Gasto com educação aumenta, mas não melhora aprendizagem

Uma das tantas cobranças da sociedade em relação aos impostos é a falta de qualidade na educação

Rejane Tamoto
27/Abr/2015
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Gasto com educação aumenta, mas não melhora aprendizagem

Não que o Brasil não tenha feito nada a respeito. Mas a cobrança de um retorno melhor nessa área é positiva porque a educação é um gerador de oportunidades para a sociedade ser mais meritocrática.
 
Nos últimos anos, o gasto nessa área aumentou, e se espera que chegue a 10% do PIB, quando finalmente o pré-sal começar a render frutos. Em 2009, corrrespondia a 4,3% do PIB e hoje, 6% --um percentual maior do que a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 5,6%.
 

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É importante frisar que o percentual se refere a uma média de 34 países, dos quais muitos são ricos e dez estão em desenvolvimento. Quando se compara o número de alunos em cada país, o Brasil gasta apenas um terço do valor gasto com estudantes em países ricos. O problema é que os estudantes estão na escola. mas não aprendem.
 
“Infelizmente não leem bem e não sabem porcentagem. A questão central é que o gasto com educação tem de alavancar a aprendizagem”, diz Claudia Costin, hoje diretora global de educação do Banco Mundial, órgão ligado à ONU (Organização das Nações Unidas) e ex-secretária municipal de educação do Rio de Janeiro.
 
Especialista no assunto, Claudia diz que o enfoque das políticas públicas brasileiras está em escolas com muitos recursos físicos, aulas de dança, música, e também na ideia do tempo integral.
 
Não que isso atrapalhe, mas a questão da aprendizagem deveria ser posta em primeiro plano. O problema não está no tempo que o aluno fica na sala de aula.
 
Na Alemanha, por exemplo, são apenas seis horas. E no exame Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), realizado pela OCDE a cada três anos, aquele país está na 16ª posição em matemática, enquanto o Brasil está na 58ª posição.
 
Segundo Claudia, falta um consenso do que precisa ser feito no país para melhorar a aprendizagem. Ela destaca as deficiências nos currículos para estudantes e professores e a falta de autonomia das escolas.
 

 

CLAUDIA COSTIN: "CURRÍCULO É ESSENCIAL PARA A EDUCAÇÃO"

“A educação custa muito mesmo, com maior peso para o professor. É preciso ter um número adequado de professores, e a carreira precisa ter um salário atraente”, defende.
 
É preciso que, no Brasil, a carreira seja valorizada para atrair os 20% melhores alunos do ensino médio, a exemplo do que acontece na Finlândia. A falta de consenso trava a evolução da educação. Uma comparação comum, por exemplo, é o da Coreia do Sul, que na década de 1930 tinha os mesmos níveis de educação que o Brasil.
 
O país decidiu universalizar a educação primária na década de 1960 e avançou. Hoje, por exemplo, está no 5º lugar do Pisa no quesito matemática.  O país gasta 4,9% do PIB com educação e tem uma carga tributária menor, de 24,3% do PIB.
 
Os problemas de aprendizagem, na opinião da especialista, têm raízes na falta de um currículo nacional, que na verdade define o que a criança tem de aprender e quando.
 
Segundo ela, há demora e resistência para a criação de um currículo nacional no Brasil. O resultado é que isso prejudica a aprendizagem. Um exemplo, segundo Claudia, é que a escolha de livros didáticos fica nas mãos dos professores.
 
Assim, há o risco de o aluno entrar em contato com porcentagem, sem sequer ter aprendido fração. “Um professor escolhe um livro e no outro ano outro docente escolhe outro. Muitas vezes o aluno vê o tema da Revolução Francesa mais de uma vez”, diz.

O currículo nacional, neste caso, seria uma diretriz para os livros didáticos de acordo com a série da criança.
 
Os problemas de aprendizagem dos alunos também se estendem à formação dos docentes, que hoje têm um currículo que prepara pouco para a profissionalização e é concentrado em disciplinas pouco úteis na vida prática, como a história da educação.
 
Claudia diz que, consequentemente, os professores precisam ter salários decentes e padrões de boas práticas. “O professor tinha que ter teoria e muita prática, como acontece hoje na formação de médicos, que fazem a residência para concluir a formação prática de cuidar da saúde das pessoas”, afirma.
 
“O problema do Brasil é que o governo quis fazer tudo ao mesmo tempo, melhorar da creche ao ensino superior, com transporte, uniforme e merenda. E quem quer tudo não tem qualidade em tudo. É preciso ser seletivo e enfatizar o gasto por etapas, em um processo sequencial, como ocorreu no Japão e na Coreia”, conclui.

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