'Arcabouço fiscal é responsável, mas não reduz endividamento', diz Maílson

Para o ex-ministro da Fazenda, é preciso alterar a regra dos gastos obrigatórios, excessivamente altos no Brasil

Silvia Pimentel
23/Mai/2023
  • btn-whatsapp
'Arcabouço fiscal é responsável, mas não reduz endividamento', diz Maílson

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega disse que o arcabouço fiscal desenhado pelo governo é melhor do que o esperado, mas não resolverá o drama fiscal vivido pelo país. No máximo, vai retardar o ingresso do Brasil numa crise econômica sem precedentes. Para Maílson é preciso discutir com toda a sociedade o volume excessivo dos gastos obrigatórios e desmistificar a ideia de que quanto maior o gasto, maior a qualidade dos serviços públicos.

“Sem resolver a questão do nó que é o gasto público, não haverá saída para o Brasil”, afirmou Maílson durante palestra realizada pelo Caeft (Conselho de Altos Estudos de Finanças e Tributação), da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). 

De acordo com ele, se nada for feito nesse sentido, a dívida do setor público poderá ultrapassar 90% do PIB entre 2027 e 2028, o que é insustentável. A média nos países emergentes é 60%. “Hoje, os gastos com educação no Brasil, que é o terceiro maior em cobertura social, consomem 6,3% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto que nos países mais ricos essa proporção é de 5,8%”, comparou.

Por determinação da Constituição Federal, exemplificou o ex-ministro, os municípios hoje são obrigados a destinar 25% dos impostos à educação, que apresenta índices lastimáveis em termos de qualidade. “A vinculação de impostos a despesas que começou na área de educação e se estendeu para a saúde é uma forma primitiva de estabelecer prioridades e castra o papel do Congresso de definir os valores a serem destinados", disse.

Maílson também tem dúvidas sobre as metas de superávit primário estabelecidas pelo governo com base em várias iniciativas com vistas a aumentar a arrecadação, como a eliminação dos gastos tributários. Para o economista, os valores estimados pelo governo são otimistas demais.

“A Zona Franca de Manaus e o Simples Nacional, por exemplo, são duas grandes fontes de gastos tributários e acho pouco provável que o governo consiga emplacar mudanças significativas”, previu, ao criticar que, no Brasil, historicamente, esses gastos são permitidos sem uma avaliação posterior.

Na visão do ex-ministro da Fazenda, as pequenas e médias empresas merecem um tratamento especial, mas é preciso rever as formas de proteger o setor e debater as regras do regime tributário do Simples Nacional, que é cumulativo. “A tributação por meio de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado), embora seja mais complexa, é uma inovação, que elimina a cumulatividade e aumenta a eficiência das empresas”, explicou.

DECISÕES

Para o tributarista Fernando Scaff, que é professor de Direito Financeiro da USP e um dos integrantes do Caeft, o governo não deverá encontrar dificuldades para aprovar o arcabouço fiscal. O problema está na obtenção de receitas, estimada em R$ 150 bilhões, para fazer o "arcabouço girar".

Entre os caminhos possíveis para aumentar a arrecadação, na visão do tributarista, estão a aprovação da reforma tributária, em discussão avançada no Congresso, e a revisão de renúncias de receitas.

Durante a reunião do Caeft, Scaff citou o julgamento recente do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que definiu que os incentivos fiscais do ICMS, como isenção, redução de alíquota ou base de cálculo, devem ser tributados pelo IRPJ e CSLL. E também a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), envolvendo “a coisa julgada”. 

O tributarista lembrou que houve um empenho pessoal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no julgado do STJ e estima-se a entrada de milhões de reais para os cofres públicos com as duas decisões, o que ele considera pouco provável.

“Novos embates tributários estão no horizonte com objetivo de aumentar a arrecadação, mas certamente não chegam perto dos R$ 150 bilhões esperados pelo governo”, concluiu.

 

IMAGEM: ACSP/divulgação

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Entenda a importância de planejar a sucessão na empresa

Especialistas projetam cenários para o pós-eleições municipais