Como será o cenário para as fusões e aquisições em 2022?
Rodrigo Maluf Menegazzo, sócio para estratégias e transações da EY, traça um panorama otimista para o Brasil, apesar de incertezas relacionadas às eleições
O mercado global de fusões e aquisições de empresas deve continuar em alta durante 2022, segundo especialistas. Apenas em 2021, os fundos de investimentos privados e as empresas com propósitos específicos para M&A (Mergers and Acquisitions) acumularam US$ 2,4 trilhões, que devem ser aplicados em aquisições no próximo ano.
A avaliação é do consultor Rodrigo Maluf Menegazzo, sócio para estratégias e transações da EY. No Brasil, o cenário para M&A também é de otimismo, mas os investidores estarão cautelosos pelo fato de ser ano eleitoral.
“As incertezas sobre as eleições de 2022 podem levar os investidores a postergar suas decisões de investimentos para depois do pleito eleitoral”, explica Menegazzo.
Em entrevista, o especialista aponta as tendências para o próximo ano no setor de fusões e aquisições de empresas.
Quais as expectativas do mercado em relação às fusões e aquisições de empresas para 2022, no Brasil e no mundo?
Globalmente, tudo indica que 2022 deverá repetir ou mesmo superar os bons resultados de 2021. Os Private Equitys Funds (fundos de investimentos privados) e SPAcs (Special Purpose Acquisition Companies: companhias com propósito específico de aquisição) acumularam cerca de 2,4 trilhões de dólares em capital, que devem ser investidos em aquisições no próximo ano.
Da mesma forma, o aumento lento das taxas de juros, a manutenção do nível elevado de liquidez no mercado e valuations altos (processo de avaliações de empresas) devem manter as grandes corporações ativas em M&A.
No Brasil, o cenário é otimista, porém não há clareza no horizonte dos investidores. A tendência global impulsiona a cena local com investidores internacionais destinando parte do capital para investimento no Brasil, mas incertezas sobre as eleições de 2022 podem levar os investidores a postergar suas decisões de investimento para depois do pleito eleitoral.
Independentemente do apetite de investidores internacionais, as transações de M&A devem continuar em alta puxadas pela necessidade de modernização por parte das companhias. A pandemia mostrou às empresas a necessidade e os benefícios da digitalização dos negócios e a tendência de aquisições motivadas por essa transição digital deve continuar em 2022 e nos anos seguintes.
O cenário pós-pandemia deve favorecer as movimentações de fusões e aquisições? Quais as áreas em que deve haver maior movimentação?
Talvez seja prematuro falar em pós-pandemia. Mas, confirmando-se as expectativas atuais, a retomada da atividade econômica deve dar novo impulso à atividade de M&A. No entanto, essa recuperação tende a ser desigual, uma vez que a pandemia foi um divisor de águas para muitas empresas e quem saiu vencedor da crise deverá consolidar sua posição na retomada das atividades.
Nesse sentido, deve haver um movimento de consolidação em quase todos os setores, com empresas maiores comprando rivais menores e enfraquecidos, bem como transações de M&A motivadas pela transformação digital das companhias.
Entre os setores, tecnologia da informação deve continuar liderando os rankings de M&A. Dentre os demais, aqueles mais afetados pela pandemia devem registrar maior alta nas transações. Os fundos de private equity, em especial, têm buscado empresas em situação vulnerável, porém com ativos e marcas valiosos, nos setores de varejo, entretenimento e hospitalidade, áreas que devem se beneficiar com a reabertura da economia.
Como as empresas devem avaliar o momento certo de oportunidades para eventuais aquisições e fusões?
M&A exige planejamento e oportunidade. A decisão por uma eventual fusão ou aquisição deve ser resultado de um planejamento estratégico bem estruturado, ponderando sempre os riscos e retornos de cada atividade. Muitas vezes, há decisões motivadas por “efeito manada”: investidores se sentem pressionados em acompanhar o movimento do mercado e acabam tomando decisões precipitadas. Portanto, não surpreende que a maioria das transações não provoque o valor esperado e seja até mesmo desfeita.
Por outro lado, situações excepcionais de mercado geram oportunidades atrativas e que não podem ser desperdiçadas. Por exemplo: a farta liquidez do mercado ocasionada em resposta à pandemia de Covid-19 impulsionou a atividade de M&A para níveis inéditos. Então, a questão que se coloca é: como conciliar planejamento e oportunidade? A resposta é o preparo constante. Fusões e aquisições devem ser avaliadas constantemente, ao lado de outras alternativas de crescimento e alocação de capital das empresas.
Quais os riscos e desafios que envolvem um processo de fusão ou aquisição e como se preparar para eles?
Podemos dividir o processo de M&A em três etapas básicas, cada uma ensejando seus próprios desafios: planejamento, execução e integração.
A execução de um M&A é extremamente desafiadora e exige acompanhamento próximos dos executivos das partes envolvidas. A identificação e abordagem dos investidores com mais apetite, a correta precificação dos ativos, equilíbrio entre divulgação de informações essenciais e proteção de segredos comerciais, divergências de interesse e imprevistos são os principais desafios nessa fase da transação. Empresas de grande porte contam com times próprios para liderar as transações. Por outro lado, empresas menores são aconselhadas a buscar o apoio de profissionais especializados para ajudar na execução de projetos de M&A.
A integração é fase crucial de um M&A. É o momento em que a empresa deve realizar o valor esperado na transação. Nesse momento, existem dois tipos de risco: ex-ante, ensejado por expectativas exageradamente otimistas em torno da transação; e um risco ex-post, resultante de falhas no processo de integração. A mitigação de riscos ex-ante envolve o correto planejamento e execução das transações de M&A, pois não existe um bom trabalho de integração que possa corrigir uma transação motivada pela razão errada ou mal precificada. Por outro lado, o principal risco ex-post é perder ou não realizar o valor pretendido com a transação. Isso é muito evidente em transações entre empresas de tecnologia e consultorias, indústrias em que o capital humano tem um papel preponderante, em que divergências de cultura organizacional muitas vezes levam à debandada dos funcionários da empresa adquirida e com eles quase todo o valor do negócio.
A mitigação dos riscos ex-post envolve disciplina na execução dos planos, foco na preservação, identificação e preservação dos drivers de valor da target e flexibilidade por parte dos compradores em se adaptarem à nova realidade. Em paralelo, os desafios técnicos para a integração de duas empresas podem requerer esforços muito além dos recursos humanos disponíveis e isso, combinado à pressão por resultados rápidos, é um dos principais motivadores para empresas contratarem recursos especializados para a integração de negócios.
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