Fernando Otani, da Positivo: ‘Próxima onda dos meios de pagamento envolve a biometria’
Para ele, o governo tem papel fundamental na difusão dos sistemas biométricos entre a população ao adotar mecanismos como o reconhecimento facial para acesso a serviços do portal gov.br

Alguns anos atrás, o pagamento por aproximação parecia a solução definitiva. Atualmente, ele já faz parte da rotina dos consumidores, sendo obrigatória em qualquer ponto comercial. Pix, sistemas biométricos, por reconhecimento de voz e com utilização de inteligência artificial (IA) fazem parte da próxima revolução dos meios de pagamento.
Os consumidores mudaram seu comportamento, priorizando ferramentas que demandam menos tempo para realizar transações. Segundo uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise, dos 76% dos consumidores que preferem utilizar Pix, 71% optam pela rapidez e pela praticidade e 30% pela segurança.
Para explicar como o setor de meios de pagamento está se adaptando a esse novo consumidor, o Diário do Comércio entrevistou Fernando Otani, diretor de soluções em pagamento na Positivo Tecnologia, tradicional fabricante de computadores que enveredou para sistemas de intermediações bancárias. Confira:
Diário do Comércio - O Pix revolucionou os meios de pagamento e agora experimenta outras funcionalidades, como por aproximação. Essa nova modalidade pode estimular as vendas no varejo?
Fernando Otani - O Pix é um agente transformador inquestionável, mas sua aderência era grande nas transferências entre pessoas, ele não era muito usado nas compras no varejo. Isso acontecia por dois motivos: atrito com o consumidor, que não se sentia confortável em abrir o aplicativo do banco no estabelecimento, e as taxas das maquininhas. O Pix por aproximação veio para solucionar esses problemas.
Geralmente o consumidor paga com dinheiro, cartão de débito ou crédito, o que leva de 4 a 5 segundos, que é o tempo de processamento transacional. Com o Pix convencional, mesmo por QR Code, o tempo aumenta para 40 ou 50 segundos, que é muito para a produtividade do varejo. Às vezes, 50 segundos são suficientes para o consumidor abandonar uma compra.
Já o Pix por aproximação tem o processamento similar ao de um cartão de crédito ou débito. Você simplesmente aproxima e realiza o pagamento em uma das modalidades. Para o varejista, isso costuma envolver menos taxas, já que há apenas as tarifas operacionais, excluindo as taxas das bandeiras de cartão. Com isso, é esperado que o varejista volte a falar: ‘Se pagar no Pix, tem desconto’.
No passado, muitos comerciantes relataram golpes relacionados ao Pix agendado. A funcionalidade por aproximação acaba com essas fraudes?
O comerciante ficava sujeito a esse tipo de golpe porque havia a necessidade de ele entrar na sua própria conta para saber se o Pix realmente havia sido feito. Na prática, quando o consumidor mostrava o comprovante, o comerciante simplesmente olhava rapidamente e não percebia se o agendamento era real.
Para o varejista, o grande benefício do Pix por aproximação é evitar esse tipo de golpe, uma vez que essa nova modalidade é integrada à maquininha de pagamento, o que permite a confirmação e garantia de que o pagamento realmente foi feito, processo que só é realizado após o adquirente confirmar que o consumidor possui saldo em conta.
Como a inteligência artificial (IA) pode contribuir para os meios de pagamento?
A inteligência artificial (IA) está transformando tudo. Nos meios de pagamentos existem dois movimentos acontecendo: o primeiro é a análise de back office das adquirentes dos bancos, que começa a ter mais celeridade para comportamentos de fraude, deixando o ambiente de pagamentos ainda mais seguro. O segundo é a transformação da jornada. Por exemplo, hoje, você vai a um fast food e procura seu lanche no totem, uma operação confusa para muitas pessoas, acostumadas a simplesmente fazer o pedido para um atendente. Mas a IA tem melhorado isso, simplificando novamente a jornada, é como pedir a um atendente. É a junção dos dois mundos, é a padronização com a eficiência do atendimento, mas sem perder a humanização.
Existem exemplos bons surgindo, como o de câmeras de totens que reconhecem o consumidor e já sabem o que ele vai pedir. Ou de totens em que o cliente simplesmente fala o que quer pedir. Na hora de pagar, pela voz, escolhe a forma de pagamento e apenas aproxima o cartão do leitor. Não precisa mais ficar tocando a tela do totem para montar o prato, esse é um exemplo prático do uso de IA no varejo e nos meios de pagamentos.
As novas formas de pagamento têm transformado a jornada de compra dos consumidores. Quais mudanças você destacaria nesse processo?
Faz dez anos que implementamos a primeira maquininha com aproximação. E com a pandemia, que acelerou muitos processos e transformou o comportamento do consumidor, hoje esse é o meio de pagamento mais comum. Foi algo em que precisamos pensar por dez anos e assumir os riscos, apostando em uma tendência, para que depois nossos clientes precisassem apenas atualizar seus softwares de forma remota.
Atualmente, as biometrias são uma das mudanças que o mundo tem experimentado de forma intensa, seja por reconhecimento facial, digital ou da palma da mão, mas cada país ou local tem uma usabilidade diferente para essas ferramentas. Por exemplo, em um banco, que é um local bem iluminado, a aderência do reconhecimento facial é muito boa.
Já está muito claro que a próxima onda de pagamento será através da biometria, o que é um desafio enorme, porque é um ambiente muito fluido para os seres humanos, mas também um ambiente crítico para se trabalhar as fraudes e antifraudes.
Na última Autocom, vocês apresentaram a Tupi 1000, que possui um sistema de reconhecimento facial que pode ser integrado a programas de fidelidade. Como essa tecnologia funciona e quais são seus benefícios para os empreendedores?
O reconhecimento facial é algo muito democrático porque, ao utilizar o cartão, existe o banco, já no reconhecimento facial, é apenas você. Um programa de fidelidade que usa o nosso reconhecimento facial permite identificar se o consumidor está ou não cadastrado nele apenas pela aproximação da ferramenta, não necessitando digitar seu CPF.
Esses meios de pagamento por reconhecimento biométrico, como facial ou por leitura da palma da mão, estão difundidos no Brasil?
É uma tendência global, que está sendo testada no Brasil. Um movimento importante é o do governo brasileiro, através do gov.br, que utiliza o reconhecimento facial. Assim, para acessar sua carteira de trabalho, por exemplo, é necessário esse reconhecimento facial. Esse movimento do governo ajuda muito o ecossistema, porque a população entende que é algo natural e necessário. É algo que está sendo organicamente inserido na sociedade brasileira. O pagamento por aproximação demorou dez anos para ter adesão, então, é algo que fazemos aos poucos, priorizando a segurança.
Quais são as principais vantagens e desafios dos pagamentos biométricos?
Um dos principais desafios é a adoção pelos empreendedores, fazê-los entender que o pagamento biométrico é parte do processo. Quando implementamos o pagamento por aproximação, a primeira reação dos empreendedores envolveu custos. Eles falavam: ‘por que vou colocar isso na loja?’. É uma reação que está ocorrendo em relação à biometria, mas estamos prontos para isso.
O benefício desse sistema é a jornada de pagamento, que melhora pois não há mais a necessidade do cartão físico. Os brasileiros estão atentos às questões de segurança, então, poder ir a um evento, a um jogo de futebol, sem precisar levar um dispositivo físico, talvez seja um marco na história.
Qual é o futuro dos meios de pagamento e como eles podem beneficiar os empreendedores?
Há mais de dez anos, era comum você chegar a um estabelecimento e não ter uma maquininha. Nos últimos anos, passamos a ter as maquininhas de forma democrática. Nesse momento, os sistemas integrados, que possibilitam centralizar as informações da empresa na maquininha de pagamento, começam a nascer. Então, nos próximos anos, será muito comum o atendimento estar dentro do pagamento, e não mais o pagamento na jornada de atendimento. Para isso, precisamos ter hardwares inteligentes.
Assim, coisas simples que o empreendedor faz, como imprimir uma filipeta para chegar no final do dia e contar, isso morre. No mínimo, o empreendedor vai chegar no final do dia, abrir uma aplicação e verificar tudo o que aconteceu no negócio, sua receita e outras possibilidades. Isso já alcança o grande varejo, não o pequeno empreendedor. Mas acredito que vai chegar até ele em uma velocidade muito maior. Essa tecnologia, somada à IA e ao comando de voz, deixará os meios de pagamentos ainda mais democráticos.
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IMAGEM: Positivo Tecnologia/divulgação