Joaquim Grava faz história como médico e empreendedor

Quem é e o que pensa o ortopedista que se tornou referência no mundo esportivo e que batiza com seu nome, desde 2010, o centro de treinamento do Corinthians

Wladimir Miranda
13/Mai/2019
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Joaquim Grava faz história como médico e empreendedor

São tantos, que ele não consegue dizer exatamente quantos jogadores, em atividade ou não, já operou. Do Brasil, ou do exterior, não importa, quando a lesão do púbis, ou do joelho é constatada, Joaquim Paulo Grava de Sousa, de 68, anos, paulistano da Vila Nivi, Zona Norte, é referência.

“Atuo na medicina esportiva há 40 anos. Durante este tempo, operei muita gente. Os nomes? Só me lembro de alguns: Renato Augusto (Beijing Guon, da China), Jonas (Benfica/Portugal), Casagrande (comentarista da Rede Globo), Rivaldo, Marcelinho Carioca, Ezequiel, Fabinho, Mancini, Antônio Carlos, Pedrinho, todos ex-jogadores...Impossível me lembrar de todos”, diz.

Há quem afirme que a medicina esportiva brasileira é a melhor do mundo. Joaquim Grava não concorda.

“Não é a melhor, e sim a mais carinhosa, a que acolhe melhor o paciente. Nós, médicos brasileiros, somos mais acolhedores no momento em que o doente mais precisa ser acolhido. O doente precisa ser cuidado. Neste aspecto, somos os melhores”, afirma.

GRAVA: CARINHO COM OS PACIENTES

Quem passa na frente do Instituto Joaquim Grava, na rua Bento de Andrade, 245, no Jardim Paulista, percebe logo que está diante de um estabelecimento conceituado na da área da saúde.

Na entrada, um desfile de carrões, de várias marcas e modelos. Grava atende empresários “que não querem ser citados”, alerta ele. São inúmeras as celebridades dos palcos, do cinema e da televisão que já passaram pelas suas mãos.

Em uma tarde qualquer, é muito comum topar com figuras da televisão, como o apresentador Raul Gil, sempre falando e rindo alto, Ary Toledo. A apresentadora, cantora e dançarina brasileira Carla Perez também foi uma de suas pacientes. Assim como o ator Tarcísio Meira, o apresentador da TV Gazeta Flávio Prado, e o radialista Paulo Lopes.

Mas, avisa Grava, o instituto que leva seu nome não atende somente empresários, artistas, jogadores e ex, não só de futebol, mas de todas as modalidades.

“Atendo pessoas de todas as classes sociais. Não deixo de operar quem não pode pagar. Dou muita importância ao aspecto social. Sou de família humilde. Cuido bem também da parte social. Atendo a todos que me procuram”, diz ele.

O Instituto Joaquim Grava tem hoje um faturamento de mais de R$ 2 milhões por ano. Fica em um imóvel alugado de 500 metros quadrados, com nove funcionários, todos do setor administrativo. O serviço de fisioterapia do instituto é terceirizado.

“Mas o gasto aqui é muito alto, ultrapassa os R$ 100 mil mensais”, afirma ele, que se encaixa perfeitamente no conceito de doutor em empreendedorismo.

O médico fatura bem - ele não fala quanto -, quando é chamado para dar palestras sobre medicina esportiva. É requisitado também para palestras motivacionais, quando fala de sua vida pessoal, de muita superação.

Antes de se instalar no Jardim Paulista, Joaquim Grava teve consultórios em Guarulhos, na Grande São Paulo, Tatuapé e em outra casa da rua Bento de Andrade. Ele escolheu o Jardim Paulista, região nobre de São Paulo, por sugestão de um fisioterapeuta, Renato. O colega o convenceu que a sua clientela reside em grande parte da Zona Sul, não da Zona Leste, e de Guarulhos, onde tudo começou.

“Para montar o meu primeiro consultório, em Guarulhos, investi cerca de R$ 30 mil. Mas o que dou importância mesmo é ao meu trabalho. O maior investimento é o meu trabalho”, lembra.

ATENDIMENTO A TODAS AS CLASSES SOCIAIS NO INSTITUTO JOAQUIM GRAVA

FILHO DE PADEIRO E EMPREGADA DOMÉSTICA

Filho mais novo de um padeiro e uma empregada doméstica, Joaquim foi engraxate nas ruas ainda sem asfalto da Vila Nivi, “para ganhar uns troquinhos”. Antes mesmo de completar o ensino fundamental, fez “bico” como balconista em uma loja de brinquedos na 25 de março, no início da década de 1970.

“Estudei em uma escola de madeira, da prefeitura. Andava mais de uma hora diariamente para chegar ao ponto de ônibus mais próximo”, conta ele.

Nos finais de semana, Joaquim, o “Quinca” como era conhecido na Vila Nivi, não saía da rua.

“Brincava de pião, bolinha, e jogava bola. Eu era um craque da várzea. Fui titular do time principal do Guapira (time de várzea tradicional da Zona Norte) com 16 anos de idade”, recorda.

Um dia, o adolescente “Quinca” sofreu uma contusão no joelho esquerdo, que acabou com seu sonho de ser jogador de futebol profissional, claro, do Corinthians, seu clube do coração.

Após uma fracassada cirurgia no Samdu – Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência -, extinto nos anos 70, “Quinca” foi parar no Hospital Dom Pedro II, que contava com o Doutor João Di Vicenzo, ortopedista conceituadíssimo na época.

“Após a cirurgia, eu disse para a minha mãe que iria ser médico de joelhos, na área de esportes, trabalharia no Corinthians e na Seleção Brasileira”. Prometeu e cumpriu.

Grava incluiu o Santos no currículo. Foi médico do clube da Baixada, cravou seu nome na história do Corinthians e foi da Seleção Brasileira.

Cursou medicina na Universidade de Mogi das Cruzes.

“Passei em outras faculdades, mas escolhi a de Mogi das Cruzes porque ganhei bolsa. Na época não tinha dinheiro para pagar o curso”, afirma.

A primeira experiência como médico foi na Portuguesa de Desportos. Mas não durou muito. A direção da Lusa queria o jovem médico em tempo integral. O salário era muito baixo -“médico de clube ganhava e ainda ganha muito pouco”, diz ele. Além disso, Joaquim Grava precisava de tempo livre para fazer cursos, se especializar na profissão que havia prometido à mãe que seguiria.

Não demorou muito para receber uma ligação da diretoria do Corinthians. O seu clube do coração precisava de um médico para preencher a vaga de outro profissional que acabara de se aposentar.

Vicente Matheus, presidente do Corinthians à época, telefonou para o seu colega, Oswaldo Teixeira Duarte, da Lusa, e pediu informações a respeito de Grava.

Recebeu ótimas recomendações.

Era início dos anos 80. Pronto, Grava começava ali a sua caminhada no Corinthians, onde trabalhou até 2003.

A MANOBRA DE GRAVA

Por uma questão de política interna do clube, foi demitido. Ficou dois anos fazendo cursos de especialização na Europa. Os estudos o levaram a descobrir e introduzir no tratamento de lesões pubianas a “manobra de Grava”, um passo fundamental no tratamento da lesão, que acomete jogadores de futebol, de outras modalidades e também quem não tem o esporte como profissão.

Fora do país, defendeu teses em sua especialidade, foi convidado pelos chineses para ajudar a implantar a medicina esportiva no país, quando a China se preparava para ser a sede dos Jogos Olímpicos, realizados em Pequim, em 2008.

Ao voltar ao Brasil, foi chamado por Andrés Sanchez, que assumia a presidência corintiana em sua primeira gestão.

Grava passaria a ser a partir dali o consultor médico do clube. Presta serviços só para o Corinthians. Com exclusividade.

“O Departamento médico precisava ser reformulado. Mudamos a logística. Equipamentos superados, havia muito por fazer”, conta.

Grava acabara de ganhar um processo trabalhista contra o clube. Ganhou a causa, mas, para não prejudicar financeiramente o time do coração, recusou-se a receber a indenização.

Meses depois – Joaquim Grava conta com exclusividade para o Diário do Comércio -, Andrés Sanchez o recompensou pela generosidade.

“O Andrés Sanchez decidiu pagar parte do que o clube me devia. Foi menos do que eu havia conseguido ganhar na Justiça Trabalhista, mas foi uma compensação financeira para o que eu havia deixado de ganhar”, diz.

Ao entrar de cabeça no processo de reestruturação do departamento médico do clube, Joaquim Grava descobriu o quanto o Corinthians estava atrasado em relação aos rivais. São Paulo, Palmeiras e Santos já tinham seus centros de treinamentos. O Corinthians, não.

Ele havia contribuído e muito no planejamento para a construção do CT Rei Pelé, do Santos. Foi quando se deu conta de que o Corinthians tinha um terreno na Rodovia Ayrton Senna, que estava abandonado.

CT DR. JOAQUIM GRAVA

“Entrei de cabeça no projeto de fazer o Centro de Treinamentos do clube naquele lugar. Fiz tudo, contatos com patrocinadores, resolvi questões burocráticas, ajudei a fazer a planta. E até contratei o arquiteto Ruy Ohtake para transformar aquilo no que é hoje. Eu ia lá todos os dias, até nos finais de semanas. Muitas vezes eu não tinha o que fazer lá. Mas ia, apenas para olhar e pensar em novas ideias. Muitas pessoas no Corinthians diziam que eu estava louco. Eu só pensava no CT. Uma obsessão”, recorda.

Ronaldo, o Fenômeno, foi um grande parceiro de Grava na idealização e construção do CT. Quando o atacante, fora de forma, quase aposentado, foi contratado pelo Corinthians, com o aval médico de Grava, os jogadores corintianos eram obrigados a tomar banho e se trocar em um contêiner que havia no terreno. Vestiários, só nos planos e na planta de Joaquim Grava.

Assim que o complexo esportivo, em 2010, ficou pronto, a diretoria corintiana, Andrés Sanchez à frente, decidiu batizá-lo de Centro de Treinamentos Dr. Joaquim Grava.

Foi uma vitória do empreendedor/doutor “Quinca”.

“É um orgulho muito grande o CT do Corinthians ter o meu nome. É o reconhecimento pela dedicação. É a maior obra do clube em todos os tempos. Depois que conseguiu o seu CT, o Corinthians não parou de ganhar títulos. Isto não é por acaso. Ninguém acreditava que naquele terreno pudesse ser erguido um CT. Tudo o que me propus a fazer na vida, eu fiz. Nunca deixei nada no meio do caminho”, garante ele.

PIZZA NA CASA DO FAUSTÃO

Joaquim Grava é chamado constantemente para participar de programas de rádio e televisão. É presença certa na casa do apresentador de televisão Fausto Silva, que costuma reunir amigos para noites de muita pizza e conversa.

Não escolhe assunto, fala sobre tudo, não só de futebol. Diz que anda preocupado com o nível educacional do país.

“Sou do tempo em que os professores formavam os alunos. Lembro-me até hoje da minha primeira professora, a dona Mirna. Ela moldou a minha formação. Hoje, os próprios pais se rebelam quando ficam sabendo que os filhos foram chamados à atenção na escola. Penso que deveríamos ter o Ministério do Ensino, não da educação. Afinal, os professores não podem formar, educar. São impedidos pelos próprios pais”, afirma ele, que se aventurou na política partidária em 2008.

Foi convidado por Paulo Pereira, o Paulinho da Força, (PDT) para ser seu vice na chapa para disputar a prefeitura de São Paulo, em 2008.

“Me arrependi de ter participado do processo eleitoral. O Paulinho me procurou, disse que o meu nome era forte, segundo pesquisa feita pelo partido. Fiquei empolgado. Pensei que talvez pudesse fazer alguma coisa na área da saúde. Mas desisti quando vi o baixo nível do pessoal do partido”, revela ele.

FOTOS: Divulgação

 

 

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