Às vésperas do Natal, promoções tentam atrair clientes às lojas
Número de pessoas que vão mensalmente às lojas diminuiu em 19,2 milhões neste ano em relação a 2019, de acordo com a Virtual Gate, que monitora fluxo de pessoas no comércio
Com o avanço da vacinação e a volta das pessoas às ruas, tudo indicava, no início do segundo semestre, que o Natal de 2021 seria o da retomada.
Dezembro chegou e o que se vê em pelo menos duas regiões tradicionais do comércio de São Paulo - Bom Retiro e Jardins – é que a tão esperada recuperação de vendas foi adiada.
“Cadê dezembro? Já foi”, afirma Francisca Parra, vendedora da Dona Anja, loja localizada em uma galeria na Rua Oscar Freire, ao falar sobre os negócios deste mês.
Antes da pandemia, diz ela, que trabalha há 40 anos no comércio, o espaço com dezenas de lojas ficava lotado durante todo o mês dezembro.
Na última segunda-feira (20/12), dava para contar nos dedos os clientes circulando por ali.
Para Francisca, além dos efeitos conhecidos da pandemia e das condições macroeconômicas desfavoráveis, a Black Friday é outra culpada de as lojas estarem vazias nesta época do ano.
“A Black Friday teria que acontecer nos meses de julho e agosto, na mudança de estações, não no final de novembro e tão perto do Natal”, diz ela.
Na mesma galeria, Elza De Cesare, vendedora da Trendish, conta que os lojistas esperavam um final de ano maravilhoso, cheio de gente nas ruas e fazendo compras.
“Por enquanto, as vendas estão parecidas com as do ano passado, fracas. Esperamos que melhorem nos dias 22 e 23”, diz ela, sem tirar o olho do celular.
Não tinha ninguém na loja, mas Elza não parou de falar com as clientes pelo WhatsApp.
No Bom Retiro, Nelson Tranquez, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, diz que os lojistas sentem saudades da época em que era impossível andar a pé ou de carro no bairro.
Na última quinta-feira (16/12), boa parte das lojas estava praticamente vazia e, com um pouco de paciência, dava para estacionar o carro na rua principal, a José Paulino.
“O começo do mês foi bom, mas as vendas voltaram a cair”, diz Irandi Mota, gerente da AD.
Nos shoppings, a maioria dos lojistas registra vendas menores do que as de 2019, de acordo com levantamento da Ablos, associação de lojistas de shoppings, que reúne quase 100 redes.
Os setores de moda íntima, calçados, papelaria e de serviços faturaram nos primeiros 20 dias de dezembro de 3% a 17% menos do que em igual período de 2019.
Somente os setores de vestuário e artigos para o lar informaram alta de vendas, de 4% e 10%, respectivamente, no período.
“As marcas que atendem as classes A e B estão com crescimento de vendas e as que atendem as classes C e D estão com queda de vendas”, diz Mauro Francis, presidente da Ablos.
De acordo com ele, de forma geral, houve frustração de expectativas em relação ao último fim de semana. “Os lojistas esperavam vender mais que em 2019, mas isso não aconteceu”, diz.
Dezembro é, tradicionalmente, o melhor mês de vendas para o comércio, época em que as placas de descontos desaparecem das vitrines e os preços sobem.
Numa época de inflação alta como esta, geralmente, falar em promoção é até palavrão para os lojistas. Mas, em época de pandemia e economia combalida, o cenário é outro.
PROMOÇÕES
Nos dois locais visitados pelo Diário do Comércio, Bom Retiro e Jardins, lojistas tentavam chamar a atenção da clientela com promoções.
Na AD, uma placa indicava descontos de até 80%. Na My Story, a promoção era a compra no varejo pelo preço de atacado, como peças de R$ 29,99 até R$ 89,99.
Na Rua Oscar Freire, lojas de uma galeria anunciavam três blusas de suede por R$ 119,90 e descontos de 10% a 40%. Também na mesma rua, lojas ofereciam descontos de 50%.
A rede Riachuelo está oferecendo ao cliente que possui o cartão da loja até 70 dias para começar a pagar nos planos em até cinco vezes. O benefício vale até o dia 31 deste mês.
Nas compras acima de R$ 250 feitas com o cartão da loja, o cliente tem direito ao cashback de R$ 30, que pode ser usado em compras até o dia 9 de janeiro de 2022.
CAI FLUXO DE CLIENTES NAS LOJAS
Todo este esforço dos lojistas para vender na melhor época do ano faz todo o sentido, se considerar o tamanho da queda do fluxo de pessoas nas lojas.
Em novembro, 43,4 milhões de pessoas foram às lojas de roupas, calçados, materiais de construção, farmácias, livrarias, perfumarias, de acordo com levantamento da Virtual Gate.
Este número é 5,4% maior do que o de igual período do ano passado (41,1 milhões), mas 27,5% menor do que o de novembro de 2019 (59,9 milhões).
Este mês começou parecido. No acumulado até a semana passada, o fluxo de pessoas nas lojas subiu 11% em relação a dezembro de 2020, mas caiu 28% sobre igual período de 2019.
Em novembro, a Virtual Gate, que monitora cerca de 2.700 lojas no país, chegou a projetar uma alta de 20% no fluxo de pessoas nas lojas no período de Natal em relação a 2020.
Agora, o número é de crescimento entre 12% e 15% sobre o ano passado e de queda de 5% sobre 2019.
Em 2019, 52 milhões de pessoas, em média, compareciam mensalmente às lojas. Em 2020, este número caiu para 27,3 milhões de pessoas. E, neste ano, o fluxo é de 32,8 milhões de pessoas.
Isto é, na comparação com o período pré-pandemia, o número de pessoas que vão às lojas diminuiu em 19,2 milhões.
Neste mês, de acordo com projeções da Virtual Gate, a queda no fluxo de pessoas nas lojas deve ser da ordem de 28% em relação a 2019.
Na comparação com dezembro de 2020, a expectativa é de um crescimento de 5,4%.
“O fluxo é inferior ao de 2019, mas ele existe”, afirma Heloísa Cranchi, diretora geral da Virtual Gate. A boa notícia, de acordo com ela, é que a propensão à compra aumentou neste ano.
Em 2019, de cada 100 clientes que entravam na loja, 15 compravam. Em 2020, este número subiu para 17 e, este ano, para 20.
“Mais clientes têm entrado nas lojas com a intenção de comprar. O lojista, portanto, tem de focar no atendimento, cuidar do sortimento para não perder venda”, diz ela.
As pessoas passaram muito tempo presas em casa e muitos eventos sociais voltaram a acontecer, diz ela, surgindo as necessidades de compras.
“Mesmo com o dinheiro mais curto, sempre há compras por impulso. É a vida tentando voltar ao normal”, afirma Heloísa.