As novas realidades do varejo
Com a realidade virtual, consumidoras podem ver na hora como ficam diferentes cores de batom. E não se trata de foto: as imagens estão em movimento

O Big Show, evento que todo mês de janeiro reúne a indústria varejista americana – além de visitantes do mundo inteiro --, é grande. Muito grande.
São 22 mil metros quadrados de feira, com mais de 500 expositores demonstrando suas soluções e tecnologias para os mais diversos problemas dos lojistas (físicos ou virtuais).
Boa parte dos pavilhões do Jacob Javits Center, no oeste de Manhattan, é ocupada por empresas que oferecem sistemas vitais, como leitores de códigos de barra, impressoras de cupons fiscais, computadores para checkout e sinalizações chamativas.
Mas a cada ano que passa a presença de tecnologias avançadas se faz sentir com mais peso no evento da National Retail Federation, ou NRF.
Este ano, era comum caminhar pelos corredores do evento e deparar com homens e mulheres usando óculos de realidade virtual na cabeça, mexendo em prateleiras, trocando móveis de lugar ou caminhando por espaços digitais.
A VR, como é conhecida a realidade virtual na sigla em inglês, e a realidade aumentada - AR, que ficou famosa ano passado com o jogo Pokémon Go – provaram que não são coisa só para gamers, muito pelo contrário. Logo, logo elas serão parte integral do varejo.
“Para determinadas categorias de produto, a imagem é muito mais importante que números ou palavras”, disse o consultor Brian Kilcourse, da consultoria especializada RSR Research.
“Os consumidores querem interfaces mais simples e têm altas expectativas em relação ao varejo, pois já sabem do que a tecnologia é capaz.”
Considere a categoria de cosméticos e produtos de beleza. Uma coisa é uma cliente observando a imagem de um batom ou a foto de uma modelo com o produto aplicado. Outra, bem diferente, é ver-se a si mesma com o batom nos seus lábios.
Desde o ano passado, a varejista de cosméticos americana Sephora utiliza o sistema de realidade aumentada desenvolvido pela canadense Modiface para permitir que suas clientes façam exatamente isso.
O escritor de ficção científica Arthur C. Clarke afirmou celebremente que as tecnologias suficientemente avançadas são indistinguíveis de mágica – e essa é a experiência da maquiagem com realidade aumentada.
Nos aplicativos de celular, tablet e no website da empresa, as clientes da Sephora podem experimentar virtualmente batons, cílios postiços e outros itens de maquiagem usando o Virtual Artist.
Com a câmera voltada para o próprio rosto, as consumidoras podem ver na hora como ficam diferentes cores de batom. E não se trata de foto: as imagens estão em movimento.
“No setor de beleza, é muito difícil encontrar o produto certo”, afirmou Parham Aarabi, fundador e CEO da Modiface.
“Cada pessoa tem um tom de pele diferente, e há inúmeras opções. A realidade aumentada é uma grande ajuda.” E isso vale também para os varejistas: as clientes que usam a realidade aumentada interagem por mais tempo com a marca, compartilham mais e compram mais, disse Aarabi.
A tecnologia da maquiagem virtual pode parecer mágica hoje, mas ainda há muito a evoluir. As câmeras dos celulares e computadores estão melhorando, assim como o software.
Uma das inovações que vêm por aí, segundo o CEO da Modiface, é a possibilidade de tirar uma foto de uma modelo em uma revista, por exemplo, e ver a mesma maquiagem aplicada no rosto da usuária. Mais que isso, o sistema é capaz de identificar quais produtos correspondem aos usados na fotografia.
TOUR VIRTUAL
A Marxent, startup de Dayton, no Meio-Oeste americano, aplicou uma lógica parecida para o varejo de móveis e itens de decoração doméstica, usando realidade virtual.
A empresa desenvolveu um sistema completo para que os consumidores possam reproduzir ambientes de suas casas e no mundo virtual, testando o posicionamento dos móveis e diferentes acabamentos.
“Temos uma base de dados de milhares de sofás, mesas, geladeiras e assim por diante”, disse Vince Kilian, gerente de produtos da Marxent.
“O cliente pode fazer um projeto completo sozinho, sem a ajuda de um decorador e sem ter conhecimento de softwares complexos de design auxiliado por computador.”
A Marxent está testando o sistema com a Ashley Furniture Homestore, uma das maiores redes de lojas de móveis dos Estados Unidos.
Tudo começa num aplicativo de celular ou tablet. O cliente desenha a planta baixa do ambiente, que é automaticamente convertida para três dimensões.
Depois, basta colocar os objetos nos lugares desejados. Se o cliente tiver um óculos de realidade virtual, pode caminhar pelo ambiente virtual. Ou então pode ir a uma loja física para fazer esse passeio virtual (os aparelhos de VR ainda têm custo alto e dependem de computadores potentes).
“Na loja, o cliente pode contar com a ajuda de vendedores especializados, além de ver os produtos ao vivo”, afirmou Kilian.
Se o cliente consegue ter uma experiência tão realista – tão mágica – sem sair de casa, qual é o futuro das lojas?
Para o consultor Kilcourse, elas não vão desaparecer tão cedo. No caso da Sephora, as clientes podem “testar” várias cores em casa, mas muitas delas acabam selecionando cinco cores finalistas para efetuar a compra em uma loja.
E, no caso da realidade virtual, os óculos de VR ainda estão chegando ao mercado, e deve levar anos para que todos os consumidores tenham um par em casa – se é que eles serão tão onipresentes como PCs e celulares.
A única certeza é que essas novas realidades – virtual e aumentada – chegarão ao varejo. “Inicialmente, o investimento será das grandes empresas”, afirmou o consultor Kilcourse. “Mas tenho certeza de que a tecnologia vai se disseminar por todo o setor.”
FOTO: Thinkstock