Franchising recua no 1° tri, mas segmentos adaptados à pandemia crescem
Queda no faturamento foi de 4% ante 1° tri de 2020, diz a ABF. Já modelos que dispensam ponto comercial, como home based - caso da Suport Smart (acima) - ampliaram participação para 10,3%
O setor de franchising continua buscando alternativas para minimizar os impactos da pandemia e voltar a crescer em 2021. Pesquisa de Desempenho do 1° tri de 2021, divulgada nesta quarta (02/06) pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), aponta que o faturamento do setor recuou 4% ante igual período de 2020.
Na comparação com os meses de janeiro a março do ano passado, o montante diminuiu de R$ 41,537 bilhões para R$ 39,881 bilhões. Analisando o intervalo de 12 meses, período integralmente impactado pela pandemia, o setor registrou uma queda ainda maior, de 11,4%, nas receitas.
Os dados indicam que os reflexos econômicos e sociais permanecem, à medida que a pandemia ainda atinge o país, impondo restrições à circulação e ao funcionamento dos shoppings e do comércio não-essencial.
O ambiente instável, a queda dos índices de confiança do empresariado e dos consumidores e a vacinação em ritmo insuficiente também são fatores que concorreram para este resultado.
André Friedheim, presidente da ABF, diz que, assim como os demais setores, o franchising continua sentindo os impactos da pandemia. Porém, por ser estruturado e resistente, luta para amenizar as perdas.
Ele destaca que é preciso que a vacinação em massa da população acelere, para que não sejam necessárias novas medidas restritivas que dificultem o funcionamento dos negócios.
"Além disso, é preciso também que sejam mantidas e ampliadas as políticas de crédito às empresas em geral, mas especialmente às micro e pequenas, que são as que mais geram emprego e renda, além das políticas sociais, como a concessão do Auxílio Emergencial", reforçou.
EXPANSÃO GANHA RITMO
A expansão das redes de franquia continua, mesmo com o cenário não tão favorável, aponta a pesquisa. No primeiro trimestre de 2021, foram abertas 3,3% unidades a mais, contra 2,3% em igual período de 2020.
Os fechamentos ficaram em 1,4%, resultando num saldo positivo de 1,9%. No 1º tri de 2020, o saldo era de 1%. Já os repasses se mantiveram estáveis, passando de 0,6% das operações em 2020 para 0,5% em 2021.
Segundo Friedheim, este quadro é atribuído ao maior otimismo dos empreendedores e redes no último trimestre de 2020 – o que se traduziu em inaugurações nos três primeiros meses de 2021. Assim como a falta de perspectivas no mercado de trabalho - o que leva muitos profissionais a empreender.
"O juro básico da economia em níveis historicamente baixos também é fator muito importante, que leva investidores a buscarem taxas de retorno mais interessantes na economia real”, explica.
O Portal do Franchising, principal canal digital de franquias no Brasil, registrou dados interessantes desse movimento. Mais jovens entre 18 e 24 anos estão se interessando pelo setor, tanto que o volume de buscas por parte desta faixa saltou de 10,2% para 21,3%, ou seja, mais que dobraram entre jan/2019 a mai/2021
Por outro lado, potenciais investidores mais maduros, com mais de 65 anos, também realizaram mais buscas por franquias no Portal, passando de 3,1% para 4,7% em igual período, com uma variação de 52,5%.
Outro dado importante é que cresceu o número de cadastros de empreendedores interessados em franquias com investimento entre R$ 100 e R$ 200 mil, que agora representam cerca de 16% dos cadastrados.
SEGMENTOS CONTINUAM A CRESCER
Alguns segmentos permanecem em alta na pandemia, indica a pesquisa. Como Casa e Construção, que registrou uma alta de 36,5%, beneficiado por fatores como maior demanda por reparos, manutenções e reformas, com a permanência das famílias em casa e o aumento do home office e aulas à distância.
A seguir destacaram-se Saúde, Beleza e Bem-Estar (+12,7%) e Limpeza e Conservação (+6,6%), favorecidos, por exemplo, por suas operações realizarem atividades consideradas essenciais, e pela maior procura do público por procedimentos estéticos e de sanitização de ambientes, respectivamente.
Serviços e Outros Negócios (+6,1) também cresceu, alavancado por meios de pagamento e serviços digitais. Com as medidas restritivas, Hotelaria e Turismo e Entretenimento e Lazer continuam os mais atingidos.
HOME BASED EM ALTA
Apesar do cenário ainda desafiador, alguns modelos de negócio do franchising possibilitam se adaptar à realidade econômica. Nesse sentido, o estudo da ABF apontou um crescimento expressivo das unidades home based (enxutas e que dispensam ponto comercial), subindo sua participação de 7,1% para 10,3%.
A rede Suporte Smart, de assistência técnica e venda de acessórios para celulares presente em todo o Brasil é um desses exemplos. Mesmo com lojas físicas, a marca oferece assistência técnica por delivery no formato home based, com 150 operações vendidas na pandemia, e aumento de 37% na busca pelos serviços da rede.
Em um levantamento com os consumidores da marca foi constatado que 60% do público prefere a comodidade de ser atendido diretamente em casa ao invés de se dirigir até a loja, segundo o diretor de operações Vinícius Rochesk.
Essa oferta de comodidade inclui a visita de um técnico certificado pela franquia. "Com o isolamento social, as pessoas têm valorizado mais os serviços que vão até ela, evitando deslocamentos desnecessários", afirma.
A localização das unidades de franquias em espaços não tradicionais também foi indicada na pesquisa como uma tendência em alta. O item “Outros”, que reúne pontos em empresas, prédios corporativos, residenciais e postos de combustíveis tiveram um crescimento de 3,1% para 8,2% no período analisado.
Friedheim afirma que a ABF vinha acompanhando esse movimento há algum tempo, mas agora os números confirmaram: as franquias home based realmente se tornaram uma opção de renda com menor investimento inicial, e também não são tão atingidas pelas políticas de distanciamento social.
"Depois da expêriencia concentrada, este nicho tem tudo para continuar crescendo, embalado pelos serviços digitais ainda mais variados e amplos que apareceram durante a pandemia”, disse o presidente da ABF.
ESTRATÉGIAS
Muitas redes implantaram estratégias e colocaram em prática ações para contornar os efeitos da pandemia. O levantamento da ABF indicou que as mais adotadas foram entregas e orientações e treinamentos sobre covid-19 (94%); entrega de serviços on-line (92%); e-commerce e vendas online (88%) e comitê de crise (85%).
O presidente da ABF destacou que a quase totalidade das redes tem agido e mostrando rápida capacidade de reação e adaptação à realidade. "Notamos também que ações de implantação imediata, como suspensão de royalties e fundo de marketing não são mais relevantes após um ano de pandemia, o que dá espaço para ações estruturadas como desenvolvimento de produtos, novos canais de comercialização e inovação", concluiu.
A Pesquisa de Desempenho do Franchising referente ao 1º trimestre de 2021 envolveu uma base amostral com redes respondentes que representam cerca de 29,2% das unidades e 32,0% do faturamento.
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