5 pontos de atenção para quem pretende investir em microfranquias
Diferencial é o valor inicial até R$ 105 mil, opção mais barata para empreender que voltou a ficar em alta na pandemia. Mas não se deixe levar apenas pelos pontos positivos
As microfranquias costumam ganhar impulso com as crises. Muitos dos que investem nesse formato são profissionais recém-desempregados, que querem se manter ativos por meio do negócio próprio, e escolhem aplicar a rescisão em algo que dê retorno financeiro no curto ou médio prazos.
Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostram como o modelo, que inclui home based (que não exige ponto comercial) e opera com 562 redes no país, se mostrou totalmente adaptável aos períodos marcados por medidas restritivas ao longo de mais de um ano e meio de pandemia.
O formato, cujo investimento inicial é inferior a R$ 105 mil, ampliou sua participação no mercado de 7,1% para 10,3% somente no primeiro trimestre de 2021, enquanto o franchising total recuou 4%. Mas vale reforçar que não é possível se deixar levar apenas pelos pontos positivos.
Embora as microfranquias sejam mais simples de operar, os riscos, direitos e deveres de assumir uma operação do tipo são os mesmos das grandes redes - e isso inclui a necessidade de franqueadores e franqueados seguirem rigorosamente o que prevê a Lei de Franquias.
Veja a seguir cinco pontos de atenção destacados por Lyana Bittencourt e Luis Henrique Stockler, a CEO e o diretor de gestão de redes do Grupo Bittencourt, que podem ajudar na decisão do empreendedor interessado em investir no formato:
VALOR MENOR NEM SEMPRE É SUFICIENTE
Para quem pretende investir em uma microfranquia, o ideal é avaliar se a estrutura da franqueadora e o suporte oferecido vão suprir a inexperiência desse franqueado em aspectos vitais para atingir os resultados.
Lyana Bittencourt lembra que, na maioria dos casos, como em um modelo home-based, por exemplo, o franqueado, sozinho, tem de prestar serviços, prospectar clientes e ainda cuidar da administração simultaneamente.
Por isso, orienta, é importante ter em mente que, além das vantagens, há desafios, e que uma baixa taxa de investimento inicial nem sempre é suficiente. Sem contar que o empreendedor deve ter um capital de giro para sustentar o negócio nos primeiros meses, ou até que atinja o ponto de equilíbrio.
"É essencial fazer um planejamento financeiro, e avaliar se atenderá suas expectativas de ganho", afirma.
CUIDADO COM O IMPULSO
Não é porque o mercado de trabalho está vulnerável que é preciso pressa: por menor que seja o desembolso, a decisão de investir em uma microfranquia tem de ser bem pensada, reforça Luis Henrique Stockler.
Também é preciso buscar informações detalhadas sobre a rede, consultar associações que regulam o franchising e, principalmente, os franqueados, para saber se o franqueador é sério e sua proposta, consistente.
"Picolé se compra por impulso. Mas investir num negócio não é uma satisfação momentânea: uma microfranquia é um projeto para longo prazo e, por isso, exige planejamento e cuidados", destaca.
SEM TÉCNICA, NADA FEITO
O boom de empreendedorismo puxado pela pandemia deixou o país muito propenso para o modelo de microfranquias, segundo Stockler. "Mas olhando os novos CNPJs, ainda é baixíssima a concentração desse modelo em serviços especializados, como pequenos reparos", conta. Ou seja, há espaço para crescer."
Muitos brasileiros que têm aptidão para esse tipo de serviço, e muitas vezes vivem desses bicos, acabam, por afinidade, optando por investir nesse modelo quando querem empreender, lembra.
Mas habilidade não é tudo - principalmente em modelos de microfranquia que vêm ganhando espaço, como as de painel solar, de hidráulica ou elétrica. Portanto, procure saber antes, como potencial franqueado, se a rede tem estrutura e tecnologia para oferecer treinamento técnico específico e certificação.
Se não houver, fuja. "Muitas microfranquias aparecem 'pegando' profissionais com habilidade, mas sem técnica. Em caso de problemas, imagine o prejuízo para esses franqueados e seus clientes...", alerta Stockler.
CÓPIAS NÃO SOBREVIVEM
Franquia de personal trainer só para idosos. De dog-walker. De assistência técnica de celular por delivery. A criatividade do empreendedor brasileiro para sobreviver não tem limites e vem transformando o setor de serviços, então, quem quer se estabelecer com uma microfranquia não pode perder tempo.
Com a economia voltando a rodar, e a vacinação avançando mesmo a passos lentos, esse é um bom momento para investir. "Quando o mercado aquecer, não haverá espaço vago por muito tempo", diz Stockler.
Portanto, observe onde há carência de algum serviço, e saia na frente. "Se não tem franquia no seu bairro, implante você. As pessoas adoram o efeito manada, mas quem sobra é quem faz primeiro", destaca, citando como exemplo a bolha das paleterias mexicanas, hoje resumida à marca pioneira.
"Quem copia dificilmente sobrevive. Por isso, só há dois caminhos: inovar ou sair na frente."
TEM QUE DAR MATCH
Franquia é casamento. E quando dá certo, nem a recessão separa. Mas, microfranquia ou não, é essencial o franqueado se identificar com a marca, pois ela depende do seu empenho para sobreviver.
Ou seja: não adianta só querer ser microfranqueado. É preciso conhecer bem a rede, o que oferece, e entender quais os desafios do dia a dia para saber se existe 'química' com o modelo de negócio.
"Senão, a chance de não ter sucesso cresce exponencialmente", conclui Stockler.
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