Caedu cresce com preços menores que os da Renner e Riachuelo
De olho na população de baixa renda, rede com 74 lojas, criada no Brás, se prepara para abrir sete unidades nos próximos dois meses, algumas em shoppings
Em um país com 78% das famílias endividadas, a concessão de crédito se transformou quase que na única opção para que o cliente consiga sair da loja com alguma sacola na mão.
Se a empresa que oferece os produtos também possui os recursos para bancar o parcelamento da compra do cliente, muito provavelmente, o caminho para prosperar fica ainda mais fácil.
Quem tem esses dois atributos é uma loja de departamento de vestuário e acessórios, fundada pela família Palma, que deve atingir a marca de R$ 1 bilhão de faturamento neste ano.
Enquanto redes tradicionais do varejo de roupas fecham lojas para enfrentar queda de vendas e dificuldades financeiras, a Caedu está em plena expansão.
Com 74 lojas em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, interior e litoral, a empresa vai abrir mais sete unidades neste ano, duas em junho, quatro em julho e uma em agosto.
Neste mês, as inaugurações acontecem em Suzano e Jaú. Em julho, em Pouso Alegre, Rio Claro, Shopping D e Shopping Atrium e, em agosto, no Shopping Praça da Moça, em Diadema.
“A nossa missão é fazer com que a família brasileira de baixa renda tenha acesso à moda”, afirma Edson Salles Abuchaim Garcia, CEO da rede, que trabalhou 11 anos na Riachuelo.
Calça jeans feminina a R$ 69 e blusinha entre R$ 19 e R$ 49 são algumas das peças encontradas na Caedu. O tíquete médio de uma compra é de R$ 150.
“Realizamos o sonho de quem quer comprar na Renner, na Riachuelo, na C&A, e não consegue”, afirma.
No ano passado, o faturamento da Caedu aumentou quase 20% sobre 2021 e a expectativa é crescer 16% neste ano, na comparação com 2022.
Cerca de 40% das vendas da rede são feitas por meio do cartão próprio da loja. O restante está dividido entre cartões de terceiros e à vista.
Se utilizar o cartão da loja, o cliente pode parcelar a compra em até cinco vezes sem juros. Nos prazos de oito a dez meses há incidência de juros de mercado.
A Caedu também oferece outros serviços financeiros, como seguros, por meio da Administradora de Cartão de Crédito Palma Ltda, que pertence à família.
Das 74 lojas da rede, sete estão em shoppings, número que deve crescer rapidamente, já que a empresa deseja expandir a presença da marca em centros comerciais.
“Lojas da Renner, da Riachuelo e da C&A estão trazendo clientes para nós, por causa de nossos preços e de nossa proposta de valor, em shoppings onde também estamos”, diz.
A rede iniciou conversas com superintendentes e CEOs de vários administradores de shoppings, como BRMalls, General Shopping, Grupo Savoy, Aliansce Sonae e AD.
“Eles perceberam o quanto estamos gerando de fluxo”, diz. São 3 milhões de clientes cadastrados. Por mês, cerca de 3 milhões de pessoas passam pelas lojas.
ORIGEM NO BRÁS
Fundada em 1975 pelo casal Tereza e Vicente Palma, a Caedu, que recebeu este nome em homenagem a um dos filhos, Carlos Eduardo, tem origem no bairro do Brás, em São Paulo.
A loja funcionava na garagem da casa da família, como atacadista de moda para gestante.
Em 2007, com cinco filhos, o casal possuía 12 lojas de roupas, algumas adquiridas de outras redes, quando decidiu dar início a um processo de profissionalização da empresa.
Três filhos, João, Leninha e Luciano Palma continuam no negócio, como acionistas e conselheiros. Cinco diretorias tocam a operação da rede com profissionais do mercado.
Até 2026, a Caedu planeja ter 130 lojas e já sabe, a partir de estudos de mercado, que tem potencial para ter 500 unidades espalhadas pelo país.
PILARES
A rede, de acordo com Edson Salles, se sustenta por meio de três pilares: proposta de valor, expansão e eficiência operacional.
“A nossa comunicação com os clientes é de forma simples, didática, com menos escrita e mais visual para facilitar o entendimento das pessoas”, afirma.
Cada cliente que faz uma compra na loja recebe por meio de SMS um pedido para responder uma pesquisa de satisfação.
Com base nas informações, a rede consegue orientação sobre variedade de produtos, preços, promoções, atendimento, filas nos caixas, qualidade dos produtos.
Com 2 mil funcionários, a empresa esteve por quatro anos seguidos na lista das melhores empresas para trabalhar no país, com a participação de mais de 80% dos funcionários.
INSPIRAÇÃO
Uma das inspirações da Caedu é a multinacional irlandesa Primark, com pouco mais de 400 lojas espalhadas em 15 países, conhecida por ter produtos com preços baixos.
“Vamos duas vezes por ano para a Europa e para os Estados Unidos e três vezes para a Ásia (China e Bangladesh) para fazer pesquisas. Além disso, acompanhamos desfiles de marcas”, diz.
Cerca de 20 estilistas se encarregam de montar as coleções que são entregues às confecções – 70% das peças são produzidas no Brasil e 30% são importadas.
Além do esforço de trazer para o Brasil o que há de novidades lá fora com potencial de cair no gosto do brasileiro, a rede, de acordo com Edson Salles, gerencia as despesas com austeridade.
“Temos indicadores em todos os processos da empresa, financeiro, operação de loja, atendimento nos serviços financeiros, vendas, área de compras.”
Os gerentes de lojas acompanham esses indicadores diariamente e participam de reuniões para reportar diagnósticos, definir planos de ação e acompanhar resultados.
ECONOMIA
A inflação, diz Edson Salles, machucou muito a população brasileira, principalmente o público alvo da rede, formado por pessoas das classes C e D.
“Atualmente, 60% do salário mínimo é consumido pelo valor da cesta básica, afetando a renda da população. Como temos bons produtos e preços, estamos tirando clientes da concorrência.”
De 2008 a 2022, diz, a empresa cresceu nove vezes em faturamento e, de 2022 a 2026 deve dobrar de tamanho.
“Estamos na contramão do mercado porque muitas redes ofertaram produtos errados para os clientes e abriram demais a torneira na hora de conceder crédito.”
De acordo com o CEO da Caedu, a empresa manteve a austeridade para a liberação de crédito, agiu para reduzir custos e fez renúncias.
Enquanto que, para algumas redes, o atraso no pagamento acima de 90 dias aumentou 60% neste ano em relação a 2022, diz, para a rede, o crescimento foi de 11%.
Maio foi um mês difícil para a rede porque não teve frio. Neste mês, as chuvas também afugentaram a clientela.
As perspectivas para o próximo semestre, diz, são boas, com a inflação recuando e a possibilidade de queda da taxa básica de juros, a Selic.
E-COMMERCE
O avanço do e-commerce e a chegada da plataforma chinesa Shein ao Brasil, de acordo com Edson Salles, não preocupam.
“Nós não sofremos porque temos preços competitivos, diferentemente de Riachuelo, Renner e C&A. A empresa chinesa também vai passar a pagar alíquota de importação”, diz.
Na contramão de redes que estão correndo para avançar no e-commerce, a Caedu não tem planos para acelerar a venda on-line, que participa com menos de 5% do faturamento.
A filosofia da Caedu se assemelha a da Lojas Cem, rede de eletrodomésticos e móveis, focada em atender a população de baixa renda que prioriza a loja física.
IMAGEM: Caedu/divulgação