Inteligência artificial: a fronteira tecnológica do varejo

Três startups mostram como estão usando as máquinas para tornar o comércio mais inteligente para os varejistas -e mais eficiente aos consumidores

Sérgio Teixeira Jr.
02/Nov/2017
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Inteligência artificial: a fronteira tecnológica do varejo

Depois de um longo inverno confinada aos departamentos de ciência de computação e aos livros de ficção científica, a inteligência artificial (IA) vem dominando as conversas no mundo da tecnologia. 

A combinação da IA com sensores cada vez mais baratos e onipresentes e robôs mais modernos e versáteis é o que está por trás de inovações como os carros autônomos, demonstrados pelo Google há alguns anos e hoje tema obrigatório em todas as montadoras do mundo. 

Os carros que andam sozinhos ainda devem demorar um tempo para circular pelas ruas, mas a IA já está presente no bolso de centenas de milhões de consumidores do mundo todo na forma de assistentes inteligentes, como a Siri, da Apple, o Google Assistant, e também nas casas, com a Alexa, da Amazon.

E o varejo? Bem, essa revolução também não deve demorar a aparecer em lojas e sites de comércio eletrônico. 

A tecnologia já existe. O Innovation Lab, um espaço onde inovações de ponta foram apresentadas no Big Show, o evento anual dos varejistas americanos, foi ampliado –um sinal da importância crescente da tecnologia digital para o mundo do varejo. 

Os visitantes da convenção puderam ver de perto produtos e softwares que prometem ter efeito tão transformador nos negócios quanto os primeiros websites, mais de duas décadas atrás. 

Conheça três startups que mostraram como estão usando as máquinas para tornar o comércio mais inteligente para os varejistas -- e mais eficiente para os consumidores. 

O FUTURO DAS BUSCAS

A Sentient Technologies nasceu em 2007, mas só veio a público há dois anos, depois de um longo período operando em segredo. 

Apesar do pequeno período em operação oficial, a companhia tem um pedigree de respeito – seus fundadores trabalharam na empresa que criou o assistente inteligente Siri, da Apple – e já recebeu US$ 135,7 milhões em investimentos de risco. 

A especialidade da empresa é inteligência artificial, uma área que tem aplicações diversas e que apareceu com força total na edição deste ano do Big Show. 

Um dos usos potenciais da IA para o varejo é as buscas. Os sites de comércio eletrônico mudaram de cara e estão mais sofisticados, com melhores imagens, vídeos e versões móveis. 

 

BUSCAS ESTÃO NO FOCO DA SENTIENT. FOTO: DIVULGAÇÃO

 

Mas uma função essencial segue praticamente inalterada: como ajudar o consumidor encontrar exatamente o que procura? 

Basicamente desde os primórdios do comércio eletrônico, as pesquisas se resumem a digitar uma coleção de palavras numa caixa de busca – e depois caçar o produto desejado entre páginas e mais páginas de resultados.

Uma das tecnologias exibidas pela Sentient mostra como a inteligência artificial pode transformar essa experiência, um dos pontos-chave para as vendas online. 

Considere um cliente que está procurando óculos escuros. O sistema mostra imagens dos nove formatos mais comuns. 

Feita a primeira escolha, outras nove opções são apresentadas. Três ou quatro passos depois, o cliente reduz o número de opções de centenas para menos de uma dezena. 

Mesmo sem saber, o cliente está interagindo com um sistema extremamente sofisticado, capaz de “ler” as imagens dos produtos à venda, organizá-los e selecioná-los de acordo com o estilo do consumidor. 
“Uma busca mais eficiente, especialmente em produtos que têm grande apelo visual, aumentam as taxas de conversão em 20% e a compra média dos clientes em 15%”, disse Jonathan Epstein, diretor de marketing da companhia. 

“Além disso, as informações colhidas sobre as preferências do cliente geram campanhas de marketing muito mais precisas”.
 
SAPATOS QUE CALÇAM COMO UMA LUVA

Todo mundo sabe o número que calça, mas se comprar sapatos fosse tão simples como dizer um número para o vendedor o mundo seria um lugar melhor. 

As pessoas têm pés de formatos diferentes, e o sistema numérico adotado pela indústria dos calçados não é exatamente padronizado, como sabe qualquer pessoa que já se viu sentada diante de uma pilha de caixas de sapatos numa loja. 

Com a ajuda de computadores e sensores, a empresa sueca Volumental quer acabar com a frustração – e os calos – dos consumidores do mundo inteiro.

A companhia, fundada por uma neurocientista e três especialistas em visão computadorizada, criou um scanner que gera uma imagem tridimensional e volumétrica dos pés. 

 

SCANNER DE PÉS INCENTIVA O CONSUMIDOR A ESCOLHER PRODUTOS. FOTO: DIVULGAÇÃO

 

O arquivo resultante contém informações precisas sobre a curvatura dos arcos e a largura dos pés, algo que é virtualmente impossível de estimar usando as ferramentas tradicionais – sem contar o fato de que pouquíssimas lojas têm pessoal capacitado para fazer esse tipo de medição. 

A representação digital do pé do cliente aparece na tela de um tablet e, com base nela, o vendedor pode sugerir os modelos mais adequados.

Os scanners da Volumental já são usados por varejistas dos Estados Unidos, da Europa e do Japão. 

Recentemente, a empresa também anunciou que vai instalar os aparelhos em algumas lojas da fabricante de tênis New Balance. 

Os clientes podem fazer o scan dos pés gratuitamente, em troca do nome e do endereço de email. Isso em si já é uma informação valiosíssima para a empresa, que passa a dispor de uma informação essencial para fazer recomendações personalizadas. 

E, segundo a Volumental, 80% dos clientes que usam o scanner acabam saindo da loja com um par de tênis novos. 

O COMPUTADOR ESTÁ DE OLHO

Câmeras não são novidade nenhuma no varejo. Além do monitoramento de segurança, sistemas que medem o tráfego com base nas imagens capturadas já são utilizados por empresas do mundo inteiro. 

Mas a Focal Systems, startup do Vale do Silício especializada em visão computadorizada, criou uma maneira inovadora de unir as câmeras a tablets, com o objetivo de melhorar a experiência do consumidor e, ao mesmo tempo, melhorar a eficiência dos supermercados.

O sistema desenvolvido pela Focal Systems é muito parecido com um tablet. 

O equipamento, instalado na manopla dos carrinhos de compra, tem uma tela voltada para o cliente e, dos lados, câmeras que capturam os produtos da prateleira. 

Do lado do consumidor, a ideia é indicar promoções de acordo com sua localização (o tablet sempre sabe em que lugar está dentro da loja) e também servir como um mapa – algo especialmente importante em hipermercados. 

Experiências piloto realizadas pela empresa indicam que 61% dos clientes interagiram com o tablete e 41% deles clicaram nas promoções apresentadas para saber mais. 

“Outro uso potencial é usar a tela para mostrar anúncios”, diz François Chaubard, presidente e co-fundador da Focal Systems.

Se a loja ajuda o cliente a tirar vantagem de descontos e a encontrar os produtos que procura, o cliente ajuda a loja fazendo uma varredura dos corredores e prateleiras. 

As câmeras laterais do tablet detectam a estocagem de produtos e disparam alertas caso algum deles esteja em falta. Em vez de procurar o que está em falta, os estoquistas usam o tempo para manter as prateleiras sempre abastecidas. Nos testes da Focal Systems, o problema de produtos em falta foi reduzido em 30%.

O objetivo final da empresa é permitir que o tablet funcione também como um caixa – algo semelhante ao projeto da loja Amazon Go

Chaubard diz que o equipamento também é capaz de identificar quando o produto é colocado – ou retirado – do carrinho, sem a necessidade de enfrentar filas e passar pelo caixa. 

Basta fazer a soma no próprio tablet, pagar e ir embora. A Focal Systems espera ter a tecnologia pronta no segundo semestre. “Este é o futuro das compras de supermercado”, afirma Chaubard.

FOTO: Thinkstock

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