Mercado financeiro, um vilão legal
Neste ano, o investidor brasileiro terá que aceitar uma parcela maior de risco, se quiser obter uma rentabilidade um pouco melhor para os seus recursos.
Normalmente, quando alguém se refere ao mercado financeiro brasileiro, quase sempre as observações começam com: “Como as taxas de juros estão elevadas!!”, “Os bancos continuam ganhando tudo nesta nossa sofrida economia! ”, “Quanto mais eu pago a minha dívida, mais eu devo!”. Por aí vão seguindo os comentários.
E temos que concordar, pois as taxas de juros sobre operações financeiras não caem na mesma velocidade que a taxa básica de juros (a taxa SELIC), caem a cada reunião do COPOM.
No entanto, precisamos avaliar alguns aspectos importantes antes de rotular o nosso mercado financeiro como um vilão.
Em primeiro lugar, olhando o mercado financeiro sob a ótica de quem necessita de recursos, temos realmente a situação apontada acima.
As taxas de juros são elevadas porque não existem recursos suficientes internamente para financiar as atividades dentro do Brasil.
Sendo assim, o Brasil precisa obter recursos no mercado financeiro internacional pagando altas taxas de juros acrescidas do fator risco gerado pela atual classificação da economia nacional perante os órgãos internacionais de avaliação de crédito.
Além disso, o governo para financiar as suas atividades precisa emprestar volumes significativos de recursos no mercado financeiro, fazendo com que as taxas permaneçam elevadas.
Apesar dessa situação de inflexibilidade para baixo das taxas de juros, as mais recentes informações sobre o mercado de crédito apontam para um crescimento vagaroso, mas importante, das operações de crédito, tanto para pessoas físicas como para pessoas jurídicas.
O aumento gradual da confiança no futuro pelas pessoas físicas tem provocado um aumento nas operações de crédito, segundo as últimas informações do Banco Central.
Até novembro de 2017 (último dado disponível), as operações de crédito para pessoas físicas cresceram 2,8% sobre os dados de outubro e 8,1% sobre novembro de 2016.
A mesma conclusão vale para as operações de pessoas jurídicas: aumento de 3,3% sobre outubro de 2017 e 5,7% sobre novembro de 2016.
Ou seja, aos poucos o crescimento da economia brasileira está acontecendo, as pessoas estão acreditando mais no futuro e aumentando o consumo e, também as atividades econômicas.
A expectativa para 2018 é boa, o que poderá incrementar ainda mais as operações de crédito. No entanto, isso somente se materializará se o cenário político se mantiver estável, sem grandes modificações na atual situação complicada, mesmo levando em consideração que teremos eleições neste ano.
Mas, voltemos ao nosso mercado financeiro. Portanto, do ponto de vista do lado tomador de recursos, a situação é esta: parou de piorar. Se as atuais condições se mantiverem, podemos esperar não um “céu de brigadeiro”, mas um tempo menos nublado à frente!
Vamos analisar o lado dos ofertadores de recursos, os investidores que atuam no nosso mercado financeiro. A CVM e a ANBIMA, entidades que atuam no mercado para oferecer aos investidores condições ideais de aplicação financeira, têm trabalhado muito para manter a estabilidade do sistema como um todo e gerar o crescimento autossustentado de todas as opções de investimentos.
Uma das principais barreiras para o que a CVM e a ANBIMA estão realizando é que o brasileiro ainda é muito conservador e “fechado” nas suas avaliações financeiras.
E isso vale tanto para pessoas físicas como para pessoas jurídicas. Quando você conversa com uma pessoa e pergunta quais investimentos financeiros essa pessoa possui, a primeira informação é: caderneta de poupança. E essa pessoa está certa, mas não totalmente.
No caso da caderneta de poupança, em 2017, as aplicações tiveram um resultado bom. Para uma inflação ao redor de 3%, a caderneta de poupança rendeu 6,61%.
Ou seja, houve um ganho real em 2017. Para o brasileiro, que ainda não está acostumado a se aventurar em cálculos de matemática financeira, essa informação é boa o suficiente para manter os seus recursos nesta aplicação.
Existem outras alternativas que podem levar a um rendimento maior ainda, que oferecem uma rentabilidade mais atrativa ao investidor.
Basta fazer contas!!!. Se olharmos o mercado como um todo, veremos que, apesar de todos os riscos inerentes a este tipo de aplicação, a bolsa de valores rendeu muito bem em 2017: 26,86%.
Essa opção foi, de longa margem, a melhor aplicação. Em segundo lugar, as aplicações em ouro tiveram uma rentabilidade anual de 13,64%, os fundos RF atingiram 10,36% de rentabilidade, os fundos DI, 10,16%, os CDB’s 9,38% e os títulos indexados ao IPCA 7,81%.
No caso das pessoas jurídicas, a captação de recursos para financiamento das operações pode ser feita utilizando outros instrumentos disponíveis no mercado com um custo menor que os de um empréstimo bancário.
É o caso da emissão de novas ações no mercado (no caso de empresa aberta), de debentures, letras de câmbio e notas promissórias. Existe um mercado crescente para estas formas de investimentos e destinação dos recursos captados para as empresas.
E o que se espera para 2018? A principal hipótese é que os juros permanecerão relativamente estáveis no atual nível. Ou seja, muitas das razões que influenciaram os resultados obtidos em 2017 (como demonstram as rentabilidades mencionadas acima) não estarão presentes em 2018.
A valorização das ações, por exemplo, sofrerá por conta das incertezas da área política em implementar medidas econômicas de saneamento e ordenamento interno.
Sendo assim, o investidor brasileiro terá que aceitar uma parcela maior de risco, se quiser obter uma rentabilidade um pouco melhor para os seus recursos.
O conservador tenderá a não enxergar rentabilidade real nas suas aplicações. Já o de perfil moderado ou agressivo precisará fazer muitos cálculos para arriscar.
Enfim, podemos afirmar que o nosso mercado financeiro, apesar de ainda cobrar altas taxas de juros, também oferece alternativas de aplicação de recursos com possibilidades de ganhos significativos. Basta acreditar.