ACSP alerta para dependência do Brasil da importação de fertilizantes
Hoje cerca de 80% dos adubos utilizados na agricultura nacional são importados. Problema foi debatido em reunião do Conselho do Agronegócio da entidade
Na mais recente reunião do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no dia 30 de novembro, o membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Arnaldo Jardim, disse que o Brasil precisa levar adiante um plano estratégico para diminuir a dependência do agronegócio nacional da importação de matérias-primas destinadas à fabricação de fertilizantes.
Hoje, cerca de 80% dos adubos utilizados no País são importados. O deputado ressalvou que, de fato, "não devemos ter ilusão que chegaremos a ter uma produção doméstica volumosa de fertilizantes, todavia, podemos tê-la em alguns segmentos específicos". Segundo ele, o Brasil precisa, ainda, investir para estabelecer relações duradouras com fornecedores internacionais de adubos.
O tema dos fertilizantes nos entrega um gancho para falar de propostas em discussão na União Europeia de restrição à importação de produtos agrícolas livres de desmatamento. O bloco europeu vem debatendo a implantação de novas medidas, que poderão não diferenciar o desflorestamento considerado legal pelo Código Florestal Brasileiro de derrubadas ilegais.
O fato é que a retórica antiambiental do Palácio do Planalto combinada ao enfraquecimento das estruturas federais de fiscalização contra crimes ambientais ofuscam o robusto pacote brasileiro de ativos verdes, bem como vão de encontro ao que os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura apresentaram na mais recente Conferência do Clima.
Temos uma rigorosa legislação ambiental; cobertura vegetal original, acima de 66% – com boa parcela dela, praticamente um terço, dentro das propriedades rurais -; práticas agrícolas conservacionistas e que contribuem para o sequestro de carbono; um gigantesco parque tecnológico de biocombustíveis; matriz energética altamente limpa e renovável, etc. , mas tudo isso de nada serve para comunidade internacional diante do descontrole do desmatamento ilegal, sobretudo na Amazônia, e da extração irregular de madeira e de garimpos clandestinos naquela e outras regiões.
É inegável que no xadrez geopolítico global há sempre o risco de que medidas de lastro técnico em favor do meio ambiente sejam usadas como subterfúgios protecionistas, violando assim regras do comércio internacional, mas o governo brasileiro vem dando brechas, criando ganchos para que isso ocorra, impactando a credibilidade do País. Na verdade, não falta lei ambiental no Brasil, e sim o cumprimento dela.
Primeiramente, o combate ao desmatamento ilegal passa, obviamente, por mais fiscalização e, em particular, pela regularização fundiária, que possa responsabilizar CPFs e CNPJs pelos crimes ambientais cometidos.
A diplomacia brasileira precisa também ser mais atuante na comunidade internacional, buscando nos principais fóruns globais, ONU e OMC, para citar alguns, esclarecer dúvidas, questionar, buscar equivalências regulatórias e ao mesmo tempo assumir compromissos, apresentar de forma clara a realidade ambiental do País.
O comportamento omisso que se viu no G20 não ajuda em nada. Caminhamos para um ponto em que, por exemplo, o que o Código Florestal permite pode passar a não ser mais aceito como regramento ambiental pela UE. E não nos esqueçamos que tendências que surgem no continente europeu têm alta probabilidade de serem replicadas pelo mundo afora.
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