A onda da cerveja artesanal pegou no Brasil

Saiba como evolui o mercado de cerveja com fornecedores como a Lamas Brew Shop, de David Figueira (na foto)

Italo Rufino
24/Jul/2017
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A onda da cerveja artesanal pegou no Brasil

Em 2016, o mercado cervejeiro brasileiro recebeu mais 148 novos negócios e cresceu 39,6%.

Com o lançamento de novos rótulos, a expectativa é que até dezembro terá sido atingida a marca de 500 cervejarias (90 delas instaladas no estado de São Paulo), de acordo com dados da Escola Superior de Cerveja e Malte.

O avanço será festejado a partir de quarta-feira (26/07), quando será aberta a Brasil Brau (Feira Internacional de Tecnologia em Cerveja), o maior evento profissional da indústria cervejeira no país.

A feira se estende até sexta (28/07), no Centro de Exposições São Paulo Expo, na capital paulista.

Para David Figueira, cofundador da Lamas Brew Shop, que comercializa insumos para produção de cerveja artesanal, diferentes fatores têm fomentado a cultura da cerveja no Brasil. 

Desde 2011, o hobby -e o negócio- da cerveja em casa explodiu no país.

Pequenos produtores passaram a desenvolver novos sabores de forma experimental – e as receitas, diferentes das marcas de consumo de massa, caíram no gosto do brasileiro. 

O movimento fez com que investidores ingressassem no mercado com visão de negócio.

Ao mesmo tempo, amantes da cerveja, que já produziam para consumo próprio, passaram a vislumbrar o passatempo etílico como alternativa de trabalho em meio à recessão. 

SAIBA MAIS: Microcervejarias: setor tem espaço para novos empreendedores

Mas, mesmo quando o assunto é cerveja, nem tudo remete a alegria. A profissionalização das cervejarias artesanais ainda é baixa e poucos empreendedores mantêm produção e crescimento constante. 

Montar uma cervejaria requer diferentes requesitos legais, como registro em órgãos ambientais como a Cetesb e fábrica localizada em área de zoneamento industrial. 

Também há a concorrência com as gigantes do ramo que dominam o mercado de massa, como a AB InBev (que detém 63% do mercado nacional) e Heineken (com participação de 19%). 

Outro fator que joga contra os pequenos produtores é a abrangência de público restrita.

Por ser um produto pautado na diferenciação de alto valor, os preços das cervejas artesanais costumam ser bem mais altos do que as de marcas populares, devido o custo das matérias-primas e menor produtividade, típica de pequenos negócios.

Hoje, a cerveja artesanal representa apenas 1% do mercado cervejeiro nacional. Nos Estados Unidos, em comparação, o nicho é responsável por quase 15% do faturamento anual do setor. 

NEGÓCIO PROSPERA

Fundada em 2011 por três amigos, cientistas em física da Universidade de Campinas, a Lamas Bew Shop se especializou na importação e revenda de insumo e equipamentos para pequenos cervejeiros. 

Entre os fornecedores estão fabricantes de malte da Inglaterra, Holanda e Bélgica e de lúpulos da Alemanha e Estados Unidos. 

A empresa possui três canais de venda. São quatro lojas físicas, localizadas em São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

LOJA DA LAMAS BREW SHOP: EMPRESA DEVE FATURAR R$ 14,4 MILHÕES EM 2017

Há também um e-commerce que entrega em todo Brasil em até dois dias úteis.

A agilidade requer transportadores exclusivos, uma vez que há produtos com prazo de validade curto e que requer refrigeração, como fermento líquido, usado na fermentação da cerveja e que transforma açúcar em álcool. 

A empresa também possui uma unidade atacadista, a Lamas Pro Brewing, que só atende outras empresas, como pequenas lojas de insumos com atuação regional. 

Hoje, não existe um perfil uniforme de clientes na loja. 

“Atendemos desde diretores de grandes companhias, que investem em cervejarias com ótimos equipamentos, até monges que fazem a própria cerveja em monastérios”, afirma Figueira, da Lamas Brew Shop. “A presença feminina também é alta, cerca de metade das clientes são mulheres”. 

Recentemente, a Lamas Brew criou um serviço de assinatura. O cliente recebe bimestralmente um kit de insumos para produção de receitas bem originais, como uma cerveja salgada de origem alemã, que, no passado, era desenvolvida com água do mar. 

“A ideia é reforçar a imagem de confraria que a empresa possui e desenvolver a capacidade técnica dos cervejeiros”, afirma Figueira. 

Há três opções de assinaturas, que custam entre R$ 79,90 (para produção de cinco litros) e R$ 149,90 (20 litros). 

De acordo com Figuera, a crise quase não teve impacto no negócio, em partes devido a entrada recente de novos cervejeiros no mercado com visão de negócio. 

Habituada a crescer a taxas de 20% ao ano, em 2016 a empresa cresceu “apenas” 10%. Em 2017, a Lamas Brew Shop deverá retomar a antiga taxa de expansão e as receitas deve chegar a R$ 14,4 milhões.

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NO RADAR DAS MULTINACIONAIS 

Desde 2014, AB InBev tem adquirido pequenas cervejarias americanas, como a  Elysian (de Seatlle), Goose Island (Chicago), Blue Point (Long Island) e 10 Barrel (Oregon). 

No Brasil, a multinacional tem feito aquisições similares. Em 2015, comprou a Colorado, de Ribeirão Preto, que, na época da transação, faturava R$ 18 milhões com produção de 120 mil litros por ano. 

A Colorado é conhecida por usar em suas receitas sabores tipicamente brasileiros, como café, rapadura, mandioca, mel e castanha do Pará. 

Também em 2015, foi a vez da aquisição da Wals, também pela Ab InBev. De origem mineira, a Wals faturava R$ 9 milhões e produzia 50 mil litros por ano. 

Em 2014, a cervejaria ganhou notoriedade ao conquistar o primeiro e o segundo lugar na World Beer Cup, evento realizado nos Estados Unidos e considerado uma das mais importantes premiações da indústria de cerveja mundial. 

As aquisições fazem parte da estratégia da AB InBev de manter sobre seus tentáculos marcas que estão inseridas num mercado que cresce 17% ao ano, de acordo com dados do Sebrae.

Após a incorporação, Colorado e Wals passaram a fazer parte do portfólio de marcas do guarda-chuva da Bohemia, que, também em 2015, lançou rótulos com cara de “artesanal”, como a Caã-Yari, Jabutipa e Bela Rosa, que utilizam ingredientes como erva-mate, jabuticaba e pimenta-rosa.

MARCAS DA BOHEMIA COM CARA DE CERVEJA ARTESANAL

CULTURA POPULAR

A prática de fazer cerveja caseira é uma atividade que tem se transmitido de geração em geração. Nos séculos 16 e 17, colonos ingleses instalados nos Estados Unidos produziam sua própria cerveja de maneira artesanal para o consumo familiar. 

Na década de 1920, com a promulgação da Lei Seca, a atividade de fazer cerveja caseira entrou na clandestinidade. 

Até a década de 1970, em todo os Estados Unidos, existiam menos de 50 cervejarias. Mas o cenário mudou a partir de 1979, quando a fabricação caseira só voltou a ser legalizada – e os artesãos do malte e lúpulo resgataram a cultura da cerveja.

Hoje, os Estados Unidos é o segundo maior produtor de cerveja do mundo, perdendo para a China. O Brasil vem logo atrás, na terceira colocação, de acordo com a Barth-Haas Group, maior fornecedora de lúpulo do mundo. 

Ano passado, a cidade de São Paulo deu mais um passo para a maturação do mercado. A prefeitura municipal flexibilizou a lei de zoneamento para indústrias de baixo impacto. 

O decreto 57.521/2016 permite a abertura de micro e pequenas cervejarias anexas a bares (brewpubs). Neste caso, o dono do bar pode fabricar sua própria cerveja e vender para consumo no local. 

Em setembro, a cidade também vai receber uma edição do Oktoberfest, que será realizado no Anhembi. Ainda não foi divulgado detalhes do evento, mas é bem provável que o formato seja similar a versão catarinense, em que cervejarias regionais têm destaque.

IMAGENS: DIVULGAÇÃO/Empresas

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