Campos Neto propõe limitar compras parceladas a 12 meses
O presidente do Banco Central se reuniu com representantes do varejo, das maquininhas e dos bancos para debater mudanças no rotativo do cartão
Longe de sinalizar um consenso entre bancos, maquininhas e varejo, a primeira "reunião plenária" dos segmentos com o Banco Central para mediar uma solução para o rotativo do cartão de crédito serviu ao menos para abrir de fato um debate técnico sobre o tema.
Até então, dadas as divergências entre os setores, a aposta majoritária era de que governo e BC precisariam resolver o tema na canetada. Agora, parte dos executivos já enxerga algum espaço para negociar e tentar reduzir as perdas nessa arbitragem.
Além de limitar os juros do rotativo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, propôs aos setores um máximo de 12 meses para o parcelado sem juros. A autoridade monetária também citou a hipótese de alguma limitação para a tarifa de intercâmbio no cartão de crédito.
Caso os setores não alcancem um consenso de autorregulação em 90 dias, a Lei do Desenrola limitará os juros do rotativo do cartão de crédito a 100% do valor da dívida.
Para bancos grandes e médios, limitar o parcelado sem juros a 12 meses não vai resolver o problema do rotativo, mas mantém varejistas na mesa de negociação. As instituições financeiras alegam que o instrumento só é rentável até a quarta parcela. Após esse prazo, os riscos da operação começam a superar o retorno e, por isso, esse grupo apoiava a proposta inicial do BC que reduziria o número de parcelas gradualmente nos próximos anos, até um limite de 6 meses sem juros.
Já os varejistas, que eram contra qualquer limitação ao parcelamento sem juros, aceitaram conversar sobre o limite de 12 meses, desde que o BC desista de encurtar ainda mais o prazo no futuro.
Na avaliação de fontes que participaram da reunião de ontem, a grande vitória de Campos Neto foi trazer de fato o varejo para a negociação, já que o setor até então acusava a autoridade monetária de simplesmente querer acabar com a modalidade.
A avaliação de fontes do lado financeiro é de que, dada a forte articulação do varejo junto às alas econômica e política do governo, não há chance de o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovar uma solução que não conte com a mínima concordância do setor.
Nesse sentido, o terceiro pé da proposta do BC, de colocar limites na tarifa de intercâmbio do cartão de crédito, pode ficar sem espaço para ser implementado neste momento. Considerada "vaga", a ideia pegou todos os executivos de surpresa ontem.
No caso dos cartões de débito, já existe um teto de 0,5% do valor da transação, chegando a 0,7% no pré-pago. Fontes dos bancos alertam, entretanto, que um teto semelhante nas operações de crédito demandaria uma redução ainda maior no parcelado sem juros para manter o pacote equilibrado.
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