Influenciadores avançam como concorrentes das marcas tradicionais
Com milhões de seguidores em seus canais, Logan Paul (esq.) e KSI se juntaram para lançar a Prime, empresa de bebidas energéticas e isotônicas que faturou US$ 1,2 bilhão em 2023. E esse é apenas um dos exemplos

Mr. Beast, ou James ‘Jimmy’ Donaldson, seu nome real, é um influenciador e criador de conteúdo americano de 26 anos. Seu canal no YouTube tem o maior número de inscritos no mundo – são 319 milhões, além das 60 bilhões de visualizações acumuladas em 820 vídeos.
Seus vídeos fazem sucesso no mundo todo e têm até tradução para o português brasileiro. Mostram desafios bizarros, como uma disputa feita por 100 pares de gêmeos que premia a dupla vencedora com US$ 250 mil.
Não bastasse ser essa referência no conteúdo em vídeo, resolveu virar varejista no segmento de alimentos. Em 2022, colocou em operação a Feastables, de barras de chocolate (o produto se chama Mr. Beast Bar). Elas são vendidas no Brasil. A marca prevê receita de US$ 500 milhões até o fim deste ano, disse Donaldson em entrevista para a revista Time.
A experiência não foi a primeira. Em novembro de 2020, ele já havia lançado o Mr. Beast Burger – delivery de hambúrgueres – que chegou em maio ao Brasil. No ano passado, o faturamento da rede foi de US$ 82 milhões, segundo reportagem do Yahoo Finance. Ele não virou empreendedor por brincadeira, e não é o único.
Outro youtuber, Olajide Olayinka Williams, ou KSI como é apelidado na internet, 31 anos, tem 24 milhões de inscritos no seu canal principal e 16 milhões no seu canal mais recente. Ficou famoso pelos vídeos jogando o clássico de futebol Fifa. Chamou o influenciador Logan Paul, 29 anos – 23,6 milhões no youtube e ex-ator de séries infantojuvenis da Disney – para ser seu sócio. Eles abriram juntos a Prime, empresa de bebidas energéticas e isotônicas, como o Gatorade.
Lançada em 2022, no seu primeiro ano já faturou US$ 250 milhões e, no ano passado, bateu a marca de US$ 1,2 bilhão, segundo informações passadas pela dupla de influenciadores à Bloomberg.
Há menos de um mês, Mr Beast, KSI e Logan Paul se juntaram e lançaram uma nova investida, a Lunchly. Um kit de lanches para a escola contendo uma garrafa de Prime, uma Mr. Beast Bar e três opções de salgados, podendo ser pizza, nachos ou peito de peru com bolachas salgadas. O novo produto é focado no público mais jovem, que ainda vai para a escola, e como os outros negócios do trio, deve emplacar novamente como sucesso.
Segundo Thiago Muniz, CEO da consultoria Receita Previsível no Brasil, enquanto empresas tradicionais lutam tentando criar conversas com sua audiência, esses influenciadores, que mal chegaram aos 30 anos, já têm a conversa e o contexto. Só precisam do produto.
“O alcance é facilitado porque existe autenticidade e proximidade com a audiência. Essa sensação de proximidade gera confiança e lealdade”, afirmou.
Produtos como esses, focados em um nicho de mercado específico, são mais efetivos. “Ao contrário de grandes indústrias que gastam rios de dinheiro com P&D, abrir uma caixa de perguntas no Instagram com seguidores que já admiram você pode ser uma forma rápida de validar uma demanda e inovar.”
Segundo Muniz, existem três pontos que contribuem para a estratégia desses youtubers. A primeira é o fato de a marca ter crescido através de jovens e crianças que ouviram falar do produto de forma orgânica por meio dos influenciadores. “É o boca a boca”, afirmou.
A experimentação é o segundo passo. O terceiro é a sensação de pertencimento do movimento, que leva os consumidores a gravar vídeos sobre os produtos no TikTok e postar no Instagram. “O último passo é o que faz com que essa máquina realmente gire, voltando ao primeiro passo e gerando essa divulgação orgânica e massiva.”
Muniz também destaca que, no Brasil, a influenciadora Virgínia [Fonseca] segue um modelo parecido. Com 50 milhões de seguidores, ela lançou em 2020 a marca de cosméticos WePink, que teve receita de R$ 58 milhões apenas no mês de julho deste ano, conforme informações publicadas em seu perfil no Instagram.
A empresa já vende mais de 100 produtos para cabelo, corpo, tratamento da pele e desodorantes. Com 25 anos, nascida nos Estados Unidos, filha de brasileira e português, Virginia é também dona de uma marca de roupas para bebês, a Maria’s Baby.
Muniz afirma que esses casos ensinam que as marcas ainda devem aprender muito sobre como trabalhar a influência e o tato com o consumidor. E que hoje o concorrente pode surgir de qualquer lugar. Seja de uma grande corporação ou de um influenciador digital com uma base de fãs leal e engajada. “A marca que consegue engajar e cativar o público de maneira efetiva se torna uma ameaça, independentemente de vir do setor tradicional ou não.”
IMAGEM: Logan Paul/divulgação