Conheça a máquina que transforma ideias em objetos

A impressora 3D está se tornando cada vez mais acessível. A brasileira Cliever, do engenheiro Rodrigo Krug (foto), já produz o equipamento para uso pessoal e para pequenas e médias empresas. No futuro, impressoras como essa poderão revolucionar as cadeias de produção mundial.

Thais Ferreira
12/Jan/2015
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Conheça a máquina que transforma ideias em objetos

No final do século passado, ter uma impressora de jato de tinta em casa ainda era um artigo de luxo. As primeiras máquinas feitas para uso pessoal foram fabricadas em 1988 pela empresa americana Hewlett Packard que lançou a HP DeskJet. Na época, as máquinas eram vendidas por US$ 1.000. Funcionavam à base de gotículas de tinta que, unidas, formam desenhos e letras. Em pouco tempo, novas versões surgiram e as impressoras foram aperfeiçoadas com a tecnologia de lasers. O preço desses equipamentos foram ser tornando cada vez mais acessíveis e, hoje, são indispensáveis no dia a dia das pessoas. 

Um processo similar ocorre em relação à impressora 3D. Alguns especialistas preveem que não vai levar muitos anos para que se torne uma presença rotineira nos lares. Quebrou a tampa de seu liquidificador? Basta imprimir. Perdeu a pecinha de um jogo? É só fazer uma nova. Precisa de uma prótese? A impressora também pode ajudar. 

Se o modelo tradicional de jato de tinta já era uma grande evolução, pois tornou possível elaborar documentos em casa, essa nova máquina promete trazer um salto ainda maior. A partir de um programa de computador, ela pode fabricar qualquer objeto: desde um peão de um jogo xadrez até peças sofisticadas para máquinas industriais. 

Seus usos são diversos. A equipe médica da Universidade Biomédica de Hasselt, na Bélgica, por exemplo, produziu uma mandíbula de titânio feita numa impressora 3D e a implantou em uma paciente. Alguns estudos também apontam que futuramente essas máquinas conseguirão reproduzir órgãos humanos. A NASA está investindo em uma tecnologia para imprimir comida. A maioria dessas pesquisas ainda está em estágio inicial, mas já apontam para o grande potencial desses equipamentos.

COMO FUNCIONAM

As impressoras 3D funcionam com filamentos, os mais comuns são de plástico ABS feito à base de petróleo ou PLA, substância extraída do milho e biodegradável. Mas há algumas máquinas que funcionam com diversos materiais, como borracha e até chocolate. Esses filamentos são armazenados em grandes carretéis que são equivalentes aos cartuchos das impressoras convencionais. 

O primeiro passo para imprimir é fazer uma imagem do objeto no computador. Já é possível encontrar bibliotecas online de desenhos 3D – ambientes virtuais em que ficam armazenadas imagens prontas e que podem ser acessadas gratuitamente. Depois que o desenho estiver finalizado, um software lê a figura e a fatia em centenas de pedaços. 

Essas informações são enviadas para a impressora que derrete os filamentos e constrói camada por camada até formar o objeto por completo. A máquina tem bastante precisão e sabe exatamente onde e como deve depositar a matéria-prima para dar forma ao produto. 

Tecnicamente, as máquinas 3D são conhecidas como manufaturas aditivas. Significa que elas vão adicionando material até forma uma peça. Esse mecanismo difere das máquinas tradicionais utilizadas na maioria das fábricas que são subtrativas, ou seja, elas constroem um objeto retirando matéria-prima. Dessa forma, esses novos equipamentos, além de eficientes, ajudam a economizar material. 

 

 

PRODUÇÃO NACIONAL 

A tecnologia das impressoras 3D não é nova. As primeiras foram desenvolvidas na década de 1980, pelo americano Chuck Hull. Ele fundou a 3D Systems Corporation – a primeira empresa a comercializar essas máquinas e uma das líderes do mercado até hoje. Mas a concorrência está crescendo. Recentemente, a queda das patentes possibilitou a diversas empresas produzir suas próprias versões do equipamento. Uma das pioneiras no Brasil é a gaúcha Cliever. 

Seu fundador, o engenheiro Rodrigo Krug, juntou sua vontade de empreender e a vocação tecnológica para montar a empresa. “Meu pai é marceneiro. Eu o vi produzir objetos de madeira a vida inteira. Sempre achei que processo era muito manual e dependia de exclusivamente do talento do artesão. Tinha vontade de desenvolver algo que fosse mais prático”, afirma Krug. Quando viu uma impressora 3D em uma feira de tecnologia no exterior, ele achou o que procurava e decidiu investir no negócio. 

Em 2011, ele montou a Cliever em Porto Alegre e começou a trabalhar no protótipo da máquina. O primeiro aparelho foi lançado em 2012 durante a Campus Party em São Paulo. De lá para cá, o número de pedidos só cresce. A empresa vendeu 400 impressoras 3D, a maioria para pequenas e médias empresas, universidades e escolas.

Um dos clientes da Cliever é a Intelbras, empresa de grande porte que produz telefones, roteadores e câmeras. Eles utilizam a impressora para criar protótipos de seus novos produtos e testar antes de serem produzidos em larga escala. A impressora 3D torna mais fácil a visão sobre as dimensões gerais e a ergonomia. O aparelho também permitiu que os empresários tivessem em mãos modelos físicos em menos tempo e com uma maior economia. 

“Nossos clientes utilizam a impressora para diversos usos. Um cirurgião plástico, por exemplo, comprou a máquina para fazer bonecos que ajudam a mostrar o resultado das cirurgias. Com ajuda de um scanner, ele mapeia o corpo dos pacientes antes do procedimento e cria uma primeira peça. Ele faz o mesmo depois da cirurgia. Dessa forma, o paciente consegue perceber o que foi realizado”, afirma Krug. 
 
A Cliver vende dois modelos de impressoras 3D que custam entre R$ 4,6 mil e R$ 5,4 mil. Os objetos são impressos em PLA e são quase tão resistentes quanto uma peça de plástico produzida pelo método comum. 

Krug diz que o principal empecilho para a popularização das máquinas é a produção dos desenhos em 3D. “A impressora é muito fácil de manejar. O problema é que poucas pessoas sabem desenhar em software, isso ainda é a principal dificuldade para que mais pessoas e empresas adquiram a máquina”, afirma Krug. 

NOVOS NEGÓCIOS

Além das primeiras empresas que fazem e vendem as impressoras 3D, estão surgindo outros negócios baseados nessa tecnologia. É o caso da Imprima 3D – e-commerce fundado em 2010 para comercializar sob encomenda os objetos feitos pela máquina. Eles possuem uma impressora 3D mais moderna que funciona com ajuda de lasers Além de ser mais precisa, ela é capaz de produzir objetos a partir de uma fibra de nylon que é resiste e que suporta altas temperaturas. 

Os clientes da Imprima 3D são de diferentes ramos: médicos que necessitam de modelos de órgãos, designers de jóias que desejam fazer moldes, empresários que precisam fazer protótipos de produtos e todo os tipos de profissionais que querem usar a impressora 3D ocasionalmente. Os preços das peças variam entre R$ 20 e R$ 12 mil, de acordo com a complexidade do projeto. Os pedidos são feitos pela internet e entregues em qualquer lugar do Brasil. 

A Imprima 3D já realizou mais de 3,6 mil pedidos e acredita que a demanda vai aumentar nos próximos anos. “Num futuro próximo, empresas como a nossa serão mais comuns e a procura por esses serviços deve se tornar mais freqüente”, afirma Tiago Barros, gestor do e-commerce. 

Se isso se tornar verdade, as impressoras 3D podem provocar uma revolução na manufatura e logística mundiais. De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria americana Jones Lang LaSalle, o uso dessas máquinas em uma escala global pode mudar o fluxo das atuais cadeias de abastecimento. 

Hoje, grande parte da produção está localizada na China. No futuro, essa produção seria redistribuída em pequenos estabelecimentos locais que, com pouca mão de obra, seriam capazes de produzir nas impressoras 3D objetos tanto para uso pessoal quanto para a reposição de peças industriais.

Nessa perspectiva, grandes fábricas ficariam responsáveis apenas por objetos complexos. Ao invés dos grandes custos com transporte, muitos produtos poderão ser vendidos através de downloads e impressos em máquinas pessoais ou em lojas especializadas. 

Por enquanto, tudo isso parece ser uma cena de ficção científica, mas essas mudanças podem estar mais perto do que se pode imaginar. A empresa de análises Canalys estima que o mercado de impressão 3D irá alcançar US$ 18, 2 bilhões em 2018 – em 2013 o valor foi de 2,5 bilhões.

Assista ao vídeo e veja como funciona uma impressora 3D: 

Impressão 3D - Cliever CL1 from Cliever Tecnologia on Vimeo.

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