Com vendas fracas, comércio paulista fecha vagas no primeiro semestre

Os setores de vestuário e calçados e utilidades domésticas foram os que mais fecharam postos de trabalho, de acordo com a CNC, com base em informações do Caged. Já os setores de material de construção, hipermercados e supermercados, automotivo e combustíveis tiveram saldo positivo nos primeiros seis meses do ano

Fátima Fernandes
28/Ago/2023
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O emprego no comércio paulista ficou negativo em 7.018 vagas no primeiro semestre deste ano, após registrar dois anos de crescimento no período.

Nos primeiros seis meses do ano passado, o setor criou 7.245 vagas e, em igual período de 2021, 23 mil vagas.

Os dados foram levantados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), com base em informações do Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego), do Ministério do Trabalho.

Os setores de vestuário e calçados e de utilidades domésticas foram os que mais fecharam vagas no primeiro semestre deste ano, 10.530 e 4.127, respectivamente.

Também registraram saldo negativo no número de vagas o varejo de móveis e eletrodomésticos (2.014), informática (746), farmácias (140) e livrarias e papelarias (102).

O saldo foi positivo em quatro setores: material de construção (5.770), hipermercados e supermercados (2.653), automotivo (1.309) e combustíveis (1089).

Para Fábio Bentes, economista da CNC, boa parte dos setores que demitiram no primeiro semestre deste ano é dependente de crédito.

Apesar de a taxa básica de juro dar sinais de que tende a cair, o financiamento continua caro, o que leva os consumidores a evitar compras de bens de maior valor.

“O efeito da queda da Selic (hoje, em 13,25%) será marginal neste ano. Crédito caro é limitador de vendas. Se as vendas não crescem, não há contratação de profissionais”, diz.

No primeiro semestre deste ano, as vendas do varejo no Estado de São Paulo caíram 0,2% em relação a igual período do ano passado, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio).

Os setores de vestuário e de utilidades domésticas foram os que registraram as maiores quedas, de 10,1% e 13%, respectivamente.

Na direção oposta, os setores que registraram as maiores altas nas vendas foram hipermercados e supermercados, de 2,8%, e combustíveis, de 11,4%.

EXPECTATIVA

Para Bentes, as contratações no varejo tendem a ser menores daqui para a frente por conta do custo do trabalho e de mais uso de tecnologia.

“O perfil da força de trabalho tende a mudar, num prazo maior, em razão da necessidade cada mais maior de profissionais para as áreas de entrega e logística.”

O comércio emprega no Brasil cerca de 9,6 milhões de pessoas e, no Estado de São Paulo, 2,7 milhões de pessoas.

A boa notícia é que o setor de vestuário e calçados, que mais fechou vagas neste primeiro semestre, deve reagir neste segundo semestre.

Primeiro, diz Bentes, porque os preços do setor estão desacelerando. Segundo, porque o comércio de roupas e calçados não depende tanto de crédito.

O varejo de combustível já deve sofrer mais neste semestre, na avaliação do economista, porque novos reajustes estão previstos para corrigir defasagens de preços.

“De uma forma geral, o ano deve ser ainda complicado para o varejo.” Para não ter queda de emprego, diz, o setor tem de crescer pelo menos 2% no Estado de São Paulo.

Paulo Matos, diretor geral da Tommy Hilfiger, que opera cinco lojas em São Paulo, com cerca de 48 funcionários, diz que o quadro de pessoal está estabilizado, considerando as mesmas lojas.

“Quando a economia está mais aquecida, é mais difícil reter bons profissionais, pois o varejo ainda tem a estigma de ser uma segunda opção de emprego. Hoje, não tenho turnover”, diz.

Em sua avaliação, a economia brasileira “está andando de lado”, as vendas estão estáveis, considerando as mesmas lojas. O faturamento cresce com abertura de novas lojas.

“Nós vamos crescer 25% sobre o ano passado porque vamos abrir novas lojas, 12 franquias e duas próprias no país”, diz. Para essas lojas estão previstas 500 contratações.

A marca perdeu bons profissionais durante a pandemia, diz Matos, que acabaram se dando bem com vendas pela internet e preferiram trabalhar de casa, por exemplo.

A expectativa para o setor nos próximos meses, em sua avaliação, é até boa, pois não tem o tumulto das eleições nem Copa do Mundo, situações que afugentam os consumidores.

“O governo também deve agir neste final de ano para puxar o PIB para cima”, diz. Se o consumo aumenta e as vendas crescem, o emprego também cresce. “Vamos torcer.”

IMAGEM: Freepik

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