Como o adiamento do Carnaval afeta o comércio

Sem blocos de rua e antecipação das vendas de produtos para confecção de fantasias e adereços, lojistas da 25 de Março apostam em minifestas para recuperar prejuízos

Karina Lignelli
26/Jan/2022
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Como o adiamento do Carnaval afeta o comércio

Um sinal verde, depois amarelo, e finalmente vermelho para o comércio. Com essa analogia 'semafórica', o comerciante Pierre Sfeir resume o sentimento dos lojistas na expectativa da definição pela Prefeitura e a Liga das Escolas de Samba, com aval das autoridades de saúde, sobre a realização do Carnaval paulistano 2022. 

Com o avanço acelerado da variante Ômicron da covid-19 neste início de ano, o Brasil bateu o recorde de casos diários na última quinta-feira (19/01), com 204,8 mil infectados em 24 horas. 

Após o anúncio do cancelamento do carnaval de rua no dia 6, a indefinição sobre os desfiles das escolas terminou com o anúncio conjunto das prefeituras paulistana e carioca, na noite de sexta-feira (21/01), de que os desfiles seriam transferidos para 21 de abril, feriado prolongado de Tiradentes que cai em uma quinta-feira. 

Nas lojas de artigos de Carnaval da 25 de Março, onde fantasias, adereços e itens para decoração de carros alegóricos representam 45% das vendas anuais, lojistas ainda se esforçam para reverter prejuízos acumulados desde o início da pandemia - como Sfeir, que diz que, em 2021, recuperou metade do faturamento pré-covid.  

Proprietário da Festas & Fantasias, especializada no atacado e varejo de artigos carnavalescos e para festas localizada na Ladeira Porto Geral, o comerciante lembra que, desde setembro, após a Prefeitura autorizar quase 700 blocos de rua e a perspectiva da volta dos desfiles, as vendas começaram a melhorar. 

Sinal verde. "Recuperamos 45%, 50% do normal em outubro, novembro e dezembro, e já comemorávamos um início de ano com boas notícias", conta. O cancelamento dos blocos acendeu o sinal amarelo, lembra. "Aí a Ômicron tomou conta após a volta das festas, e ficamos sem chão." Sinal vermelho, de novo, para o comércio. 

Com quase meio século de atividades, a rede de quatro lojas vende artigos que 'dependem de aglomeração', usados em espetáculos artísticos, teatros, casamentos, aniversários e até emissoras de TV, explica.  

No atual cenário, a aposta de Sfeir é a continuidade, como acontece desde o início da pandemia, das festas petit-comité, com restrições de público e protocolos sanitários. "O Carnaval de pessoas fantasiadas fica para abril, mas acredito que teremos minicarnavaizinhos, minifestinhas até o final de fevereiro, início de março." 

IMPACTOS INDIRETOS 

Ainda na expectativa da realização da festa com o avanço da vacinação, e a letalidade a princípio menor da variante, como fica o comércio com outro adiamento da festa que movimenta milhões de reais na economia? 

DETALHE DA FACHADA DA FESTAS & FANTASIAS: À ESPERA DOS ACONTECIMENTOS

De modo geral, a transferência dos desfiles de fevereiro para abril deve gerar um impacto específico e indireto, mas não no comércio de fantasias e adereços, e sim relacionado aos turistas que costumam visitar a cidade atraídos pelo evento, afirma Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). 

Em sua avaliação, os efeitos serão maiores em hotelaria, bares e restaurantes. "Ter mais gente na cidade beneficia outros setores, mas o Carnaval é mais expressivo e relevante mesmo para esse segmento de lojistas."

O economista destaca ainda que, como as compras de produtos para confecção de fantasias das escolas é antecipada, o que tinha que ser comercializado já foi. Ele também lembra que fevereiro é um mês mais curto, e o impulso adicional para o comércio, no momento, virá do reajuste das aposentadorias e do Auxílio Brasil. 

"A mudança será relevante para o turismo, vai beneficiar o comércio, e o impacto não será tão grande."  

Mesmo se dizendo assustado com a alta de infectados, Sfeir é otimista, e sua expectativa é de que, com a vacinação acelerada, haverá um pico de casos na virada de janeiro para fevereiro, seguido pela volta ao normal.   

O comerciante conta que a rede investiu muito e recheou o estoque para o verão e o Carnaval, mas agora está com tudo parado, com lojistas pedindo para congelar pedidos, à espera dos acontecimentos.

"Enquanto isso, vamos continuar aguardando, sobrevivendo com festas menores. Vai ter Carnaval mais para frente, tem Festas Juninas... A falta de resultados dá medo, mas bola pra frente: não adianta ficar lamentando."

NA DEPENDÊNCIA DO CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO

O calendário de feriados e pontos facultativos sempre gera impactos para o comércio, e esse ano não será diferente; vale fazer e refazer o planejamento dos próximos meses, de olho nos dados epidemiológicos. 

Em 2020, o Carnaval cairia de 26 de fevereiro a 1º de Março. Mas, mesmo com a mudança de data, continuam os pontos facultativos em 28/02 e dia 1º (segunda e terça) e a Quarta de Cinzas até meio-dia do dia 2. 

Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo, a medida determinada pelo Decreto 61.066/2022, de 15/01, é válida para repartições públicas municipais da Administração Direta, Autárquica e Fundacional. Já empresas privadas devem decidir individualmente sobre parar ou não nesses dias.  

Mas a folia em abril não está 100% garantida. Procurada pelo Diário do Comércio, a SPTuris, empresa oficial de eventos e turismo da administração municipal, informa em nota que novo calendário apresentado pela Liga das Escolas de Samba será analisado pela administração, em conjunto com as partes envolvidas no evento.

O comunicado diz ainda que, conforme divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em conjunto com a secretaria da cidade do Rio de Janeiro, a data de abril foi recomendada pois, pelo padrão da variante Ômicron observado até o momento, o período deve trazer um cenário epidemiológico mais seguro mas que, "oportunamente, quando o cenário da nova data estiver mais preciso, os protocolos serão reavaliados." 

FOTOS: Divulgação Festas & Fantasias

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