João Kepler: 'Varejo se beneficia de inovações das startups'
Empresário e investidor serial, Kepler é CVO da Bossa Invest, o venture capital mais ativo da América Latina, com mais de 1 mil startups no portfólio
No mercado de startups da América Latina, o Brasil é referência. Entre 2013 e 2023, o país teve o maior número de empreendimentos inaugurados e ativos na região. Com mais de 13 mil startups ativas (62,9% do total), praticamente duas a cada três, é seguido por México (11,7%), Argentina (7,1%), Colômbia (6,2%) e Chile (5,1%).
“As startups trazem agilidade e novas abordagens que ajudam os varejistas a se adaptarem rapidamente às mudanças nas demandas dos consumidores”, disse o empresário e investidor João Kepler, especialista em startups.
Segundo ele, acompanhar o ecossistema de startups é essencial para compreender as possibilidades de avanço do varejo e como ele pode se configurar diante dos desafios e oportunidades emergentes.
Aos 55 anos, Kepler é um investidor-anjo (os que financiam empresas em fase inicial) desde 2008, reconhecido por quatro anos consecutivos como o melhor investidor-anjo do Brasil pelo Startup Awards. Atualmente, é o CVO da Bossa Invest, o venture capital mais ativo da América Latina, com mais de 1 mil startups no portfólio.
Nascido em Macapá, capital do Amapá, e atualmente vivendo entre São Paulo e Maceió, Kepler também é CEO da Equity Fund e atua como conselheiro de empresas, destacando-se pela sua especialização na relação empreendedor-investidor. Confira, a seguir, trechos da entrevista exclusiva que ele concedeu à DC NEWS.
DC NEWS – Falando em startups, que segmento o senhor considera que tenha mais chances de sucesso no mercado?
João Kepler – Atualmente, vejo que o segmento de tecnologia financeira, ou fintechs, tem uma penetração significativa e grandes chances de sucesso. A razão é simples: existe uma demanda crescente por soluções financeiras mais acessíveis, eficientes e inovadoras. As fintechs conseguem preencher lacunas deixadas por instituições financeiras tradicionais, oferecendo serviços mais rápidos, baratos e convenientes.
DCN – Como o segmento do varejo tem se beneficiado das inovações desenvolvidas pelas startups?
Kepler – O varejo tem se beneficiado enormemente de inovações trazidas por startups. As tecnologias de personalização, automação de processos, e-commerce aprimorado e logística eficiente são apenas alguns exemplos de como ideias inovadoras estão transformando o setor. As startups trazem agilidade e novas abordagens que ajudam os varejistas a se adaptarem rapidamente às mudanças nas demandas dos consumidores.
DCN – Quais áreas do varejo podem se reinventar com a ajuda das startups?
Kepler – As principais incluem a logística, a experiência do cliente e a análise de dados. Startups estão desenvolvendo soluções para otimizar a cadeia de suprimentos, personalizar a jornada do cliente e oferecer insights por meio de análise de dados, melhorando a eficiência operacional e a satisfação do cliente.
DCN – Quais são as tendências mais promissoras no mercado de startups voltadas para o varejo?
Kepler – Entre as tendências mais promissoras, estão as realidades aumentada e virtual para experiências de compra imersivas, inteligência artificial para personalização e previsão de demanda, tecnologias de blockchain para transparência na cadeia de suprimentos, robótica, biometria e reconhecimento facial. Essas tecnologias estão redefinindo a maneira como os consumidores interagem com as marcas e como os varejistas gerenciam suas operações, se comunicam e se relacionam com os clientes.
DCN – Como os varejistas podem identificar quais startups são as mais adequadas para suas necessidades específicas e, assim, criar estratégias de inovação aberta?
Kepler – Os varejistas podem começar mapeando suas necessidades específicas e desafios operacionais. A partir daí, eles devem procurar startups que ofereçam soluções alinhadas a essas necessidades. A criação de uma estratégia de inovação aberta inclui a formação de parcerias estratégicas, participação em hubs de inovação, investimentos em fundos de venture capital e também a criação interna de programas de aceleração para se conectar com as startups.
DCN – Alguma dica específica?
Kepler – Meu conselho é começar pequeno. Comece testando e validando uma solução de startups. Depois, verifique os caminhos e possibilidades de contratação, investimentos… Evite o erro de esperar resultados imediatos. Inovação requer tempo. Também é importante criar uma cultura de inovação dentro da empresa, na qual as ideias possam ser exploradas sem medo de falhar.
DCN – Você poderia compartilhar algumas lições aprendidas de investimentos que não deram certo?
Kepler – Uma lição importante é a necessidade de due diligence (pesquisa para traçar o perfil de uma empresa) rigorosa. Às vezes, a empolgação com uma ideia inovadora pode levar a decisões precipitadas. É crucial analisar profundamente a equipe, o mercado e a proposta de valor antes de investir. Outra lição é a importância de estar preparado para o fracasso. Nem todas as apostas darão certo. É fundamental aprender com esses erros para melhorar as futuras decisões de investimento.
DCN – Como considera o Brasil no quesito inovação?
Kepler – Temos um ecossistema vibrante de startups, com empreendedores criativos e resilientes. Embora ainda enfrentemos desafios como burocracia e infraestrutura, a capacidade dos brasileiros de resolver problemas e criar inovações é reconhecida internacionalmente. Isso atrai investimentos de fundos estrangeiros que veem grande potencial em nosso mercado, especialmente em setores como fintech, agtech, edtech e retail tech. O Brasil é líder na América Latina em investimentos em startups. Os números do segundo trimestre de 2024 indicam que o setor de startups na América Latina está amadurecendo. O aumento significativo no volume de investimentos reflete a confiança dos investidores no potencial das startups nacionais.
DCN – Que motivos o senhor apontaria para se investir no Brasil?
Kepler – Sou suspeito, mas nossos resultados por aqui respondem. Investir no Brasil é investir num mercado com enorme potencial de crescimento e uma população jovem e conectada. As startups brasileiras estão resolvendo problemas reais com soluções inovadoras e escaláveis. Além disso, a diversidade cultural e econômica do país cria um ambiente rico para inovação e desenvolvimento de negócios disruptivos.
IMAGEM: Raul Paz