A ponte para o caos
É difícil imaginar que o PT abra mão de seus hábitos e passe a ouvir a voz das ruas. O desfecho da atual crise é imprevisível
Constrói-se a cada dia no país, neste início de ano e do segundo mandato da governanta Dilma, a ponte para o caos.
Mesmo para quem trabalha na imprensa há mais de 40 anos e atravessou o período de exceção nos governos militares, as diretas já, as crises de inflação alta, deposição de Collor, o primeiro eleito após a ditadura, as lutas sindicais que levaram Lula ao poder maior da República e hoje ao egocentrismo exacerbado, e muitas outras situações de aflição, dentro da era republicana, é difícil prever a extensão desse caos que se aproxima.
Não sou alarmista nem pessimista. Realista, sim, pela experiência desses anos todos, observando a (in?) evolução da vida nacional.
A soberba petista e sua retórica violenta de somente dar valor aos seus atos e manifestações, desacreditando adversários e julgando-se acima do bem e do mal, detentor da verdade, contaminou a cúpula partidária e governista, de modo a impedi-los de ver a realidade.
Não são as elites burguesas, as forças reacionárias, a imprensa capitalista, a burguesia branca, ou sejam lá os rótulos falsos que criem para desviar a atenção do foco principal, sua incompetência gerencial, a corrupção endêmica implantada e a sede de poder, que os desmascaram perante a sociedade brasileira, como um todo e não só a que eles pensam estar conspirando, quando apenas começou a se defender dos ataques que recebe há doze anos.
Traduzindo a longa frase: O PT tem cometido tantos erros prejudicando o conjunto da população e do próprio Estado brasileiro que a população está acordando da letargia, e o partido de Lula não vê.
Acusa fantasmas que não existem. E não admite que sejam usadas táticas que o próprio PT sempre usou para atacar adversários.
A incapacidade do petismo de Lula de entender que não seria ovacionado a vida toda por cometer atentados contra a ética, ordem, Constituição, a lógica, a honestidade intelectual e prática, os põe numa defensiva irracional do tipo levar às ruas o exército de Stedile (já está) para provocar o confronto, o conflito, que vem vindo e não se sabe a dimensão que terá.
No momento em que o país precisa de lideranças comedidas, racionais, comprometidas com o bem estar do país, encontra nos principais postos da República e em sua volta conselheiros, todos, mesmo sem ter consciência disso, talvez, cimentando a ponte para o caos com atitudes, declarações, gestos estabanados, incendiários, buscando apenas defender privilégios e assalto aos cofres públicos.
Não querem enxergar nas vaias à governanta, no panelaço, expressão legítima de cansaço da população com a forma de agir dos petistas, dos políticos, dos partidos, de modo geral.
Buscar refúgio em declarações segundo as quais quem vaia a governanta são reacionários burgueses, pessoas contra o povo e outras bobagens, perdeu o sentido.
Não se trata também de terceiro turno como, infantil e até idiotamente, o governo tenta se defender, enquanto segue fazendo bobagem atrás de bobagem, sem ouvir o clamor das ruas.
Não são os ricos que protestam. Não há tanto rico assim no país. Nem os pobres defendem Dilma. A maioria de três milhões que garantiu a reeleição, assim como a base de seu eleitorado (diminuindo claramente) baseou-se no interesse das bolsas distribuídas pelo poder central.
As contradições, as mentiras são e foram tantas que, quem pensa, cansou.
Quem não pensa está pensando pelo bolso, pela inflação e pela perda de direitos trabalhistas que a governanta jurou de pé junto, nem que a vaca tussa, não mexer.
O cansaço leva às vaias, ao desejo de mudança. E nada indica que o PT irá mudar. Quer exacerbar.
“Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação.”
Do jeito que vai a coisa, a ponte cresce e não se sabe aonde vai dar.
Domingo, dia 15, é hora de todos irem às ruas de maneira pacífica, ordeira, não para ódios, mas para mostrar que mesmo um governo eleito tem que governar para todos e não para si mesmo.
Juízo PT. Admita que errou e com humildade, assuma os erros sem violência.