Museu das Favelas ganha novo espaço e traz exposição sobre os Racionais MC's

'Racionais MC's: o quinto elemento' fica em cartaz até 31 de maio no segundo andar da nova sede do museu, no antigo prédio da Secretaria da Justiça, no Largo do Pateo do Collegio

Rebeca Ribeiro
27/Jan/2025
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Museu das Favelas ganha novo espaço e traz exposição sobre os Racionais MC's

Para comemorar os 35 anos de carreira dos Racionais MC's, o Museu das Favelas montou uma exposição inédita sobre o grupo que se consagrou nos anos 1990 e se tornou patrimônio cultural. A exposição, que fica em cartaz até 31 de maio, conta com curadoria de Eliane Dias e ocupa todo o segundo andar da nova sede do museu, no Largo do Pateo do Collegio, antiga Secretaria da Justiça.

A exposição “Racionais MC's: o quinto elemento” conta a trajetória de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, os quatro nomes que criaram o grupo. Com seis álbuns e 66 faixas, eles mostram por meio da música a vivência das pessoas que residem na periferia de São Paulo. Apesar de terem crescido nas periferias das zonas Norte e Sul, suas músicas ficaram conhecidas internacionalmente, sendo referência para muitos jovens.

A exposição começa levando os visitantes para a estação do Largo São Bento, no Centro Histórico da capital paulista, local onde o grupo se conheceu. Em um ambiente que simula a baldeação do Metrô, frases marcantes das letras do grupo, como “Tenha fé, porque até no lixão nasce flor” e “São Paulo, a selva de pedra”, fazem os visitantes iniciarem o passeio com as músicas na cabeça.

Com uma mistura de elementos que compõem os Racionais MC’s, a exposição conta, por exemplo, a história de um importante integrante que marcou várias apresentações do grupo: Jorge Paixão, dançarino de break responsável pelo figurino do Lord Joker, que leva aos shows uma mensagem sobre as adversidades da vida. Como a própria exposição deixa claro, o palhaço é um ponto de paz em meio aos tormentos da vida.

Passando por pessoas representativas na vida dos integrantes do grupo, a exposição traz uma homenagem às mães dos quatro rapazes, mostrando a importância dessas mulheres para o grupo, que também são referências nas músicas deles. Outro elemento que os Racionais ressaltam é a ancestralidade africana, respeitando suas origens, com um mapa que mostra em porcentagem suas linhagens.

A exposição mostra ainda as carreira individuais dos quatro elementos do grupo. São apresentados Paulo Eduardo Salvador, o Ice Blue, Kleber Geraldo Simões Lebes, o KL Jay, Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown, e Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock, suas vidas e carreiras solos, até o momento em que se encontram e decidem criar um dos grupos de música mais influentes do rap.

Por meio da exposição, os visitantes têm acesso ao processo criativo de músicas que marcaram a carreira do grupo e até mesmo a alguns manuscritos do Mano Brown da famosa letra “Diário de um detento”. Além da história do grupo, a exposição consegue mesclar os álbuns com momentos históricos do Brasil, mostrando como esses acontecimentos interferiram no processo criativo das músicas.

A exposição também traz um espaço para os fãs e visitantes deixarem uma mensagem para o grupo. Mensagens como “Racionais mudou a minha vida”, destacando a importância desse grupo para os fãs, são comuns de se ver no painel.

“Eu já vi shows, documentários, mas a exposição é algo muito mais íntimo. Ver as cartas que o Brown escreveu para a sua mãe nos faz sentir acolhido, é como se a exposição nos abraçasse e fizesse com que a gente se identifique com nossos ídolos”, diz Felipe Oliveira, professor de Ciências e fã dos Racionais MC’s desde criança.

Para Natália Cunha, diretora do Museu das Favelas, a proposta é justamente romper barreiras e ser acessível para as pessoas. “Com 15 minutos de portas abertas já tem fila para entrar no museu, isso mostra o interesse das pessoas em conhecer a exposição sobre um grupo que fez sentido em diferentes momentos de suas vida”, diz.

“Não tem quem saia da exposição sem pensar ‘aqui estou mais um dia’, no sentido de sobrevivência”, diz Natália, se referindo ao trecho da música “Diário de um detento”. Além disso, a diretora comenta que um dos principais desafios da exposição foi a curadoria, que precisou selecionar 35 anos de material para construir uma narrativa.

Nova sede do Museu das Favelas fica no Largo do Pateo do Collegio, no antigo prédio da Secretaria da Justiça (Imagem: Rebeca Ribeiro/DC)

 

O CENTRO E O HIP HOP

Conhecido como o berço do Hip Hop, movimento que reúne dança, música e arte, o Largo São Bento, especialmente a estação de Metrô, foi o principal ponto de encontro dos amantes desse movimento no Brasil.

O movimento, originado nos Estados Unidos, mistura a dança break com o rap e o grafite. No Brasil, teve início em São Paulo na rua 24 de Maio, em frente onde hoje funciona a Galeria do Rock. Mas, a partir de 1985, o ponto de encontro passou a ser o Largo São Bento, local que disseminou o movimento para outras regiões.

Com encontros aos sábados, várias pessoas de diferentes regiões de São Paulo se reuniam para assistir às batalhas de break, dança do movimento Hip Hop. Foi no Largo São Bento que Mano Brown conheceu KL Jay e os dois começaram a frequentar bailes blacks. Inspirados nas odes de Hip Hop da Estação São Bento e nos bailes blacks, Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay se uniram na segunda metade dos anos 1980 e criaram os Racionais MC's.

SOBRE O MUSEU DAS FAVELAS

Com nova sede no Largo do Pateo do Collegio, o Museu das Favelas traz novas exposições para os visitantes conhecerem o espaço. Natália diz que o novo local traz mais visibilidade para o museu, por estar ao lado do marco zero da cidade e em um corredor cultural importante, perto do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e de outros museus. 

Além da mostra sobre os Racionais MC’s, o museu traz outras exposições, como a "Sobre Vivências", que traz cinco módulos que representam as favelas do Brasil, sendo: ser, existir, morar, celebrar e sonhar. A exposição ocupa cinco salas, misturando elementos como fotografias, esculturas e até mesmo um painel com dados das favelas no Brasil.

Há também a exposição “O poder é nosso”, que traz uma série de personagens da Marvel criados por artistas negros e LGBTQIAPN+.

Para Natália, o museu é uma oportunidade das pessoas da periferia se sentirem representadas, de verem uma obra e saberem que aquilo foi produzido por artistas da comunidade, por isso as obras precisam ser tratadas com respeito e cuidado.

O Museu das Favelas funciona de terça a sexta, das 10h às 17h. Os ingressos são gratuitos e podem ser adquiridos pela bilheteria online, ou de forma presencial a depender da disponibilidade.

As pessoas interessadas em expor suas obras no Museu das Favelas podem se credenciar por meio da aba Favela Ocupa, no site do museu. Após o credenciamento, as inscrições entram em um banco de exposições para serem analisadas. 

 

IMAGEM: divulgação 

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