Inadimplência de pequenas e médias empresas já chega a 10%
A alta dos custos, a recessão e a falta de confiança estão dificultando a vida do empreendedor, que não consegue honrar compromissos

No segundo trimestre deste ano, a inadimplência das empresas cresceu 10,7% na comparação com igual período de 2014, segundo pesquisa da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
Em outra base de comparação, o índice de calote subiu 9,4% no primeiro semestre deste ano contra igual período do ano passado.
É importante ressaltar que a maior parte das empresas pesquisadas pela Boa Vista são pequenas e médias, sobre as quais aumentaram os registros de cheques devolvidos e títulos protestados.
No acumulado de quatro trimestres até junho - contra os quatro trimestres antecedentes - a inadimplência subiu 8,3%. Este foi o maior ritmo de crescimento desde os últimos três meses de 2012, quando o indicador atingiu 5,9%.
A série da Boa Vista SCPC mostra que a inadimplência das empresas ficou negativa do segundo trimestre de 2013 até o primeiro de 2014. Depois, cresceu gradualmente e deu um salto desde os primeiros três meses deste ano, quando estava em 5,8%, na série acumulada.
Flavio Calife, economista da Boa Vista SCPC, diz que a baixa capacidade de pagamento de dívidas pelas empresas é resultado de um cenário de retração econômica, no qual as empresas faturam menos. "Todos os setores estão sendo atingidos, o comércio e a indústria. Até os serviços estão tendo receita real negativa", afirma Calife.
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O economista lembra que, ao mesmo tempo em que as vendas caíram, houve forte aumento de custos para as empresas. Mesmo a saída mais comum adotada por empresários, que é a contratação de capital de giro, está mais difícil e com taxa de juros maior.
"O cenário é de aperto para honrar pagamentos e deve seguir assim até o fim deste ano. Mas não deve piorar. Acredito que a inadimplência das empresas encerre 2015 em um número próximo ao do último trimestre (8,3%), podendo chegar a dois dígitos", afirma.
Ele diz que a inadimplência é um indicador antecedente ao de pedidos de falência, que também cresceram segundo outro levantamento da Boa Vista SCPC.
O cenário para o próximo semestre é de redução de custos e de mão de obra nas empresas, o que também gera ônus para o caixa, que deve seguir com a receita menor. Fora isso, boa parte da alta de custos foi absorvida com os aumentos promovidos nas tarifas de energia elétrica e de água, por exemplo.
Além de procurar ajustar as despesas à receita, Calife diz que as empresas terão de lançar mão de outras técnicas para conseguir sair da inadimplência. Com o crédito restrito e os juros elevados nos bancos, uma saída pode ser por meio da venda de ativos (bens) ociosos - o desinvestimento.
ATIVIDADE E CONFIANÇA FRACAS
Um outro levantamento da Serasa Experian mostra que os efeitos do ajuste macroeconômico em curso (combate à inflação via elevação de juros, aumento de impostos e corte de gastos para recompor o superávit primário, além de depreciação cambial para reverter o déficit externo) estão atingindo mais fortemente a evolução da atividade econômica no segundo trimestre, como já era esperado.
Assim, o índice de atividade econômica da Serasa Experian recuou 0,8% em maio ante abril. Na comparação com maio do ano passado, a queda foi de 1,7%.
Já nos cinco primeiros meses do ano houve retração de 1,3% ante igual intervalo de 2014.
Segundo a Serasa, como o índice já havia caído 0,6% em abril, na margem, esse novo recuo praticamente confirma a recessão na economia brasileira.
A recuperação da economia vai depender, agora, da volta da confiança dos consumidores e empresários na economia. É o que constata uma análise publicada em relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Segundo avaliação do FMI, a piora da confiança de empresários e investidores no Brasil é um dos fatores que deve fazer a economia se contrair mais que o previsto este ano.
E o motivo para a baixa confiança se deve principalmente a fatores internos, segundo comentário de Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, em relatório da instituição.
O relatório menciona que o PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos pelo país) real contraiu-se nos três primeiros meses do ano no Brasil e que dados preliminares do segundo trimestre indicam uma nova deterioração, inclusive no mercado de trabalho.
Werner destaca também que a inflação no Brasil vem se mantendo "incomodamente alta".
A avaliação é de que a piora do desempenho do PIB brasileiro é reflexo de uma contração significativa do investimento privado e um declínio moderado do consumo privado, devido à perda de confiança atribuída principalmente a fatores internos.
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*Com informações de Estadão Conteúdo
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