Mercado global de trabalho vai gerar 170 milhões de vagas formais e fazer sumir 92 milhões até 2030
O Future of Jobs 2025, relatório do World Economic Forum (WEF), mostra saldo líquido de 78 milhões de vagas no mundo nos próximos cinco anos: 6,5% a mais em relação ao 1,2 bilhão de empregos formais de hoje

Primeiro vem o senso comum. No prazo de cinco anos, haverá uma radical transformação do mercado de trabalho. OK, mas sempre ficam duas questões-chave. Com qual intensidade? E em que áreas? São essas perguntas que o relatório de 290 páginas Future of Jobs 2025, recém-lançado pelo World Economic Forum (WEF), busca responder.
A conclusão é que até 2030 as macrotendências – fatores tecnológicos, ambientais, geopolíticos e demográficos – levarão à criação de 170 milhões de empregos e ao sumiço de 92 milhões, deixando um saldo líquido de 78 milhões. Isso significa uma elevação de 6,5% em relação aos poucos mais de 1,2 bilhão de trabalhadores formais do planeta hoje. Isso responde à pergunta 1 (intensidade).
Atualmente, passado o efeito inicial da pandemia e o controle inflacionário começando a prevalecer na maior parte das economias desenvolvidas e emergentes – Brasil à parte –, a taxa global de desemprego está em 4,9%, o nível mais baixo desde 1991. No entanto, afirmam os autores, “esse número esconde uma série de disparidades”.
Enquanto os países de renda média estão experimentando reduções no desemprego, os países de baixa renda tiveram aumento (de 5,1%, em 2022, para 5,3%, em 2024). Outra desigualdade se dá na questão de gênero. Desde 2020, quando a taxa de desemprego global atingiu o pico para ambos os sexos em 6,6%, a taxa para homens caiu para 4,8%, enquanto a taxa para mulheres permanece elevada, em 5,2%.
Para o relatório, foram ouvidos mais de mil empregadores de organizações líderes globais de 22 setores econômicos. Os entrevistados representam um conjunto 14 milhões de empregados espalhados por 55 países. E são eles que fundamentam principalmente a resposta à segunda questão: em que áreas o impacto será maior?
E a forte demanda na geração de empregos em números absolutos (e não proporcionais a cada setor) traz agronegócio, construção civil, indústria de processamento de alimentos, empregos na economia de saúde e bem-estar (cuidados-enfermagem-assistência social), engenheiros de todos os tipos, especialistas para a transição energética e na área de veículos autônomos, motoristas de entrega, profissionais de educação (de professores a gestores) e, claro, para todas as vertentes da tecnologia – de especialistas em inteligência artificial a profissionais de fintechs.
ENVELHECIMENTO
Claro que os dados estão expurgados de contextos regionais específicos de cada mercado. No Brasil, por exemplo, a área de saúde e cuidados pessoais deve ser altamente impulsionada pelo envelhecimento populacional e pela maior conscientização sobre saúde mental.
De acordo com o Censo Demográfico de 2022, o índice de envelhecimento no Brasil alcançou 55,2 – indicando 55,2 idosos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2010, esse índice era de 30,7.
Além disso, a saúde mental tem ganhado destaque como prioridade também no ambiente de trabalho. Segundo o estudo, cerca de 64% das empresas planejam investir em iniciativas voltadas para a saúde mental e o bem-estar, reconhecendo a importância dessas ações para atrair e reter talentos no cenário corporativo atual.
No lado oposto, as vagas vão sumir essencialmente para operações humanas repetitivas (profissionais de call center), ou de baixa performance no ambiente administrativo – trabalhadores de escritório e secretariado, além de caixas – “devem ver o maior declínio em números absolutos”, afirmaram os autores do relatório do WEF.
O relatório estima que até 2030, 47% das tarefas realizadas atualmente por humanos serão automatizadas ou realizadas em colaboração com máquinas até 2030, o que exigirá adaptações significativas na força de trabalho.
Para enfrentar os desafios da reestruturação do mercado, o Future of Jobs 2025 aponta a necessidade de reskilling (requalificação) e upskilling (capacitação). Aproximadamente 59% da força de trabalho global precisará passar por algum tipo de treinamento até 2030 para se manter competitiva. E as habilidades (soft e hard skills) mais demandadas incluem pensamento analítico, resiliência, flexibilidade, liderança, influência social e conhecimentos em IA e segurança cibernética.
VAREJO
Se parte dos empregos no segmento varejista tende a diminuir com intensidade, como caixas e trabalhadores de backoffice, por outro lado os empregadores do setor não se mostram os mais preocupados com a qualificação de seus funcionários, segundo o relatório. Foram feitas dez questões sobre as habilidades consideradas crescentes em importância para sua força de trabalho de 2025 a 2030. Entre os líderes de 22 setores, os do varejo ficaram no Top 10 apenas em dois skills estratégicos. Os dez temas foram:
IA & Big Data
1º Automotivo-Aeroespacial e Telecom (100% dos líderes dos dois segmentos têm esse skill como decisivo e crescente em suas áreas).
Varejo: não aparece no Top 10.
Redes & Segurança Cibernética
1º Serviços Financeiros (82%).
Varejo: não aparece no Top 10.
Alfabetização Tecnológica
1º Automotivo-Aeroespacial (84%).
Varejo: não aparece no Top 10.
Pensamento Criativo
1º Seguros & Previdência (86%).
Varejo: não aparece no Top 10.
Resiliência, Flexibilidade e Agilidade
1º Agricultura & Pesca (83%).
Varejo: 8º (69%).
Curiosidade e Aprendizagem ao Longo da Vida
1º Educação & Treinamento (79%).
Varejo: 8º (67%).
Liderança e Influência Social
1º Automotivo-Aeroespacial (71%).
Varejo: não aparece no Top 10.
Gestão de Talentos
1º Infraestrutura (70%).
Varejo: não aparece no Top 10.
Pensamento Analítico
1º Educação & Treinamento (70%) e Suprimentos & Logística (70%).
Varejo: não aparece no Top 10.
Gestão Ambiental
1º Óleo & Gás (80%).
Varejo não aparece no Top 10.
IMAGEM: Paulo Pampolin/DC