Bancos digitais: de onde vêm as receitas?

Nos bancos tradicionais, cerca de metade das receitas é oriunda das operações de crédito. Nos bancos digitais não há um padrão definido

Flávio Esteves Calife
25/Mar/2020
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*com Carlo Galisi, estagiário da área de Indicadores Econômicos da Boa Vista

Os bancos digitais estão crescendo rapidamente no Brasil e em todo o mundo, e seus benefícios para o sistema bancário são amplamente reconhecidos. As operações 100% on-line, sem taxa de manutenção de conta e maior agilidade nas operações, entre outras coisas, têm conquistado um número cada vez mais significativo de clientes.

Com uma estrutura operacional claramente diferente dos bancos tradicionais, os bancos digitais não possuem agências físicas e funcionam por meio de sites e aplicativos.

Mas quando falamos de origem das receitas, será que a composição das receitas desses bancos é similar a dos bancos tradicionais?

Antes de partimos para os bancos digitais, vamos entender a composição das receitas dos maiores bancos tradicionais brasileiros.

A maior parte das receitas dos bancos comerciais tradicionais, não só no Brasil, mas em todo o mundo, advém das operações de crédito. Podem variar de período para período, mas dificilmente representam menos de 40% das receitas de intermediação financeira.

Dados do último trimestre de 2019 dos cinco maiores bancos brasileiros mostram que do total das receitas de intermediação financeira – que incluem operações de crédito, operações de arrendamento mercantil, operações com títulos e valores mobiliários, operações de câmbio, entre outras – 55% vieram de operações de crédito no Bradesco, chegando a 64% no Banco do Brasil.

Mesmo se considerarmos outras receitas além daquelas de intermediação financeira, tais como receitas de prestação de serviços e tarifas bancárias (que aparecem nos balanços como outras receitas operacionais), as operações de crédito ainda assim representam 46% das receitas no Bradesco, chegando a 54% no Santander.

Os dados históricos destes bancos mostram que mesmo em períodos de maior risco no sistema financeiro, como um aumento significativo de inadimplência, por exemplo, as receitas com operações de crédito até podem recuar, mas continuam sendo as mais relevantes.

E os bancos digitais? Será que possuem esse mesmo padrão de comportamento?

Reunimos uma amostra de cinco dos mais importantes bancos digitais brasileiros com informações financeiras disponíveis, pela ordem de número de clientes: Nubank (20 milhões), Banco Inter (4 mi), Original (2,5 mi), C6 Bank (1 mi), Agibank (1 mi).

Não é possível observar um comportamento padrão dos bancos digitais brasileiros. Alguns deles, assim como os bancos tradicionais, têm nas operações de crédito as principais fontes de receitas, mas com um percentual normalmente maior.

São eles o Banco Inter (62%), Agibank (91%) e em menor proporção o Banco Original (40%), na comparação com o total das receitas.

O Banco Original em 2018 tinha mais de 80% de suas receitas de intermediação financeira advindas das operações de crédito. Em 2019, as receitas de crédito recuaram e as operações com valores e títulos mobiliários subiram muito, superando os 50%.

De certa forma, esses três bancos acompanham o padrão de receitas dos bancos tradicionais.

Mas chama muita atenção a composição das receitas do Nubank e do C6 Bank. No Nubank as receitas com operações de crédito representam 18% do total das receitas de intermediação financeira e 7% do total das receitas.

No C6 as operações de crédito são 6% do total das receitas de intermediação e 2% do total.

Quando consideramos somente as receitas com intermediação financeira, em ambos as operações com títulos e valores mobiliários representam mais de 80% das receitas.

De onde vem então as receitas desses bancos? Em ambos as receitas de prestação de serviços são responsáveis pela esmagadora maioria das receitas. No Nubank são 58% do total e no C6 chegam a 70%.

No Nubank, o montante de receita de prestação de serviços refere-se substancialmente às tarifas de intercâmbio ganhas pela utilização dos cartões de crédito, tanto no Brasil quanto no exterior. Excluindo aqui outras receitas operacionais como as Rendas com CCBs (Cédulas de Crédito Bancário) adquiridos que são muito elevadas e estão associadas aos aportes de investidores.

No C6 a maior parte da receita de prestação de serviços vem da comissão de estruturação e corretagem de operações em bolsa. Ou seja, um padrão diferente dos demais. Pode ser que com a ampliação no número de clientes as operações de crédito convirjam para um patamar mais parecido do que os demais bancos já chegaram.

E por fim, um comentário sobre as receitas com tarifas bancárias. Nos bancos tradicionais elas ficam entre 5% e 7% do total das receitas. Nos bancos digitais entre 0% e 5%.

Sim, existem tarifas bancárias nos bancos digitais. Taxas de transferências interbancárias e saques em caixas eletrônicos, por exemplo.

Apesar do pouco tempo de existência, a certeza é que os bancos digitais vieram para ficar. E a tendência é que ainda aumentem a sua importância e sua representatividade dentro do setor bancário brasileiro.

Suas características e seus desafios estarão cada vez mais presentes nas análises do setor. Em breve voltaremos com mais estudos sobre o comportamento específico desses bancos dentro do sistema financeiro brasileiro.

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