Engolida por fraudes, Americanas agrupa ações. Papéis sobem 42%
As ações da varejista desvalorizaram mais de 90% em um ano e estavam há mais de seis meses valendo menos de R$ 1. Nessas condições, regra da Bolsa obriga o agrupamento
A situação da Americanas segue complicada. Após ser engolida por denúncias de fraude no início do ano passado, num esquema que envolveu até o ex-CEO, Miguel Gutierrez – que teve mandado de prisão executado pela Polícia Federal (PF) –, a companhia viu o valor de suas ações virar pó na Bolsa de Valores.
Nos últimos 12 meses, os papéis da empresa sofreram desvalorização de mais de 90% e fecharam esta segunda-feira (26) valendo R$ 0,05 – queda de 16,6% no dia. Como, pelas normas da Bolsa, nenhum papel pode valer menos de R$ 1 por mais de seis meses – que é o caso da Americanas –, a companhia foi obrigada a realizar o grupamento de suas ações.
Às 13h do primeiro dia, nesta terça-feira (27/8), o preço estava em R$ 7,10, valorização de 42%.
O processo de grupamento foi aprovado em assembleia-geral extraordinária, em maio deste ano, mas só efetuado nesta terça-feira (27), na proporção de 100 para 1. Com isso, as ações da empresa passam a ser negociadas a R$ 5. Assim, a companhia aumenta o valor nominal dos seus papéis, mas seu capital social segue o mesmo.
A grande derrocada das ações da Americanas começou em agosto deste ano. A mais pesada ocorreu no dia 15, quando a companhia divulgou seu péssimo resultado de 2023 (prejuízo de R$ 2,3 bilhões) e, de quebra, anunciou o cancelamento das projeções da empresa. Naquele dia, as ações fecharam com queda de 57,5%, a R$ 0,14 – ainda assim, quase o triplo do valor em que encerraram o pregão de segunda-feira (26).
Apesar de muito baratos, os papéis da Americanas ainda não são indicados como compra pelos analistas. Para eles, ainda há muitas questões a serem consolidadas. Uma delas é o mercado demonstrar confiança no novo comando da empresa – o que ainda não aconteceu.
Outro ponto de incerteza é justamente em relação ao fato de a companhia ter cancelado o anúncio de suas projeções e previsões de desempenho. Por fim, há o entendimento dos especialistas de que o grupamento de ações, no caso de uma empresa atolada em problemas graves, pode abrir espaço para mais quedas. Mas as previsões não se confirmaram, pelo menos nas primeiras horas do pregão da terça-feira.
FRAUDE
A crise da Americanas é resultado de diversos fatos, iniciados em janeiro do ano passado. À época, foram identificadas e divulgadas ao mercado inconsistências no balanço da companhia, num montante de cerca de R$ 20 bilhões.
Em seguida, essas inconsistências ganharam fisionomia de fraude, motivando a abertura de investigação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF). Na mesma onda de más notícias, a empresa entrou com pedido de Recuperação Judicial (RJ) e teve a direção afastada.
Em maio do ano passado, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Na chamada CPI da Americanas, foram apresentados relatórios que indicavam a participação de ex-diretores da companhia em ilegalidades, como falsificação de documentos.
Em pouco mais de um ano e meio de investigações, o MPF e a PF realizaram a Operação Disclosure, que executou diversos mandados de prisão, inclusive contra o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Saicali.
As autoridades realizaram, ainda, o sequestro de bens e valores de ex-executivos da companhia, que somaram mais de R$ 500 milhões.
IMAGEM: Tânia Rêgo/Agência Brasil