Investidores e empresas têm visões distintas sobre práticas ESG
As principais divergências aparecem em relação a criação de valor de longo prazo e no crescimento sustentável
Quase oito em cada dez investidores consideram que as empresas devem fazer investimentos que enderecem questões ESG relevantes para seus negócios, mesmo que isso reduza os lucros no curto prazo.
Mas apenas 55% dos líderes financeiros acreditam que suas empresas devem endereçar essas questões, mesmo quando o resultado disso signifique redução no curto prazo do desempenho financeiro e da lucratividade.
Essas constatações fazem parte do estudo EY Global Reporting and Institutional Investor Survey e demonstram que há desconexão entre as organizações e os investidores em relação aos esforços de sustentabilidade que devem ser empreendidos pelas empresas.
Participaram do estudo mais de mil CFOs e outros líderes seniores de finanças de todo o mundo, além de 320 investidores institucionais.
Essa diferença de entendimento ocorre em uma das questões mais relevantes de ESG: a manutenção do foco por parte das empresas na criação de valor de longo prazo e no crescimento sustentável, evitando assim o pensamento de curto prazo, que tende a afastar essas iniciativas.
A mentalidade em desarmonia desses dois importantes stakeholders pode impactar as organizações, além de prejudicar o bom funcionamento do mercado de capitais e os esforços coletivos contra as mudanças climáticas.
Ao mesmo tempo, as organizações se queixam do comportamento dos investidores que, para elas, estão atentos a oportunidades de curto prazo. Mais da metade delas (com faturamento superior a US$ 10 bilhões por ano) acreditam que seus esforços para conduzir investimentos de longo prazo são, na realidade, impedidos pela pressão dos investidores para mostrar ganhos de curto prazo.
Por outro lado, oito em cada dez investidores dizem que muitas empresas falham em explicar seu racional ou sua lógica para investimentos de longo prazo em sustentabilidade, o que faz com que seus projetos ou suas iniciativas nessa área sejam de difícil avaliação.
As divulgações corporativas envolvendo sustentabilidade são um dos insights mais relevantes usados pelos investidores para compreender o impacto dessas ações no desempenho, nos riscos e nas perspectivas de crescimento de longo prazo de uma empresa.
Quase todos os investidores – o equivalente a 99% – utilizam as divulgações das empresas sobre ESG como parte de suas decisões de investimento. Mais de sete a cada dez, ainda segundo o estudo, adotam abordagem ESG rigorosa e estruturada.
A desconexão entre organizações e investidores também foi identificada nesse ponto. Os investidores sentem que não obtêm das organizações os relatórios e os insights baseados em dados de que precisam para justificar suas tomadas de decisão de investimento e sua avaliação sobre o crescimento e o perfil de risco de uma empresa.
Mais de sete a cada dez afirmam que “as organizações falham em criar relatórios mais aprimorados, abrangendo divulgações financeiras e de ESG, informações essas imprescindíveis para a tomada de decisão”.
Para 76% dos investidores participantes, as empresas são altamente seletivas na escolha das informações sobre ESG que vão fornecer a eles, despertando assim questionamentos sobre greenwashing.
Para reverter essa impressão negativa, o estudo da EY aponta os principais elementos que precisam constar nos relatórios corporativos de sustentabilidade para atender às expectativas dos investidores:
- Foco
As empresas devem responder aos investidores alinhando seus portfólios ao net zero, com uma visão robusta das oportunidades e dos riscos, incluindo o de transição para a agenda ESG, bem como uma análise de cenário climático.
- Prestação de contas
As organizações devem estabelecer uma governança robusta, com supervisão do conselho, em relação à sustentabilidade. Essa iniciativa será vista pelos investidores com ainda mais relevância no caso de empresas que estejam saindo do campo das promessas de ESG para o progresso efetivo com geração de resultados.
- Transparência
As empresas devem responder aos apelos dos investidores por divulgações ESG mais consistentes, comparáveis e confiáveis. Para isso, a recomendação é que elas se antecipem aos padrões de relatórios globais que estão surgindo e melhorem a qualidade dos dados ESG, a fim de saciar o apetite dos investidores por essas informações.
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