2016, o ano que não quer acabar

Está sendo um ano atípico, em que a sucessão de acontecimentos políticos, econômicos e sociais mantém a sociedade em suspense permanente, com a incerteza provocada pelos fatos e das perspectivas deles decorrentes

Marcel Solimeo
09/Dez/2016
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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Dezembro, normalmente, é um mês sem muitas novidades, em que o comércio está preocupado com as vendas de Natal, e as empresas dos demais setores estão fazendo planejamento para o ano seguinte, ou trabalhando em ritmo menos acelerado.

Seus funcionários começam as confraternizações e o Congresso aprova medidas que faltam para “limpar a pauta” de assuntos pendentes.

2016, no entanto, está sendo um ano atípico, em que a sucessão de acontecimentos políticos, econômicos e sociais mantém a sociedade em suspense permanente, com a incerteza provocada pelos fatos e das perspectivas deles decorrentes.

Acontecimentos do final de 2015, a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no ministério da Fazenda e a aceitação do pedido de impeachment da Presidente Dilma por parte da Câmara provocaram grande incerteza no início do ano em curso, enquanto a economia apresentava forte desaceleração, com a queda significativa da produção industrial e a retração das vendas do varejo.

Ao mesmo tempo, a inflação estava em trajetória de elevação e o desemprego já atingia quase nove milhões de trabalhadores.

A confiança de empresários, trabalhadores e consumidores despencava devido à incerteza do cenário político e da condução da economia, quadro que foi se agravando na medida em que processo de impeachment avançava, até que em maio, com a aceitação da admissibilidade do pedido, ocorreu o afastamento da presidente Dilma e assumiu em caráter interino o vice Michel Temer.

Essa mudança gerou expectativas positivas, refletidas nos índices de confiança, mas logo ficou claro que o caráter de interinidade e a necessidade de evitar atritos com o Congresso até o final do processo, impediam o presidente interino de adotar medidas mais fortes, embora tenha definido uma equipe econômica que transmitia confiança.        

Com a confirmação do impeachment em agosto e assumindo em caráter definitivo, o presidente Temer parecia mais fortalecido e com condições de aprovar mais facilmente medidas mais duras, o que não se confirmou devido ao “presidencialismo de coalizão” exigir muita negociação e muitas concessões para a classe política.

Durante todo o ano tivemos fatos marcantes no tocante à Operação Lava Jato e outras, envolvendo políticos, autoridades e empresários, e que vem revelando para a nação estarrecida a amplitude e os valores astronómicos dos inúmeros esquemas de corrupção que saquearam o país nos últimos anos.

Nesse meio tempo tivemos ainda o afastamento de seu cargo, do  presidente da Câmara, Eduardo Cunha e a posterior cassação de seu mandato.

Também houve a aprovação da PEC 241 por parte da Câmara e em primeira votação no Senado, sinalizando a possibilidade de começar 2017 com algum controle das finanças públicas, embora modesto.

Ao chegar ao último trimestre de 2016, alguns indicadores da atividade econômica começavam a mostrar tímidas melhoras.

A inflação desacelerava rapidamente, e a taxa Selic começava a ser reduzida e a perspectiva era de aprovação tranquila da PEC do teto dos gastos públicos em segunda votação. Isso sinalizava um fim de ano um pouco mais tranquilo e abria esperanças mais otimistas para 2017.

Eis que em uma decisão monocrática e intempestiva o ministro Marco Aurélio de Melo, acatou liminar afastando Renan Calheiros da presidência do Senado, criando uma incerteza quanto à votação da PEC 241 (PEC 55 no Senado), o que comprometeria o esperado início do ajuste fiscal gradativo e dificultaria novas reduções das taxas de juros.

Não se discute o mérito da medida, mas não havia urgência que justificasse a decisão, que acabou gerando ruído nas relações entre os poderes legislativo e judiciário.

Felizmente o Supremo, em decisão do plenário, encontrou uma solução salomônica que permitiu a manutenção de Renan na presidência do Senado, o que parece assegurar que será mantido o calendário da votação da PEC do teto dos gastos no próximo dia 13, com o que se poderia esperar um fim de ano tranquilo no tocante à política.

Parece, no entanto, que as emoções e preocupações de 2106 ainda não acabaram porque se espera pela “delação do fim do mundo” dos diretores da Odebrecht, que deve atingir de forma bastante ampla a classe política e que poderá ter desdobramentos inclusive sobre a governabilidade.

Assim, 2016  parece que não quer acabar. Como diria Galvão Bueno: “HAJA CORAÇÃO”.    

 

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