Bem-vindo ao bar que criou o sanduíche de mortadela
No mercadão, o Bar do Mané faz história desde 1933. É nesse estabelecimento, hoje sob a direção de Marco Antônio Loureiro, neto do fundador (na foto), que surgiu o famoso lanche da gastronomia paulistana
O espaço físico não é grande. E nem precisa ser. O cliente faz o pedido nas mesinhas colocadas no lado externo. Lá, recebe a delícia que leva multidões ao Mercado Municipal de São Paulo todos os dias.
O Bar do Mané consome a cada dia doze peças de mortadela, em média, transformados em 300 lanches nos dias de semana. E de 900 a 1 mil aos sábados, domingos e feriados.
Os preços variam. Os lanches mais robustos – aqueles que você tem a maior dificuldade para segurar com as mãos e levar à boca -, custam R$ 24,00. Levam 300 gramas de mortadela da marca Ceratti. Se o cliente preferir, vem com queijo prato, alface e tomate. Mas tem também o lanche mais simples, que custa R$ 7,00.
O estabelecimento nasceu junto com o Mercadão, em 1933. São 85 anos de tradição.
Quando o Bar do Mané foi fundado, qualquer ponto comercial era chamado de bar. O termo começou a ser utilizado em 1590, para denominar a barra existente no balcão, que servia para não deixar os clientes se debruçarem e incomodarem o barman.
Os bares vieram para o Brasil junto com a família real, em 1808, provenientes da Europa.
Tudo começou com dois primos de descendência portuguesa. Mas o nome atual surgiu nos anos de 1970, quando foi assumido por Manoel Cardoso Loureiro, filho de um dos fundadores. O Bar do Mané não vive só do sanduíche que inventou. O lugar oferece também um saboroso bolinho de bacalhau, que custa R$ 8,00, e a empada de palmito, R$ 5,00.
COMEÇOU COM UMA BRINCADEIRA
Marco lembra que o delicioso sanduíche nasceu de uma brincadeira entre funcionários, que resolveram fazer um lanche com recheio exagerado de mortadela. A iguaria despertou a curiosidade e, melhor, encantou a clientela. Nos anos seguintes passou a ser copiada por muitos bares e lanchonetes de São Paulo. Foi desta maneira que nasceu um mito da gastronomia paulistana.
Marco Antônio Loureiro pertence à terceira geração da família que fundou a casa. Mas a quarta geração pede passagem. Rodrigo, o bisneto do fundador, já dá plantão todos os dias no bar. Marco chega de madrugada ao mercadão. Começa a preparar as iguarias logo cedo. Ele sabe, o Bar do Mané é tão tradicional que a sua história se confunde com a do mercadão.
O visitante, seja ele paulistano ou turista – vale lembrar que milhares de turistas visitam o local diariamente -, fica sabendo logo na entrada que a casa comandada por Marco é uma das mais tradicionais do lugar.
“O cliente tem várias opções para comer o lanche de mortadela. Mas o nosso é o mais conhecido e tradicional. E isso os outros comerciantes do mercadão sabem e avisam para os clientes”, afirma Marco.
A família é dona também do Mamma Carolina, empório que fica bem próximo ao Bar do Mané. No melhor estilo dos armazéns de outros tempos, a especialidade do Mamma são os azeites das mais variadas marcas, que chegam a custar R$ 45,00.
A azeitona é outra das especialidades. Um quilo, sem caroço, não sai por menos de R$ 25,00.
Marco soube esperar o momento para poder se inserir no negócio da família. Antes, foi gráfico.
“Eu trabalhava em uma gráfica. Saía do trabalho e vinha para o mercadão. Só depois de muito tempo o meu pai resolveu que eu iria trabalhar com ele aqui. Entrei como funcionário”, recorda.
No início, quem cuidava dos negócios eram o pai e a mãe de Marco. Nos anos de 1930 e 1940, os quitandeiros e donos de restaurantes iam para o mercado logo cedo. Então, os pais de Marco pensaram em uma alimentação rápida para os comerciantes.
Colocavam o salame e a mortadela e deixavam sobre o balcão. Então, o pessoal tomava café, pegava o lanche e ia embora.
“O que é caro aqui no mercado é o condomínio. Afinal, o gasto com luz, água, manutenção e segurança é grande”, diz.
Marco lembra que paga mais de R$ 5 mil mensais só de condomínio no lugar. O preço do aluguel ele não diz. Mas alguns comerciantes contam que chegam a pagar R$ 20 mil por mês pela locação de uma barraca do mesmo tamanho da ocupada pelo Bar do Mané.
O perfil do Mercadão vem mudando e muito nos últimos anos. Já não é mais o lugar para onde os pequenos e médios comerciantes se deslocavam todas as madrugadas para comprar verduras e frutas para abastecer seus estabelecimentos.
Seu destino, nos últimos anos, passou a ser o Ceagesp, na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo.
O Mercadão hoje é um lugar frequentado por turistas, que visitam o lugar para comer o famoso lanche de mortadela e também em busca de novidades na área de gastronomia no lugar que passou a ser “o maior ícone gastronômico do país”.
Em 2006, por conta de uma parceria com a iniciativa privada, foi criado, no mezanino, o Mercado Gourmet, uma cozinha equipada para aulas e eventos ligados à gastronomia.
Localizado na Rua da Cantareira, 306, próximo à Rua 25 de Março e ao Parque Dom Pedro II, o Mercadão é especializado também no pastel de bacalhau e em pratos como o Virado à Paulista.
Lá, você também encontra iguarias como bacalhau do porto, frutas de qualidade, petiscos como castanhas, nozes e ainda uma centena de variedades de temperos.
O que diferencia hoje o mercado de outros espaços similares como os de Belo Horizonte, Fortaleza ou Belém, é que deixou de ser um local procurado pelos paulistanos para comprar produtos de primeira necessidade do dia a dia. A sua frequência hoje é formada sobretudo por turistas à procura de algum produto especial.
Shows musicais, apresentações teatrais, feiras de artesanato e eventos diversos também têm sido constantes nas dependências do mercado paulistano, atraindo os mais variados públicos.
Trinta funcionários trabalham no Bar do Mané e no Empório Mamma Carolina. “A folha salarial é cara”, reclama Marco.
ARQUITETO RAM0S DE AZEVEDO
O responsável pela construção do Mercadão foi o arquiteto português Francisco de Paulo Ramos de Azevedo (1851/1928), que também fez os projetos do Teatro Municipal, Palácio das Indústrias, Pinacoteca e Colégio Sion. Os vitrais são uma obra de arte à parte e foram executados pelo artista Conrado Sogemcht filho.
Neles, são retratados os colonos em suas tarefas de cultivo e colheita e também na criação de gados e aves.
Em 1932, o mercado ficou pronto, mas por causa da Revolução Constitucionalista os primeiros produtos armazenados foram armas e munições.
A inauguração aconteceu em 25 de janeiro de 1933. A área tinha 12.600 metros quadrados, numa época em que a população da cidade de São Paulo era de um milhão de habitantes.
IMAGENS: Wladimir Miranda/Diário do Comércio e Divulgação