmitinhas funcionais.
“Me apaixonei ao constatar que a bioquímica do corpo aliada à combinação dos alimentos melhora a definição muscular. E 90% disso é dieta”, diz.
Lá se foi Luciana em busca de um novo objetivo. Não queria ficar dando aula para sempre, nem competir como atleta: queria mesmo empreender. Passou a estudar como a comida podia melhorar a performance de quem pratica esportes, como cada órgão reagia à combinação de alimentos... Estudou até medicina chinesa para montar essas combinações.
E sondou o mercado. “Não tinha ninguém que fazia comida pronta para melhorar a qualidade de vida”, afirma. Nascia então a Well Be.
COOL É SER NATURAL
No início, em 2007, Luciana passou a fazer em casa mesmo os pratos funcionais e congelados, mas saborosos e saudáveis. Os primeiros clientes foram seus alunos. Uns compravam, outros revendiam para amigos, até que uma aluna, diretora da Nextel, sugeriu que produzisse um cardápio para um evento sobre qualidade de vida em sua empresa.
Ela fez, e deu certo. Mas a empresa pediu nota fiscal, e Luciana viu que o negócio começava a crescer e era preciso profissionalizar. “Sabia cozinhar, mas contratei uma técnica em nutrição e uma em gastronomia para me dar suporte e fazer tabela nutricional das comidinhas. O trabalho aumentou, e eu tive que pedir para o meu pai assumir a parte-administrativa e financeira.”
Com o boca-boca, começou a aparecer um evento atrás do outro. Até a rede Mundo Verde, franquia de produtos naturais, se tornou cliente. E Luciana precisou mudar de casa, comprar um freezer maior, contratar auxiliares de cozinha e até desenvolver um logo para a marca.
E teve que organizar, já que os eventos estavam “engolindo” a ideia original: o programa “detox”. Nele, ao marcar avaliação com nutricionista por telefone ou e-mail, o cliente recebe dois dias depois um cardápio semanal especial a um custo de R$ 600 – e a promessa de perder 2,5 kg.
“Não podíamos perder esse negócio, então passamos a terceirizar os serviços para eventos. Foi quando tivemos um salto de 300% no faturamento”, lembra. Até então, Luciana, que investiu R$ 140 mil no negócio da Well Be, continuava a trabalhar como personal de manhã e à noite para formar capital de giro.
Depois da terceirização, reduziu os custos fixos em 50%, e a partir de 2011 viu os lucros saltarem de R$ 40 mil para R$ 220 mil, em média, pela capacidade de atender seus 500 clientes fixos, entre festas a domicílio e eventos esportivos e corporativos com até 1,5 mil convidados. “Hoje, cool é ser natural. Então decidi unir esse momento do mercado com uma empresa estruturada de verdade. Deu certo”, afirma.
OUTRO SALTO À FRENTE
Apesar de ter passado incólume pela crise de 2008 já que a empresa estava começando, Luciana diz que agora sente os efeitos da atual recessão. Primeiro, no preço dos alimentos. Segundo, na negociação com clientes. Mesmo assim, a Well Be continua à toda.
“As empresas precisam cortar custos, então me pedem descontos, parcerias... tento adaptar dentro da verba deles. Mas posso dizer que esse foi o melhor março de todos os anos. Apesar da negociação difícil, o volume de clientes aumentou”, diz ela, projetando fechar 2015 com um faturamento de R$ 215 mil, “uma perspectiva viável.”
E planeja investir em outro formato de negócio, as health food machines. Ou seja, máquinas que vendem barrinhs de proteínas, cereais, nuts, sucos prensados a frio e wraps. A perspectiva, ainda em negociação, é de instalar dez maáquinas em locais de grande circulação, como universidades, academias e empresas. Mas tudo ainda está em fase de estudo.
“Se fosse antes, eu chutava a bola e corria atrás. Mas hoje eu sei que ter empresa é fazer contas. Se eu soubesse disso desde o começo, tinha trabalhado menos!”, diverte-se. “Então, estamos fazendo aos poucos.”
Hoje, Luciana continua com a mesma obstinação: mesmo cuidando da empresa e levando suas receitas funcionais até a programas de TV, onde faz pratos como brigadeiro de feijão branco e kibe de abobóra, ela continua a dar aulas como personal trainer.
Mas só como hobby e para poucos alunos mais antigos. “Tenho missão de treinar, ensinar pessoas. E eu gosto dessa troca. Sem contar que eles são meu público, então não posso deixar para lá.”
Ela ainda treina 45 minutos diários de levantamento de peso (“se eu não treinar, eu morro!”, exagera, entre risos), para manter o condicionamento físico. Também aproveita para dar um up no Facebook, conforme diz, para tentar vender pela rede social e fazer propagandas mais direcionadas.
“Muitos clientes caíram no nosso colo, mas precisava organizar mais esse aspecto. Tenho boas ideias mas não sei executar, então procurei me reunir com quem sabe para fazer direito.”
Oito anos depois de abrir a empresa, Luciana menciona a morte da mãe, que poderia ser um baque para alguns, como o meio que ela encontrou para ter foco e construir um carreira sólida no esporte. Além de um modelo de negócio que, mesmo pequeno, caminha para a consolidação.
“Há seis meses, eu não tinha concorrentes. Agora, descobri que tenho dois. Mas isso é bom porque faz a gente melhorar nossa qualidade", afirma. "Temos a expectativa de nos tornar líderes nesse mercado. Por isso, temos que trabalhar muito para que as pessoas pensem cada vez mais Well Be.”