A gorjeta vai se tornar a essência de um negócio?

Prepare-se para o que vem por aí: com os novos sistemas de pagamento digital, as gorjetas competem com os preços de produtos e serviços e quase não dá para o nova-iorquino reclamar

The New York Times
20/Fev/2015
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A gorjeta vai se tornar a essência de um negócio?

Por Hilary Stout

O caixa no Café Grumpy, em Nova York, passou o cartão de crédito pela máquina e virou a tela do iPad com sistema de vendas para o cliente. "Adicionar gorjeta", dizia a tela, listando três opções: US$1, US$2 ou US$3. O cafezinho custava US$4. 

Em outras palavras: as opções representavam 25%, 50% ou 75% da conta. Mesmo sendo uma instituição nacional, os consumidores americanos estão se sentindo um pouco invadidos pela gorjeta.

Havia um botão "Sem gorjeta" e um "Personalizar a gorjeta", mas nenhum deles parecia particularmente convidativo caso o caixa estivesse observando. Sob pressão, a escolha do meio – US$ 2 – parecia mais fácil. 

Hoje, deixar 15% pelo serviço completo (o antigo padrão em um restaurante) e menos para transações rápidas é considerado coisa de pão-duro por algumas pessoas. "Recomendamos 20%", disse Peter Post, diretor do Instituto Emily Post, que oferece orientações de etiqueta.

"O aparecimento do sistema POS no iPad está mudando completamente a forma com que os consumidores dão gorjetas", disse Justin Guinn, associado de pesquisa de mercado da Software Advice, que concluiu recentemente um estudo sobre o efeito de tais sistemas sobre as práticas de gratificações de clientes de restaurantes. "Hoje de manhã, dei uma gorjeta de 40% pelo meu café de US$2,50 porque o sistema POS da casa tem recurso de 'gorjeta inteligente'". 

ATÉ EM SELF-SERVICE

Em muitas situações, vários segmentos comerciais, como empresas de táxi e salões de beleza, contam com a onipresente tela ou o aplicativo móvel para forçar valores maiores. Os passageiros de táxi de Nova York que fazem pagamentos com cartão de crédito são confrontados com opções de gorjetas de 20, 25 ou 30%. Qualquer coisa a menos, tem que ser manualmente inserida (e calculada pelo passageiro).

Na hora de finalizar a compra de um vale-presente para o day spa da Euphoria, aparece a opção de incluir uma gratificação; a opção de 25% é automaticamente selecionada para aqueles que dizem sim. (Há também a opção de mudar manualmente para 15, 20 ou 30%.) Um consumidor de Miami se queixou no site Chowhound de uma gratificação automática de 24% de um almoço self-service: "Sempre dou 20% ou mais de gorjeta, mas 24% incluído em um bufê... Nossa!"

REPERCUSSÃO NO MERCADO DE TRABALHO 

Isso tudo acontece no momento em que a situação dos trabalhadores com baixa remuneração está cada vez mais visada e muitos batalham pelo aumento do salário mínimo.

Alguns estados, incluindo Nova York, estão considerando elevar o limite do salário sub-mínimo para trabalhadores como garçons, que normalmente ganham uma parte substancial de seus rendimentos em gorjetas. Mas, como hoje se espera só gorjetas altas, até mesmo os mais generosos se perguntam se pode haver uma alternativa.

"O ideal seria todos terem um aumento e adotar o modo europeu de incluir tudo no preço, mas não é assim que fazemos as coisas", disse Helaine Olen, blogueira de finanças pessoais. Assim, Helaine diz que as pessoas devem planejar as gorjetas como qualquer outra despesa familiar. "É preciso incluí-la no orçamento da mesma forma que quando você vai viajar e sabe que a companhia aérea vai cobrar uma taxa pela sua mala."

Muitos se perguntam se o valor esperado da gorjeta aumentará tanto até o ponto em que já não seja vista como um "complemento", levando os empregadores a repensar a estrutura de preços e salários.

Os responsáveis pelo rápido crescimento do serviço de carona Uber frequentemente citam sua proibição de gorjetas como um dos atrativos, mesmo os preços das corridas sendo superiores aos dos táxis. A cervejaria Public Option, programada para inaugurar em Washington, D.C., não permitirá gorjetas; seu proprietário já disse que pretende pagar pelo menos US$15 por hora a seus funcionários.

GORJETAS EM VEZ DE CURTIDAS

Mesmo assim, o conceito de gorjetas está se expandindo para além da indústria de serviços agora que novas plataformas permitem que os criadores de conteúdo da internet recebam gorjeta em Bitcoins como recompensa por sua criatividade, ao invés de uma simples "curtida".

Em março, uma empresa do Vale do Silício inaugurou o ChangeTip, plataforma que permite que as pessoas enviem pequenos pagamentos em Bitcoins através de mídias sociais, e-mail ou Skype  a criadores de conteúdo (ou qualquer um) na internet para mostrar que gostaram de seu trabalho.

O serviço vem crescendo cerca de 30% ao mês e tem agora quase 60 mil usuários, que coletivamente já gratificam um total de 250 mil dólares, disse Nick Sullivan, fundador e executivo-chefe. O pagamento médio, segundo ele, foi de um pouco mais de US$ 1.

Essas gorjetas podem ser pequenas, mas a visão de Sullivan é grande: acabar com o modelo de publicidade na internet substituindo-o por um sistema de micropagamentos altruístas. 

Outras inovações tecnológicas estão fazendo a diferença para baristas e outros empregados de balcões. Uma empresa, a DipJar, criou uma caixinha eletrônica – quem paga o café, sorvete ou pãozinho com cartão de crédito pode inserir o mesmo cartão em um recipiente ao lado para debitar a caixinha, geralmente de US$ 1.

No ano passado, a DipJar conseguiu US$ 420 mil de investidores para expandir sua presença, indo de cerca de 20 locais de teste para 500 nos próximos meses.

 

O restaurante Dos Toros, de Nova York, adotou o sistema de pagamento digital para estimular gorjetas discretas/ Fotos: Nicole Bengiveno 

"Quando ouvimos falar sobre a DipJar, pensamos: 'Isso é uma dádiva'", disse Leo Kremer, um dos fundadores da Dos Toros Taqueria, pequena cadeia de restaurantes mexicanos apenas com serviço de balcão, em Nova York. A empresa recentemente acabou com gorjetas pelo cartão de crédito para transações abaixo de US$20, pois acredita que alguns clientes achavam "presunçoso". Segundo ele, a DipJar "pode gerar mais gorjetas de uma forma não intrusiva."

Muito mais ousados são os sistemas baseados em tablets que forçam a questão, apresentando aos consumidores uma lista de generosas opções antes que a transação seja concluída.

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