Dólar tem nova alta e agora vale R$ 3,74
Desde o início do ano, a moeda norte-americana se valorizou 11,39% sobre o real. Economistas apontam quem é prejudicado com a cotação atual
A desvalorização do real frente ao dólar se manteve pelo sexto pregão consecutivo e a moeda norte-americana fechou a sexta-feira, 18/05, valendo R$ 3,74, com um aumento de 1,04% em relação ao dia anterior.
A alta acumulada da semana ficou em 3,85%. Desde o início do ano, a moeda norte-americana se valorizou 11,39% sobre o real.
Em anúncios de casas de câmbio de São Paulo, o dólar turismo, usado para quem vai fazer uma viagem internacional, estava sendo vendido a R$ 3,93, nas ofertas mais baratas para a compra de dinheiro vivo (papel-moeda). Já para compra de dólares na forma de cartão pré-pago, o preço de venda variava entre R$ 4,09 e R$ 4,10.
Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter os juros básicos da economia brasileira em 6,5% ao ano, numa tentativa de lidar com o aumento da volatilidade internacional de capitais.
A desvalorização do real também pode ter influenciado a decisão do BC de manter a taxa Selic no mesmo patamar, uma vez que dólar mais caro pode significar aumento da inflação no médio prazo, devido ao encarecimento de produtos e serviços importados em moeda estrangeira.
O Banco Central também vem tentando conter a volatilidade no mercado de câmbio com ajustes na comercialização de swaps, equivalentes à venda de dólares no mercado futuro.
Desde o começo da semana, a autoridade monetária iniciou a oferta diária de rolagem integral de 4.225 contratos de swaps.
Além disso, passou a fazer a oferta adicional de 5 mil novos contratos ao longo do mês e não apenas ao final, como estava previsto. A ideia, com isso, é manter aplicações em dólar no país, evitando a fuga da moeda que impacta na desvalorização do real.
IMPACTO DAS ALTAS
As sucessivas altas do dólar podem impactar nos preços de insumos importados e na geração de emprego, mas os preços nos supermercados devem ser afetados de forma leve, segundo avaliação de economistas.
O economista Jackson De Toni, que é gerente de Planejamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), diz que a alta do dólar deve impactar em todas as commodities internacionais que estão vinculadas à moeda americana.
“Todas as áreas que dependem de importação de insumos, produtos ou manufaturados que vêm do exterior, por exemplo, os componentes básicos da indústria farmacêutica, o trigo importado, vemos também nos preços dos combustíveis”, avalia.
Segundo De Toni, a geração de empregos no futuro também pode ser afetada.
“O aumento de custos que as empresas têm em relação ao dólar aumenta o preço aos consumidores e vai comprimir o lucro das empresas. Isso pode diminuir no futuro a capacidade que essas empresas têm para investir, que vem da receita que elas tiveram no passado e o que vai diminuir uma geração de empregos menor no futuro”, avalia.
Para ele, outra consequência do aumento do dólar é que as empresas brasileiras estão endividadas em dólar, principalmente as de médio e grande porte que tomaram empréstimo para aumentar oferta. “Isso afeta sua capacidade de pagamento em dólar”.
VIAGENS
O professor de Finanças da FGV EAESP Cesar Caselani alerta que quem vai viajar ao exterior deve ficar atento com essa volatilidade muito grande no câmbio, e redobrar o cuidado com relação ao custo da viagem.
“A pessoa vai ter que tomar muito cuidado para depois não ter surpresas desagradáveis na volta da viagem, especialmente se for usar o cartão de crédito, o que eu não recomendaria. Levar a moeda em espécie e já garantir uma taxa de câmbio seria melhor”, sugeriu.
Ele aconselha que as empresas, especialmente as que têm qualquer tipo de dívida em dólar, devem tentar reduzir o endividamento, já que o risco que atual em relação ao câmbio é muito alto.
Para ele, a economia deve retomar lentamente nos próximos meses.
“Imagino que a gente vá caminhar assim nos próximos meses, daqui a pouco temos uma Copa do Mundo, e o país tende a parar neste evento; depois nós temos essa indefinição com as eleições e isso cria um misto de desalento com expectativa. Essa espera vai minando os investimentos e até mesmo a procura de emprego”.
SUPERMERCADOS
Já o economista da Associação Paulista de Supermercados (APAS), Thiago Berka, considera que os preços nos supermercados poderão ser impactados de forma leve pelas constantes variações cambiais do dólar apresentadas recentemente, porém não será o suficiente para aumentar o índice de inflação mensurado no setor, que deverá permanecer contido nos próximos meses.
“Eventuais aumentos de preços serão sentidos em alguns grupos de produtos, já que invariavelmente há aumento nas commodities, produtos importados ou que possuam ingredientes importados em seu processo de fabricação”, ressaltou Berka.
Segundo a entidade, um possível aumento pode ocorrer de forma mais branda e especialmente no segundo semestre do ano, já que historicamente, a partir de um câmbio de dólar cotado por mais de 15 dias seguidos a mais de R$ 3,70, houve correlação leve no aumento dos preços no setor.
Um dos produtos que pode sofrer impacto é trigo, por ser importado e ter seu preço fixado em dólar, por ser uma commodity. “Como é matéria prima de massas e panificados, este grupo de alimentos costuma ser um dos principais a apresentar variações”, comentou o Berka.
Artigos de higiene e beleza e produtos de limpeza, que podem ser fabricados com componentes químicos derivados do petróleo e, portanto, importados e cotados em dólar, também podem sofrer com a alta do dólar e ter um leve repasse nas prateleiras.
Com relação às carnes, o câmbio em alta torna a exportação atrativa para a agroindústria brasileira, mas o embargo que as aves vêm sofrendo na União Europeia fez com que houvesse aumento na oferta no mercado interno de frango e derivados, resultando em redução de 14% no preço desses produtos no primeiro quadrimestre de 2018.
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