Como a Açaí Summer saiu da garagem para conquistar o mundo
Com receita secreta que incrementou derivados do fruto original do Pará, abastecendo estabelecimentos no país e em quatro continentes, marca fabricante e distribuidora agora quer se conectar com consumidor final por meio do franchising

Foi na garagem de casa, em um "espaço 2x3", como gosta de dizer o sócio-fundador André Frade, 44, que a Açaí Summer nasceu, há 12 anos, na cidade de Varginha, sul de Minas Gerais.
Mas foi com a receita secreta que transformou e incrementou os derivados do fruto paraense que a marca começou a ganhar mercado com distribuição B2B, recebeu aporte para ampliar a produção, chegou a seis Estados brasileiros e hoje é exportada para quatro continentes.
O breve resumo da trajetória da empresa dá uma ideia de como seu produto-base, hoje consumido em diversas localidades e até renomeado sob outras marcas, conquistou certificações internacionais de qualidade - como a americana FDA (Food and Drug Administration). Agora, quer ampliar o alcance do negócio migrando da produção em alta escala para o varejo por meio do franchising.
Com 15 lojas recém-inauguradas no Estado de origem, a Açaí Summer planeja fechar 2023 com 30 unidades, entrando em São Paulo e Rio de Janeiro.
"A gente tinha uma Ferrari andando em estrada de terra", brinca Frade. "Ou seja, é um super produto, mas que estava escondido. Muita gente 'ganhou moral' com o nosso açaí, e o franchising é a estratégia para a marca chegar no consumidor final."
Mercado não falta: mesmo com o boom das "açaíterias", especialmente do Sudeste do país, que servem a polpa congelada com granola, banana, leite condensado e outras invenções, o açaí continua sendo um dos itens mais pedidos dos cardápios de lanchonetes, casas de suco e até supermercados, crescendo inacreditáveis 15 mil porcento nos últimos dez anos, segundo dados de 2023 da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa). O Estado, inclusive, é quem responde por 95% da produção de mais 1 milhão de toneladas/ano, segundo o IBGE.
Baseado em sua própria experiência, a de alguém que criou a própria empresa, Frade afirma que a marca quer "democratizar o empreendedorismo", oferecendo possibilidades de negócio com margem de lucro maior (em torno de 25%), e custo operacional menor para franqueados.
Já a polpa orgânica fornecida pela paraense Fairtrade, matéria-prima dos produtos da marca que, segundo o fundador, tem padrões de pasteurização reconhecidos internacionalmente, será outro diferencial para fomentar a expansão por franquias.
"A proposta é entender a todos os mercados, suas peculiaridades e necessidades para oferecer uma melhor experiência com os nossos produtos", destaca.
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Além do tradicional creme de açaí, há opções combinadas com frutas, tapioca, amendoim, no estilo grego, zero açúcar, ou sorbet (sem adição de leite) e mousse.
Para as novas lojas, também criou produtos para driblar a sazonalidade e adaptar a marca para diferentes regiões do país. Entre as opções fora da linha de sorvetes e gelatos, há novas combinações de inverno com bolo, waffles e petit gateau, chocolate quente e até fondue.
"Em regiões onde esse produto sazonal virou 'refeição', temos sempre que trabalhar com a estratégia de opções de cardápio para garantir a rentabilidade do franqueado", explica Paola de Almeida Pires, gestora de expansão e operacional da Açaí Summer, que diz que a tática aumenta "e muito" o tíquete médio da loja, estimado em R$ 25 (dependendo da região).
QUESTÃO DE TEMPO
Cabeleireiro, sacoleiro... o perfil faz-tudo do mineiro André Frade levou-o, com sua visão de empreendedor serial, a criar sua empreitada na garagem de casa, em 2011.
Apreciador de açaí, ele observava formas de preparo do produto nas cidades vizinhas, como Itajubá e Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais, e até em São José dos Campos (SP).
"O pessoal com mais poder de compra adquiria barras de açaí do Pará e revendia para fábricas menores, lanchonetes... Não tinha loja de açaí", conta. "Aí um dia eu tomei e pensei: esse negócio pode ficar melhor, e peguei umas barras de um amigo para preparar do meu jeito."
Criou uma espécie de "motorzinho", conforme diz, ou um mecanismo para bater o produto. Comprou polpas, fez algumas misturas e foi testando por um bom tempo até chegar à formulação própria.
Diferente do que já existia, ou seja, barras de açaí que precisavam ser liquidificadas com água ou outro produto para consumir, a criação da Açaí Summer ficou cremosa, sem cristais de gelo, só precisando tirar da embalagem para degustar. Assim, o creme de açaí "explodiu", conta.
"Ninguém achava que açaí ia dar dinheiro, mas desenvolvi uma receita muito 'top', e que pegou muito rápido", afirma.
Frade, que não revela os ingredientes nem por decreto, garante que o segredo começa na qualidade do açaí, cultivado na Ilha de Marajó (PA) e comprado uma vez por ano na safra, para não ter variação de cor, de textura nem gosto oxidado de terra.
Até chegar a esse fornecedor foi um caminho um pouco longo, de muitos testes e produção caseira, mas que acabou dando certo e atraindo a atenção não só de entusiastas de açaí. Atraiu também seus amigos: Rodrigo Resende, hoje diretor de operações, e Leonardo Pereira, diretor comercial, que na época investiram R$ 300 mil na expansão do negócio.

Com o aumento da área fabril, e consequentemente da produção, a Açaí Summer começou a se expandir no mercado, e hoje conta com 28 distribuidoras. Sua base é revendida para outras marcas, que comercializam com nome diferente, e está presente em grandes varejistas.
Até hoje a receita, que foi aperfeiçoada com químicos de Belo Horizonte, recebe oferta de compra de concorrentes locais, que chegam a "assediar" o pessoal da fábrica, em busca de alguma informação secreta, segundo Frade.
"Nem os funcionários sabem, a gente só libera uma parte da receita", diverte-se.
Atualmente, a Açaí Summer exporta para países como Portugal, Itália, Alemanha, Emirados Árabes, Estados Unidos e até para a China, onde acaba de conseguir o CCP (Certificado de Registro de Produto, do Ministério da Agricultura chinês).
Além do FDA, também possui diversos alvarás sanitários, e o TradeMark (o famoso símbolo de marca registrada), compromisso com qualidade e procedência dos produtos reforçado constantemente pelo time de sócios.
FRANQUIA
Com a virada para o novo modelo de negócio, a empresa passou a contar com Erik Rodrigues como CEO da Summer Franchising e, para ampliar a rentabilidade, desenvolveu diferentes formatos de loja, de quiosques em shoppings e metrôs, e lojas tradicionais com self-service de 60 a 80 m², com investimentos entre R$ 70 mil e R$ 120 mil.
Hoje, existem negociações do formato em andamento em cidades paulistas como Caçapava e Caraguatatuba. "Mas há interesse em expansão para a Capital também", diz Paola Pires.
A marca também oferece espaços maiores, com 200 m² - como a loja que acaba de ser inaugurada em Vazante, no centro-oeste mineiro, com investimento em torno de R$ 200 mil.
"Não queremos ser mais uma açaíteria, queremos abrir lojas com uma pegada mais temática, como aquelas no estilo vintage, para oferecer uma experiência diferente e que o povo ainda não viu", completa Frade.
Sem revelar números, o sócio-fundador, que hoje também atua como embaixador da marca nas redes sociais e outras mídias, está confiante na nova estratégia de expansão pelo varejo.
"Se a gente vende para o Brasil e o exterior e o povo faz sucesso, por que não vamos fazer sucesso com a nossa própria marca? É questão de tempo", acredita.
IMAGENS: Açaí Summer/divulgação *Alterado às 11h10