A vez do Brasil
O domínio tecnológico da agricultura em ambiente tropical permitiu ao Brasil fazer uso de suas vantagens comparativas no segmento, tais como abundância de solo, luminosidade, temperatura e oferta de água
A história recente mostra que alguns países identificaram e desenvolveram suas competências e souberam tirar partido delas para aproveitar as oportunidades oferecidas por crises e desafios surgidos no cenário internacional.
Foi o caso da Índia que, a partir de 1950, vinha investindo em Tecnologia, com a criação de seus sete Institutos de Tecnologia que transformariam o país no maior celeiro mundial de técnicos e engenheiros formados em língua inglesa.
No final do século passado, o Mundo enfrentou o desafio do Bug do Milênio, que motivou uma renovação em massa dos recursos de informática (software e hardware) e houve uma louca corrida para corrigir, atualizar e testar os sistemas, antes que ocorresse a mudança do milênio. A Índia se apresentou como o único arsenal de técnicos e engenheiros habilitados e disponíveis para corrigir os códigos dos computadores do mundo inteiro e evitar a implosão da indústria de informática, às vésperas de ser truncada pelo limite 99 nas datas da maioria dos sistemas.
O sucesso dessa iniciativa global, que teve a Índia como protagonista, alavancou o desenvolvimento e a imagem do país e, como diz Thomas Friedman no seu extraordinário “O Mundo é Plano”, o ano 2000 deveria ser considerado como o ano da independência da Índia.
Outro exemplo de sucesso é o caso da China que, por ocasião da crise financeira de 2008, estava emergindo como potência mundial com uma sequência de anos de crescimento recorde e, após sediar de forma impecável os Jogos Olímpicos, maravilhou o mundo com a renovação do país e a implantação de uma invejável infraestrutura de transportes e comunicações. A tudo isso se acrescentou um pacote de estímulo econômico de 585 bilhões de dólares, liberado em março de 2009, que alavancou ainda mais sua economia e transformou a China na principal fonte de produtos manufaturados, que inundou o mundo com os artigos “Made in China”.
Esta conjugação de desenvolvimento de competência e aproveitamento de oportunidade está sendo oferecida agora ao Brasil como consequência da crise da pandemia e da pujança atual do nosso agronegócio.
A partir da década de 1970, o Brasil construiu um sistema altamente eficiente e produtivo no que se refere ao agronegócio. A expansão da agropecuária no cerrado foi fator determinante nesse crescimento. Nada teria dado certo se não fosse o conhecimento científico aplicado. Graças à pesquisa agronômica, liderada inicialmente pelo Instituto Agronômico de Campinas e, a partir de 1973 pela Embrapa, dominou-se a aridez daquela região, que corresponde a 25% do território nacional. Fertilidade do solo, melhoria genética de variedades e sistemas de plantio adaptados formaram o tripé tecnológico dessa incrível história de sucesso do agro brasileiro.
Ao sucesso da ocupação do cerrado do Centro-Oeste se soma, mais recentemente, o desenvolvimento da nova fronteira agrícola do MATOPIBA, nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que nos últimos dez anos passou a responder por quase 10% da produção de grãos do país.
O domínio tecnológico da agricultura em ambiente tropical permitiu ao Brasil fazer uso de suas vantagens comparativas no segmento, tais como abundância de solo, luminosidade, temperatura e oferta de água. Tais vantagens comparativas e o investimento em curso em ferrovias, portos e aeroportos para viabilizar a logística requerida para escoar nossa produção, possibilitam ao agronegócio brasileiro desempenhar hoje um papel de liderança nos mercados internacionais e de real celeiro para atender a segurança alimentar do planeta.
O saldo recorde de 61 bilhões de dólares de nossa Balança Comercial em 2021, apesar das condições adversas da pandemia e da crise hídrica que nosso país enfrentou no ano, mostram que o Brasil está colhendo os frutos do extraordinário desenvolvimento do agronegócio, que podem parodiar o comentário de Thomas Friedman relativo à Índia, neste ano de comemoração do Bicentenário da nossa Independência e, semelhante ao sucesso da China, podemos estar começando a inundar o mundo com nossos produtos “Grown in Brazil” (cultivados no Brasil) e mostrando que esta é a VEZ DO BRASIL.
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