Kassab diz que Lula não terá dificuldades em lidar com o Congresso
Pelas contas do presidente nacional do PSD, o petista terá entre 320 e 340 deputados em sua base, o que lhe garantiria governabilidade
Presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab é tido como estrategista de primeira linha no meio político. Seus movimentos nas últimas eleições reforçaram essa qualidade. Apostou em Tarcísio de Freitas (Republicanos), ministro de Bolsonaro, e garantiu espaço no futuro governo de São Paulo, mas se manteve neutro na disputa polarizada pelo Planalto, deixando portas abertas em qualquer que fosse a campanha vencedora.
Com a vitória de Lula, já ventilam seu nome para algum ministério da gestão petista, algo que ele não descarta, embora veja restrições. “Faltaria naturalidade à minha participação porque não apoiei Lula, fiquei neutro na campanha. Não digo que não serei ministro, mas acho difícil”, disse Kassab durante reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que aconteceu nesta segunda-feira, 7/11.
O presidente do PSD vai se encontrar com Lula nesta semana, a aposta é que ele receberá o convite para compor o novo governo. A partir daí fará seus cálculos políticos, pesando os ganhos de ir para Brasília e os de permanecer mais próximo do novo governador paulista, cuja campanha foi coordenada por ele juntamente com Guilherme Afif Domingos.
Se preferir São Paulo, certamente irá indicar nomes do PSD para ministérios do governo Lula. Kassab deixou claro que seu partido irá compor a base de apoio da gestão petista. Não será apoio irrestrito. “No meio do caminho a gente larga se o novo governo não for aquilo que esperamos.”
Para Kassab, a confiança depositada por ele no governo petista ganharia força se Lula reafirmar que não irá disputar uma reeleição. “Esse é um trunfo de Lula, que o permitiria consolidar o processo de reforma política. Vou deixar isso claro no encontro que terei com ele, que seu governo será um se abrir mão da reeleição, e outro se não abrir”, afirmou o presidente do PSD.
O apoio do PSD será importante para Lula lidar com o Congresso. O partido tem 11 senadores e 42 deputados. Outras legendas de centro, como o MDB, também tendem a apoiar o petista. Nas contas de Kassab, Lula terá entre 320 e 340 deputados em sua base, o que lhe garantiria governabilidade.
Nesse cálculo entra também o PP, de Arthur Lira, que segundo Kassab terá o apoio de Lula em sua recondução à presidência da Câmara. “Lira vai dar todos os anéis, todos os dedos, os braços se for preciso para continuar presidente”, disse Kassab. Ou seja, a recondução de Lira facilitará a aprovação de medidas importantes para o início do governo Lula, como a chamada PEC da Transição.
A PEC da Transição prevê que a União tenha licença para descumprir o teto de gastos a fim de garantir algumas das promessas de campanha de Lula, como a manutenção do Auxílio Brasil – que vai voltar a ser Bolsa Família - em R$ 600 e o aumento do salário mínimo acima da inflação.
“Se a PEC for apresentada, será aprovada. Vai ter boa vontade do Congresso com Lula, mais do que com Bolsonaro, pelos seus erros de início de mandato”, disse Kassab.
DESAFIOS
Vai ser preciso mais do que boa vontade do Legislativo para que o governo Lula coloque fim ao chamado orçamento secreto, como defende Kassab. “Pelo que Lula tem falado, vai tentar acabar com isso, e vai ter o apoio do PSD. Hoje o orçamento secreto anda porque Lira autoriza e Ciro Nogueira [ministro da Casa Civil] dá sequência. Com Lula não vai andar”, afirmou o dirigente do PSD.
Outro ponto crítico do novo governo será a condução da política econômica. Embora Lula ainda não tenha apresentado nomes para a Fazenda, segundo Kassab, só o fato de o petista estar ouvindo André Lara Resende e Percio Arida – considerados os pais do Plano Real – já sinalizaria um bom caminho. Esses dois economistas foram convidados para a equipe de transição do novo governo.
“Há dois anos, ninguém imaginava que Bolsonaro teria condições de se reeleger, e no final ele quase ganha. Isso foi consequência da reação da economia, do bom trabalho de Paulo Guedes. A economia é fator fundamental. Se Lula errar, vai quebrar a cara. Mas ele tem dado boas sinalizações”, afirmou Kassab.
Outra boa indicação, segundo o dirigente do PSD, é a tentativa de Lula levar para o novo governo o seu ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que tem alinhamento com algumas pautas da gestão Bolsonaro e poderia quebrar a resistência de um setor que declaradamente se opõe a um governo petista. “Estou tranquilo em relação à agricultura. Pelos nomes levantados, deve ter continuidade”, disse Kassab.
FIM DE UMA GERAÇÃO
Para o presidente do PSD, o fim do mandato Lula, em 2026, vai encerrar uma geração política. A partir de então, novas lideranças nacionais devem aparecer.
Entre os nomes destacados por Kassab para encabeçar essa nova geração de políticos com cacife para o pleito nacional estão Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo, Raquel Lyra (PSDB), governadora eleita de Pernambuco, e Ratinho Júnior (PSD), reeleito governador do Paraná.
“Quem sai na frente nesse processo de renovação é Tarcísio. Não digo que será candidato à presidente em 2026, eu mesmo não gostaria disso, prefiro ele oito anos em São Paulo. Em dois anos vamos ver quem se consolida mais”, disse Kassab.
Com relação à força de Bolsonaro, o presidente do PSD afirmou que ela será proporcional aos erros de Lula. “Na medida em que Lula acertar, teremos o enfraquecimento da oposição. Se o governo Lula não der certo, vamos ter um país ainda mais dividido”.
IMAGEM: ACSP/divulgação