Barbalho: Brasil precisa aprender a monetizar a floresta
Em palestra na ACSP, governador do Pará (ao centro), que será sede da COP 30 em 2025, disse que essa é a hora de reforçar oportunidades para transformar a Amazônia em ativo econômico e de desenvolvimento social

O Brasil precisa se colocar como líder na agenda ambiental para não ser tutelado por quem deseja continuar suas atividades econômicas na Amazônia, imputando ao país apenas a responsabilidade de preservar, mas sem monetizar a floresta para si. E a COP 30, conferência do clima que será realizada em 2025 em Belém, capital do Pará, será o momento para reforçar as oportunidades econômicas e climáticas, e de transformar a região em ativo econômico.
Esse foi o alerta do governador do Estado do Pará, Helder Zahluth Barbalho, que palestrou para empresários na reunião do Conselho Político e Social (Cops), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na manhã desta segunda-feira, 22/04.
Com um investimento de R$ 4 bilhões, entre recursos do estado, financiamentos e repasse de recursos da União direcionados para as áreas de saneamento, mobilidade e hospitalidade, a conferência será uma oportunidade de "colocar a floresta no centro das discussões", disse.
"O Brasil, com tudo o que foi produzido e promovido, pode se tornar a 'locomotiva da agenda ambiental do planeta', levando em conta a peculiaridade dos diversos biomas brasileiros, e de ter no território a maior parte da maior floresta tropical do mundo. Mas nos vemos desafiados a encontrar soluções de equilíbrio climático para neutralizar as emissões de carbono."
Esse mercado, por exemplo, deve gerar 150 milhões de toneladas de créditos só no Pará, que o estado deve comercializar até 2026, e se tornar uma nova commodity, criada a partir das políticas de emissão e redução na região, para que novas operações possam acontecer.
Porém, para se disseminar, destacou, é preciso construir soluções de equilíbrio, e atuar em duas frentes: mudando suas matrizes e encontrando tecnologias de redução de emissões, e abdicar do perfil industrial, por atividades econômicas vocacionadas a partir da compra do carbono para gerar a neutralização. "E, quando se fala em 'zero', em neutralizar, não é só reduzir emissões, mas capturar carbono para compensar essas emissões", explicou.
Essa é uma das grandes oportunidades, segundo Barbalho, que o Brasil deve enxergar, associada à logística ambiental da transição energética, à incidência solar do litoral, com extraordinária produção eólica, e às plantas diversificadas da região amazônica.
Além de valorizar a floresta para que possa gerar "empregos verdes", e uma nova economia baseada na natureza, o governador disse que também é possível garantir a conciliação da política de preservação com as nações que vivem na região amazônica. E não há oportunidade melhor para fazer isto no momento em que a COP acontecerá por lá.
"Ela é o centro de discussão, das urgências ambientais. E precisamos colocar os desafios do Brasil e as soluções que se estruturam para políticas de preservação com desenvolvimento."
O governador reforçou ainda que não se pode admitir para a floresta apenas a responsabilidade da preservação, mas sim agregar valor ao preservá-la, e garantir o financiamento climático da indústria e das atividades econômicas e sociais envolvidas na bioeconomia local.
"O que não tem valor econômico, se transforma em atravancador das sociedades produtivas", disse. "Floresta viva vale mais que floresta morta, e esse deve ser o legado da COP 30."
BIOECONOMIA E DESMATAMENTO REDUZIDO
Segundo maior território do país, o Pará tem 1,246 milhões de quilômetros de extensão, com 76% de floresta nativa e preservação absolutamente significativa do território, sendo que 24% são antropizados (que sofreram alterações de suas características originais).
"É um estado profundamente produtivo, com rebanhos bovino e bufalino, pesca artesanal, com grandes culturas de cacau e açaí, e o maior produtor de abacaxi do Brasil e de palma, uma importante alternativa na agenda de biocombustíves", destacou Barbalho.
O governador lembrou também que o Pará tem avançado fortemente na produção de soja e milho, ultrapassando 1,5 milhão de hectares de produção, com mudança de uso do solo e incremento da agricultura sob dois vieses: a identificação da produção, e a oferta de aumento de terra para expansão da atividade pecuária e agrícola, diante do novo desafio de proteger áreas de floresta, mas sem inviabilizar o protagonismo da produção alimentar.
Com a produção em maior escala para agricultura familiar, hoje existem 300 mil propriedades em processo de regularização do cadastro ambiental rural do Pará. Tudo isso avançou, segundo ele, pelo diálogo com produtores para melhorar o manejo, a genética, avançando sobre a diversificação de atividades produtivas, e implantação de novas para gerar mais lucratividade.
"Principalmente as culturas de cacau e açaí, extremamente lucrativas, são atividades valorizadas que conseguem mobilizar mão de obra de maneira bastante densa, e compõem agendas de restauro e reflorestamento que geram emprego e renda em áreas antropizadas."
Os resultados efetivos desse aumento de produção nos últimos cinco anos, segundo o governador, é que o rebanho de gado, por exemplo, aumentou em 6 milhões, ao mesmo tempo em que os níveis de desmatamento reduziram em 50%.
"É uma fórmula que sinaliza que estamos no caminho certo: sair da fotografia de estado que mais desmata, e que fez transição sem exclusão. E apenas com políticas públicas e mobilização de atividades setoriais, industriais, associações comerciais e sindicatos."
E dentro de uma agenda de desenvolvimento sustentável, que incrementa novas atividades: entre elas, a bioeconomia baseada no 'estoque florestal', com o conhecimento dos povos originários para agregar valor às indústrias cosmética, de fármacos, alimentícias e farmacêutica. E também o plano de restauro e reflorestamento, apresentado na COP 28, em Dubai, que prevê recuperar 6 milhões de hectares até 2030 com a concessão de áreas.
Por último, está o mercado de carbono que, segundo Barbalho, é outra grande oportunidade para fomentar a economia de escala, com instrumentos para aferimento, todos internacionais. E um modelo híbrido de certificação, que possa contar com o estado e economia privada, sem ficar "refém de certificadores individuais, que poderiam diminuir o valor do Brasil."
"A floresta amazônica é o principal captor de carbono, e isso tem gerado grandes conflitos fundiários, que podem desvalorizar ou carbono brasileiro e criar fraudes e verticalização", destacou. "Por isso faço um chamamento à ACSP, para os empresários do estado de São Paulo, caixa de ressonância do Brasil, e também para os demais estados da federação, para dialogarem economicamente e voltarem os olhos para o estado do Pará e a Amazônia."
IMAGEM: Cesar Bruneli/ACSP