Anos de integração civil-militar
O ideal é a democracia que temos, com a ordem e a eficiência que tivemos naqueles anos
Na campanha eleitoral, diante do favoritismo do deputado Jair Bolsonaro, de origem militar, muito se tem falado da Revolução, cujos críticos denominam de “golpe de 64”. O candidato defende o período, embora tivesse nove anos quando de sua eclosão.
A campanha sistemática que aborda apenas os embates da luta armada, com lamentáveis excessos de parte a parte, pode levar os mais jovens a acreditarem que foram realmente “anos de chumbo”. É justo que se situe a presença civil naquele evento que pertence à história.
Em primeiro lugar, a deposição do presidente João Goulart partiu de uma união do governador de Minas, Magalhães Pinto, político com mandatos de deputado e na direção da UDN, importante partido, com a tropa federal sediada em Minas, sob o comando dos generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Luiz Guedes. Logo, contou com a adesão dos governadores de São Paulo, Adhemar de Barros, do Paraná, Ney Braga, do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, e da Guanabara, Carlos Lacerda, além da unanimidade das Forças Armadas. Não houve reação civil nem militar à Revolução ou ao golpe.
Os presidentes foram todos eleitos pelo Congresso, onde estavam políticos que não formaram na oposição a Jango, como os casos de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek – este chegou a votar no Marechal Castelo Branco – e tantos outros. Os editoriais de quase toda a imprensa brasileira saudaram o movimento.
Os governos militares colocaram as finanças públicas em ordem e promoveram grandes obras na energia e nos transportes, principalmente. E tiveram a maioria dos grandes nomes de nossos economistas, como Roberto Campos, Otávio Bulhões, Mário Henrique Simonsen, Antonio Delfim Netto, Ernane Galveas e Affonso Celso Pastore, entre outros.
O recrutamento de civis, muitos detentores de mandatos eletivos, reuniu o que existia de mais respeitado na classe política, como Pedro Aleixo, Gonzaga Nascimento e Silva, Hélio Beltrão, Nestor Jost, Oscar Thompson, Petrônio Portella, Ibrahim Abi-Ackel, Murilo Badaró, Camilo Pena, Pratini de Morais, Paulo Egydio Martins, Aureliano Chaves, Francelino Pereira. Gente de primeira, de biografia limpíssima.
Não se pode, portanto, considerar que vivemos uma ditadura, quando na verdade tivemos governos autoritários.
O ideal é a democracia que temos, com a ordem e a eficiência que tivemos naqueles anos. Mas o fato é que devemos muito aqueles governos. E não contribui para nosso futuro fazermos política com os olhos no retrovisor da história.
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