As novas lojas âncoras dos shopping centers
Para diminuir custos de ocupação e atrair público, centros de compras oferecem destaque e boas negociações. Lojas infantis como a Tip Top (acima) ou restaurantes descolados saem das ruas para entrar no mix. E todos saem ganhando

Tem sido cada vez mais comum as notícias de que lojistas “entregaram os pontos” comerciais, em razão de queda de rentabilidade, altos custos de ocupação, ou por ambos os motivos no atual cenário de recessão econômica.
Mas há também os que têm driblado esses problemas para continuar a crescer trocando lojas de rua por shopping centers. E vêm se tornando suas novas âncoras - caso de algumas redes de produtos infantis, como a Tip Top e Alô Bebê, e de restaurantes, como o Abraccio e Si Señor.
Se o problema é reduzir custos – e os shoppings não são conhecidos por sua “generosidade” nesse quesito - a falta de lojistas-satélites em tempos de vendas do comércio em ritmo lento rende boas negociações para determinados tipos de estabelecimento que agora são os novos chamarizes de público.
Megalojas infantis, espaços gourmet ou de casual dining, e parques temáticos de operação temporária – como o Parque da Mônica, no SP Market - têm atraído famílias em busca de uma experiência completa e diferenciada de cinco a seis horas de duração, que inclui compras, alimentação e lazer.
Essas operações têm conquistado espaços de destaque nestes empreendimentos –em especial nos novos ou em fase de maturação, que oferecem condições convidativas para lojistas. Com o forte refluxo das viagens internacionais, o lazer em família tende a se beneficiar.
E os shoppings, que têm a vantagem de segurança e climatização, favorecem a migração, afirma Marcos Hirai, sócio-diretor da BG&H Real State.
“Alguns setores sofrem mais agora, como eletrodomésticos ou moda monomarcas. E os pontos comerciais de rua, são os que mais sentem. Já tem concessionária de automóvel fechando... É coisa de nicho. Mas esse pode ser o momento de crescer para outros.”
Sempre muito parecidos, com as mesmas lojas-âncora como Renner, Riachuelo, Marisa ou C&A, por exemplo, agora os shoppings devem se reinventar e oferecer mais. “Eles não podem esperar o lojista vir atrás, mas dar oportunidade a novos players. Qualquer novidade é bem vinda.”
Se a vacância não está tão alta assim, apesar da tendência de aumento no segundo semestre, e ainda está na faixa dos 2,5% a 3% em grandes pólos, como José Paulino e Morumbi, ocupar espaços vagos ainda é o grande incômodo dos centros de compra, segundo Hirai.
Isso se traduz em menores custos de ocupação ou operacionais, isenção de luvas e até ajuda para financiar parte da loja. “Os preços nem tanto, mas o ambiente de negociação está melhor”, afirma.
DA RUA PARA O SHOPPING
Apesar de não terem essa ideia inicialmente, marcas como a Tip Top têm procurado se adaptar à nova realidade. Há dois anos, a rede de franquias abriu uma megaloja própria de 600 m2 com o seu mix completo de puericultura leve e pesada na rua Giovanni Gronchi, no Morumbi. Justamente para não ter que arcar com custos de operar dentro de um shopping.
Mas a estratégia atraiu esses grupos. Muitas conversas aconteceram até que as partes chegassem a um ajuste, de modo a compactar o mix da mega para algo entre 250 e 300 m2, e assim levá-lo para o shopping. Com isso, conseguiram um custo de ocupação aceitável, e, em 2014 entraram no Granja Viana e no Praça Araçatuba.
“O custo de aluguel, condomínio e fundo de promoção tiveram que ficar compatíveis com o faturamento. Foi uma negociação boa, sempre pensando que a conta tinha que fechar ”, afirma Ricardo Marcondes, gerente de expansão de franquias da Tip Top.
“A grande metragem sempre pagou menos, e neste caso, virou espaço vocacionado”, diz Marcos Hirai.
Como os shoppings querem lojas que atraiam famílias, e poucas redes atuam nesse segmento, a Tip Top levou vantagem. “Até os carrinhos de bebê disponíveis no shopping de Araçatuba são retirados em nossa loja, uma parceria bem legal. E a um custo de ocupação viável, que foi bom para todos”, afirma Marcondes.
Já no caso do Granja Viana, na verdade, houve uma conversão da franquia tradicional, de 45m2, para 270 m2. “Com a mudança, melhoramos o resultado e o faturamento final”.
Agora, vários franqueados querem fazer a conversão, com investimento de R$ 1 milhão. “É uma forma de crescer em um ano difícil, com mais serviço ao consumidor – e mais faturamento.”
Com 100 lojas hoje, a Tip Top estuda a conversão ou a adição de megalojas nos shoppings de Bauru, Marília e Teresina (PI). “Com o fluxo dos cinemas e praça de alimentação, o negócio matura mais rápido. Por isso, a expectativa para crescer em 2015 é de 15% ante 2014, e faturar R$ 115 milhões”, diz Marcondes.
No caso da Alô Bebê, que se instalou na rua João Cachoeira, no Itaim Bibi, e se expandiu sempre com lojas de rua, a experiência de shoppings começou só em 2002, no Parque D.Pedro, em Campinas. Com a boa maturação, filiais foram abertas em Goiânia (GO), Uberlândia (MG), Joinville e Camboriú (as duas em SC).
“Com a crise econômica, caiu o movimento nos shoppings. Então eles foram a buscar lojas que atraem pessoas que não compram sozinhas, mas que vão com a família inteira. E isso foi bom para nós”, afirma Milton Bueno, diretor de marketing.
Em breve, mais duas serão abertas em centros de compras para se juntar às 25 lojas da rede: no Iguatemi Campinas, e no Metropolitano na Barra (RJ). Mesmo com a ampliação da operação, a Alô Bebê projeta um crescimento modesto, na casa de 6% em 2015. “Estamos olhando o mercado, por enquanto”, diz Bueno.
COMIDA BOA E PREÇO JUSTO
As “vilas gastronômicas” para atrair gente para dentro do shopping com mais frequência têm sido sucesso de público e demostram o acerto da estratégia. Hirai lembra que, em 2014, a rede de lanchonetes Johnny Rockets abriu doze lojas. Assim como a P.F.Changs, a Piola e a Maremonti.
E a Si Señor, rede de culinária tex-mex, é outra das que embarcou em centros de compras, onde obtém bons resultados. Com 22 lojas próprias --metade delas instaladas em shoppings. como os de São José do Rio Preto e São Caetano do Sul- a rede tem sido muito procurada por por ser marca que eleva o fluxo de clientes, de acordo com seu presidente, Jorge Maluf.
Com isso, a rede, fundada em 2007, migrou para esse formato pela conveniência “virada para fora, funcionando em horário estendido e com opções para atrair de famílias a jovens adultos.
“Não é só servir comida, mas experiência, inovação no cardápio de bebidas e uma trilha sonora bacana baseada em rock'n'roll.”
Maluf diz que, para isso, shoppings têm oferecido preços de aluguel e condomínio diferenciados. É um exemplo de rede da qual os centros de compras se oferecem para financiar parte da loja na instalação.
“Operar no shopping custa cerca de 20% mais do que na rua. Agora fomos para lá por ser um ano difícil para todo mundo, e pelas boas negociações permitirem continuar a oferecer valor e promoções para o cliente voltar”, afirma Maluf.
A meta era inaugurar de seis a oito lojas em 2015, reduzida agora a três. “É mais para observar o mercado. Esperamos crescer 35% em receitas com a maturação das novas lojas.”
O grupo Bloomin Brands, controlador do Outback, abriu até uma nova rede, a Abbraccio Cucina Italiana, para se manter na briga nesse período no interior dos centros de compra. “Não dá para ter duas lojas da mesma marca no mesmo shopping. Então essa é uma forma de ampliar presença e capilaridade”, afirma Hirai.
O Outback tem 66 lojas e deve abrir mais 10 até o fim do ano, informa a rede, que entra no quinto ano com 20% de crescimento. Já a novata Abbraccio deve fechar com quatro unidades: duas nos shoppings Vila Olímpia e Market Place), a próxima em Campinas e a quarta ainda não tem local confirmado. A perspectiva é “crescer 100% na operação das primeiras unidades no Brasil", diz o grupo.
A transformação da praça de alimentação em área gourmet, e a evolução do cliente brasileiro, que procura marcas diferenciadas para curtir com a família foram a motivação principal de ampliar as operações, segundo Salim Maroun, presidente do grupo. É o novo enfoque para atrair clientes para restaurantes que atendem a faixa de R$ 45 a R$ 50 e oferecem qualidade a preço razoável.
“Essa equação de casual dining é que faz com que a mesa que ocupa o metro quadrado do shopping seja mais rentável para todos. Nesse momento (de crise), o empresário deve investir pensando nos clientes. E nós e os shoppings vamos usar nosso know how para fazer dinheiro com o mínimo possível”, afirma Maroun.