Empresa holandesa retoma as campanhas dos selinhos no país
A L-founders of loyalty chega com a rede Muffato, do Paraná, com planos de levar a febre das cartelinhas para outros setores do varejo e até shoppings centers
Um dos maiores desafios dos varejistas é fazer com que o cliente volte para as suas lojas o máximo de vezes possível ao longo do mês, da semana ou mesmo do dia.
As formas de tornar o cliente fiel vão desde ter funcionários bem treinados e humorados, oferecer experiências e até ações que provoquem uma corrida às lojas por produtos.
A empresa holandesa L-founders of loyalty chega ao Brasil justamente para ajudar os varejistas a mexer com o desejo dos consumidores por produtos exclusivos para torná-los fieis.
E a maneira utilizada é aquela que muitos brasileiros já conhecem, as campanhas dos selinhos, que chegou ao Brasil em 2012, por meio da rede Makro, e foi muito usada pelo Pão de Açúcar.
O Diário do Comércio apurou que na primeira semana de setembro, a L-founders of loyalty faz a sua estreia no Brasil com a rede de supermercados Muffato, do Paraná.
Além do varejo alimentar, a empresa pretende levar a campanha dos selinhos para vários setores do comércio, como postos de gasolina, e até shoppings centers.
Beatriz Ramos, presidente da L-founders of loyalty para a América Latina, diz que a campanha dos selinhos é uma das maneiras mais bem-sucedidas para fidelizar o cliente.
Durante a promoção, diz ela, as vendas das empresas chegam a subir de 8% a 15%, em média.
Beatriz esteve à frente da campanha do Pão de Açúcar, que chegou a durar cerca de dois anos.
Na época, ela trabalhava para a Brand Loyalty, fundada pelo holandês Robert van der Wallen, e que foi adquirida pela norte-americana ADS (Aliance Data System).
Agora o empresário holandês volta para o mercado com uma nova empresa, a L-founders of loyalty, que está em cerca de 25 países, e com 125 campanhas em andamento neste ano.
Para participar da campanha de selinho, a empresa precisa ter um faturamento anual mínimo da ordem de R$ 1,5 bilhão.
Até porque as campanhas para fidelizar o cliente requerem investimentos.
A L-founders of loyalty é quem cuida de todo o processo da campanha, desde a elaboração do material no ponto de venda e treinamento de caixas, até o controle de selos.
A empresa também é responsável pela escolha e compra dos produtos que serão ofertados, gestão de estoques, comunicação com os clientes, redes sociais e análise de dados.
A rede que participa da campanha, diz ela, paga por produto distribuído.
“Vamos supor que a empresa faça uma projeção de distribuição de um milhão de facas durante a campanha e distribua 600 mil. Vai pagar pelas 600 mil unidades”, diz.
MOEDA
Pesquisas feitas no Brasil e fora revelam, diz ela, que os selinhos se transformaram em uma espécie de moeda, e que os produtos distribuídos viraram desejo, até por serem limitados.
Como as panelas do chef de cozinha Jamie Oliver, que foram distribuídas pelo Pão de Açúcar na campanha “loucos por selos de desconto”, que terminou em 2019.
Quando a campanha do Pão de Açúcar terminou, muitos clientes pediram, por meio de suas redes sociais, a volta dos selinhos. Eis alguns dos depoimentos levantados pelo Diário do Comércio.
“Não gostei do aplicativo não...os selinhos são mais práticos”. “Perdi a motivação de ir ao PA (Pão de Açúcar). Não gostei do novo sistema”. “Saudades dos selos e das estrelas”.
APLICATIVOS
O programa de fidelidade do Pão de Açúcar migrou da cartela de selinho para o mundo digital.
O grupo GPA e a RaiaDrogasil se uniram, em 2019, para criar a Stix, uma plataforma de pontos e recompensas de programas de fidelidade.
Clientes de Pão de Açúcar, Droga Raia, Extra e Drogasil podem juntar pontos, os stix, em uma única carteira virtual, e trocar por produtos, como talheres ou panelas, ou fazer doações.
“A partir da nossa incursão pioneira no oferecimento de ofertas personalizadas e no desenvolvimento de programas de fidelidade, aprimoramos a experiência de compra nas lojas e no e-commerce e também tivemos aprendizados sobre quais produtos e categorias fazem a diferença na hora da compra”, diz Monique Cavaletti, Gerente de Inovação e Fidelidade do GPA.
No segundo trimestre deste ano, de acordo com ela, a companhia observou que os clientes mais fiéis gastam em média seis vezes mais que os demais, como resultado dos aplicativos.
“Ainda houve um crescimento de 150% no número de clientes beneficiados pelo “Meus Prêmios” e engajados nos pontos stix, totalizando um aumento de mais de 50% no total de pontos distribuídos e um incremento de mais 30% de resgates de prêmios do catálogo”, diz ela.
Assim como GPA, outras redes estão recorrendo a empresas de tecnologia para, por meio de aplicativos, conhecer e fidelizar a clientela com programas de descontos e premiações.
Desde 2014, a idEver Inteligência Digital se especializou em programas de fidelização de cliente em supermercados.
Por meio de aplicativos, assim que o cliente se cadastra, as redes já começam a traçar o perfil e os hábitos de compra e a oferecer descontos personalizados e até dinheiro de volta (cash back).
Silvano Pereira de Souza, COO da idEver, diz que deve começar a operar também com o selo virtual, que vai funcionar da mesma forma que o colado em cartelas.
A partir de um volume de compras, estabelecido pelas redes, o cliente recebe os selos, que podem ser trocados por produtos em lojas físicas e ou e-commerce.
A idEver já instalou o sistema em 24 redes de supermercados e duas de perfumaria e cosméticos e está preparada para entrar no setor de farmácias.
Ao participar desses programas, algumas redes já conseguiram elevar o tíquete médio em 35%, de acordo com Pereira de Souza.
“Às vezes, o grande atrativo para o cliente não é nem o desconto ou a premiação, mas a facilidade para estacionar o carro e comprar e levar os produtos para a casa”, afirma ele.
A possibilidade de conhecer os hábitos dos clientes faz com que o supermercado, de acordo com o CEO da idEver, ofereça experiências personalizadas.
“Se a rede identifica que o cliente é vegano, não adianta mandar para ele uma promoção de carne, por exemplo.”
SELINHO VIRTUAL X FÍSICO
Para Beatriz, os aplicativos são relevantes para conhecer e engajar os consumidores, mas o mercado brasileiro possui características que favorecem as campanhas de cartelas e selinhos.
Mais de 60% dos brasileiros, diz ela, não têm disponibilidade para armazenar dados no celular por várias razões e ainda priorizam aplicativos de bancos, não de redes de varejo.
“Um programa de cartela de selos é simples, didático, democrático, premia pelo gasto”, afirma.
É bom lembrar ainda, diz ela, que consumidores com mais de 55 anos representam entre 60% e 70% do faturamento dos supermercados, e são eles os maiores fãs dos selinhos.